Resultado do confinamento é umha bonita e interessante iniciativa que todos os domingos se está a celebrar no Galitwitter. A #wildflowerhourGZ reune amadoras da nossa botânica que partilham imagens, curiosidade ou informaçom científica da nossa flora selvagem. Da nossa incapacidade geral para reconhecermo-la, da sua escassa protecçom e de outros temas relativos à nossa botânica falamos com o impulsor da iniciativa. Tino Quintela, um homem que confesa padecer de “amor plantônico”.

A wildflowerhourGZ é umha iniciativa para visibilizar a nossa rica flora silvestre. Como e quando se che ocorre a ideia?

Lancei a iniciativa da #wildflowerhourGZ (ou #HoraDaFlora) em maio de 2020. Podo dizer que foi um produto do confinamento pola COVID. Gosto muito da natureza e adoitamos sair com as nossas crianças fazer percursos ou simplesmente tomar o ar. Estar fechados durante semanas na casa ainda fazia mais necessária a natureza. Durante o confinamento, desfrutei muito de imagens de plantas que a gente das ilhas británicas partilhava numha iniciativa semelhante. Entom pensei em fazer algo assim na Galiza. Nom sou influencer nem nada semelhante, polo que nom sabia se isto ia dar nalgo, ou se alguém se ia sumar. Afinal todas as semanas (a #wildflowerhourGZ fai-se os domingos de 20 a 21 horas) e há no mínimo 5 pessoas que achegamos um anaco de biodiversidade à rede, e isso fai-me feliz.

No contexto anglosaxom existem iniciativas semelhantes, podes falar-nos um bocadinho delas?

A #HoraDaFlora nace como cópia de umha iniciativa (#wildflowerhour) que leva anos a funcionar na Grande Bretanha e Irlanda. A dinámica é compartilhar semanalmente imagens de plantas silvestres floridas essa semana. Esta dinámica mais geral complementa-se com “reptos” semanais, como pedir à gente que partilhe imagens dumha determinada família vegetal ou com alguma característica (p.ex. pilosidade em caules, folhas ou flores). Isto complementa-se com iniciativas de ciência cidadá, como a que realizam todos os primeiros de ano, nos que pidem à gente que vai ao monte que realize mostragens singelas para ver quê plantas estám a florir, e com esses dados ver se está a haver um adiantamento nos períodos de floraçom como resposta à mudança climática. Em relaçom à #wildflowerhour británica, também surgiu outra iniciativa (#wildwebswednesday) para visibilizar o rol básico das plantas nos ecossistemas e as relaçons que outros organismos (principalmente animais) estabelecem com as plantas: polinizaçom, herbivoria, parasitismo… Aparte destas duas iniciativas que promove a BSBI (Sociedade Botânica da Grande Bretanha e Irlanda), existem duas outras contas individuais de twitter que eu gosto que som @morethanweeds e @concretebotany. Estas duas contas adicam-se à flora urbana, às “más ervas” que saem nos muros e nos passeios, e que som sistematicamente eliminadas em aras da limpeza e salubridade das vilas. Afinal, nos lugares mais transformados polo ser humano também há vida, e muitas vezes é preciosa!

Que nível de conhecimento e difusom achas que tem a nossa flora? E protecçom?

Eu diria que o nível é baixo, nos dous aspectos, que estám mui relacionados. Se se conhece pouco a flora, também há menos pressom social e menos esforços para que a administraçom faga efectiva a sua proteçom. E assim, temos espécies vegetais únicas, como podem ser os endemismos Santolina melidensis e Armeria merinoi, que estám em perigo crítico de extinçom sem que a administraçom galega esteja a fazer nada por mudar esta situaçom. Este problema nom atinge apenas à Galiza, mas é extendido a todas as sociedades industriais. Tam extendido é que investigadoras do vegetal já criaram um termo “plant blindness” para falar da incapacidade que tem a gente para reconhecer que as plantas som seres vivos e nom elementos da paisagem como montanhas ou edifícios, para distinguir entre diferentes plantas ou para se decatar do rol no ecossistema e a dependência que temos a gente das plantas. A guia da flora da Galiza do Xosé Ramón García (em Gerais) dá 1386 espécies vegetais silvestres (ou naturalizadas) no nosso país. Quantas conhecemos? Quantas somos capazes de distinguir? Poderia dizer que a #wildflowerhourGZ é umha iniciativa para luitar contra essa cegueira vegetal. E de facto, gostei muito de algumha conversa virtual onde pessoas que nom conheço de súpeto reparárom em plantas que medravam a carom da sua casa logo de ver algumhas das imagens que a gente partilhou.

