Seja adrede ou nom, muita da gente confunde os juízes coa justiça, os curas com Deus, a esquerda co progressismo e o tempo coas suas dimensons. Assim as pessoas se afám a desconfiar da justiça, de Deus, da política e do relojo (Parafraseando a Alphonse Karr)
Há algum tempo formulei um paradoxo que deu título a um poemário: A destempo no tempo. Dizia no limiar, “pareceu-me interessante tratar de desenfiar por que agimos e como o fazemos, caindo tantas vezes nos mesmos erros, por muito que nos laiemos. A mocidade mais nova quer que o tempo apure o seu ciclo e a maturidade mais madura quer a calma para sempre. O que figemos, a miúdo, também nos recorda o que deixamos de fazer. O que pudo ser e nom foi é um pensamento recorrente nas nossas vidas. O passado é um condicionante do presente e o futuro, umha incógnita aparentemente resolta no “definitivo”.
Dito doutro jeito: a vida é agora, o demais som recordos ou contos chineses. É coma se no nosso existir estivéssemos, case sempre, fora de tempo ou num momento pouco ajeitado, é dizer, a destempo…
A entradinha que figem vem a conto por que hoje vou falar do nosso sindicato -sim, da CIG- e precisava desta analogia para argumentar, entre outras cousas, algo que quero dizer. Nom vou fazer referências ao que estades fazendo agora, senom do que deixamos de fazer, os e as que por idade nom estamos em condiçons de representar essa força que os trabalhadores e trabalhadoras dérom a central sindical na Galiza. Som da colheita do 51 do século passado. Tivem oportunidade e quigem participar no síndicalismo nacionalista galego desde os primeiros germolos. Nom gosto de contar “batalhinhas” doutras etapas do nacionalismo galego e tampouco tenho acomodo na filosofia do “a viver que som três dias”. Quero pensar na nossa utilidade para o projeto hoje à margem da dialética histórica e da herdança que deixamos. É um dever que devemos concretizar em qualquer das estruturas do centro de trabalho, locais, comarcais, ou federativas. Aló onde a nossa experiência poda ajudar e seja solicitada, temos que estar, o demais nom tem interesse para o projeto coletivo. Isto sim é esquerda.
Nom quero dedicar o meu tempo de jubilado a formar parte de nengum tribunal em companha de 11 companheiros e companheiras ou de 111, que mais dá qual for a quantidade para julgar sem piedade o que estades a fazer, e mais quando se fai desconhecendo, intencionadamente, as dificuldades que tem hoje a classe trabalhadora. Eu quero colaborar, debater e seguir na luita. Animo a fazê-lo! Preciso deste novo espaço mas jamais me juntarei com ninguém, situando-me na cimeira para mitificar o passado e criticar o presente. Nom o farei, por ter aprendido na prática que muitos dos confrontos, ao final, sono por questons pessoais à margem do contexto, seja este sindical, político, da convivência, etc.
O caso é que o mundo de quando em vez funciona assim, e que por mais que acreditemos que a verdade é relativa, sempre poderemos encontrar a alguém de boa oratória que nos convença, de novo, de todo o contrário. A competência é sempre imperfeita tanto na economia como nas organizaçons.
Como afirmei no último artigo, econtramo-nos numha encruzilhada de crises. Esquecim daquela o que está a pasar nesse território ainda por descobrir e concretizar hoje, chamado, esquerda. Ainda que já tinha nas minhas entendedeiras algo do conteúdo deste artigo.
Estou convencido de que estamos diante dum empobrecimento político e cultural da sociedade, um afundimento da consciência obreira, que se foi acelerando cada vez que a classe obreira sofria umha nova derrota baixo as açons das forças dominantes e geridas daquele jeito, graças ao colaboracionismo de classe das direçons históricas do síndicalismo espanhol maioritário (tanto de CCOO como da UGT), isso sim, em nome dessa esquerda acomodatícia que tanto vale para um rachado como para fazer de costureiro. As direçons sindicais destes dous sindicatos espanhóis jogárom ao possibilismo dum cámbio, mas nom mostrárom nengumha intençom de opor-se às orientaçons neoliberais dos sucessivos governos.