As rrss som umha ferramenta de difusom em que se apoia a tua iniciativa. Que outros meios achas de interesse para a “pedagogia” da nossa flora?

Além do twitter, existe um grupo de Facebook chamado Biodiversidade GZ-PT formado por umha comunidade galegófona de amadoras da biodiversidade (especialmente de flora) e algumha científica. Esta comunidade criou-se em paralelo com a base de dados colaborativa http://biodiversidade.eu . Essa base de dados está aberta a quem queira somar-se e, além de poder partilhar as tuas observaçons de natureza, também serve para ver se há espécies ameaçadas presentes na tua zona ou como consultório onde poder confirmar ou identificar seres que nom conheces com a ajuda de umha série de expertas que voluntariamente se preocupam de gerir esse sítio. Desde aquí animar a que a gente contribua para http://biodiversidade.eu tanto com observaçoes como (se quiser) com achegas económicas para o mantemento do sítio de internet e para melhoras futuras (como a criaçom de umha aplicaçom de telemóvel). Animo a toda a gente que quiser a dar-se de alta nesse web e começar a achegar as suas observaçons de plantas.

Que curiosidades ou caracteristicas próprias destacarias da nossa flora selvatica?

Sobre a flora galega diria que tem duas cousas especiais: a primeira é que pola posiçom geográfica da Galiza, estamos na zona de contato ou limite das duas principais bioregions da Europa (a Eurosiberiana e a Mediterrânea). Isto fai que tenhamos umha mestura de espécies desses dous mundos, e que segundo variaçons locais do clima poidam convivir sobreirais mediterrâneos no rio Arnego (bacia do Ulha) com vegetaçom de turbeiras de cobertor (próprias de Escandinâvia) na serra do Gistral.

Por outra parte, a flora galega nom é umha flora virgem, senom o resultado de impactos humanos durante milheiros de anos. Isto fai que muitos dos elementos interessantes da flora imos topá-los em áreas abertas (como as matogueiras) que muitas vezes nom som valoradas na sua justa medida. A mudança na ocupaçom e uso do território nas últimas décadas está a ter um impacto grande sobre esses elementos especiais.

Como lhe afecta o problema dos incêndios, os ervicidas ou o desbroce incontrolado?

Nom som um experto sobre esses temas, polo que as minhas opinions podem estar trabucadas. Eu acho que os três problemas que nomeas têm um impacto importante e negativo sobre a flora, se bem os incêndios estám a ter umha maior influência dada a enorme superfície queimada no nosso país cada ano. Além disso, os incêndios ocorrem ou bem sobre lugares já mui alterados previamente (plantaçons de pinheiros e eucaliptos) ou em zonas que som incendiadas com demasiada frequência, o qual nom permite a regeneraçom da vegetaçom depois da queima. Para controlar possíveis incêndios, está a se estender a roça das margens de caminhos, pistas e estradas, o qual supom umha grande perda na nossa paisagem mais cotiá (estes últimos anos há que buscar mais para topar as ervas de Sam Joám!). Para mim o uso de ervicidas tem um paralelismo com o uso indiscriminado de antibióticos e os efeitos negativos que estám a ter sobre a saúde pública. Além do seu impacto negativo sobre a flora, a aplicaçom de ervicidas favorece a longo praço a apariçom de variedades resistentes que ponhem em perigo os nossos cultivos futuros. A isto soma-se que um dos ervicidas mais usados (o Roundup) está a ir da mao de variedades transgênicas resistentes a este ervicida que afundam ainda mais num modelo de agricultura industrial nada respectuosa com a biodiversidade.

Obrigado por dar-me esta possibilidade de apresentar a #widlflowerhourGZ. E animar à gente a somar-se à #HoraDaFlora e a sair às ruas e aos montes com os olhos abertos cara a biodiversidade que florece para nós.