Neste novo século, as novas organizaçons que surgírom no mapa político nom chegárom a modificar a dinâmica geral porque no melhor dos casos seguírom sendo parciais (muita denúncia e poucas propostas), quando nom verticais, na gestom da ferramenta organizativa que construírom. Assim as cousas, a realidade demonstra que os câmbios deveriam começar por quem predica porque, de nom ser assim, todo se torna mais tortuoso, podrecido e descrido.
Agora chega o tempo das ruturas geracionais, assim como o furado entre as e os trabalhadores que tenhem ainda um contrato formalmente normal (ainda que com menos garantias) e o espaço cada dia mas amplo do trabalho precário e informal; a transmisom entre militantes do conhecimento e da solidariedade viu-se também interrompida. Os sindicatos maioritários, aos que responsabilizo na dinâmica do Estado, fôrom cada vez menos escolas de crítica fundamentada do sistema capitalista e da formaçom da consciência de classe; chegou-se assim ao paradoxo de que muitos membros da esquerda aceitam a inconsistência no discurso e a prática insolvente, sem problemas.
Compreender esta dialética social permite concretizar também as razons do que está acontecendo na esquerda e também dos nacionalismos que precisárom pôr o intermitente cara a essa direçom. O papel polarizador da classe obreira case esgotou; as reestruturaçons capitalistas produzírom divisons crescentes entre os diferentes sectores laborais; a precariedade ia aumentando, e a credibilidade das soluçons coletivas agachou de súbito porque cada conflito sindical foi perdendo algo no seu caminhar. O individualismo e a procura de soluçons individuais formavam parte da propaganda ideológica e dos seus modelos, e fôrom aparecendo cada vez com maior frequência como a única soluçom ganhadora, ou polo menos a única via possível.
Os meios de comunicaçom privados, mas também as cadeias públicas e todos os partidos, em certo jeito, realizárom um enorme trabalho para promover novos relatos, ou seja, novas interpretaçons mistificadas da realidade, incluído o mito de fazer-se a um mesmo. A nível político, todo o mundo se puxo a buscar o líder, a quem saísse vitorioso da promoçom polos meios de comunicaçom. Liderados com nome de “efeito”, levamos umhas quantos dos que estivérom no poleiro da esquerda, mas a festa sempre tem que rematar muitas das vezes com um efeito contrario. Suponho que recuncar desta trucagem mediática é um síntoma da enfermidade na esquerda.
O problema da corrupçom reflete um mal endémico e a prioridade política da luita contra deste assunto via exclusiva da justiça, sem outra análise das causas que a protegérom, alimentárom e a deixárom fazer com cumplicidades em nome da esquerda, é umha caleja sem saída. Já miraremos que passa co Emérito e tantos outros dos casos.
É certo que as transformaçons produtivas modificárom algumhas características do mundo do trabalho; em realidade, a classe obreira nom desapareceu em absoluto (é um invento ideológico), mas os sectores que a conformam vírom-se sem conexom, sem organizaçom, porque desde a esquerda esse combate foi declarado secundário ou de pouco interesse.
Nom sei se os acontecimentos de hoje darám a derradeira oportunidade para a esquerda de responder às expectativas da classe trabalhadora. As devanditas expectativas, nom devemos enganar-nos, estám congelados tanto polo esgotamento da experiência coma das novas consultas eleitorais. Da nova recomposiçom política ao estancamento e agora a frustraçom com um governo de esquerda em coaligaçom. Caminhamos polo vertedoiro da esquerda e quiçá, de novo, teremos que aguardar a que apareça umha força alternativa de esquerda que faga propostas de utilidade para a classe trabalhadora e afaste definitivamente do pacto social da representaçom sindical que o fijo desta norma a cerna nas relaçons laborais do Estado espanhol. As diferentes crises que estamos sofrendo ponhem de manifesto a necessária recomposiçom dumha esquerda anti-capitalista e dum nacionalismo conseqüente coa realidade. Ainda estamos no túnel e sem ver a luz da saída. mas estou certo de que o mundo que veremos quando saiamos será mui diferente. Haverá ganhadores e perdedores. As políticas sanitárias, económicas e sociais que se apliquem hoje determinarám o amanhá.
No cinema, a ficçom pode permitir, que todas e cada umha das provas sejam rejeitadas e que se poda convencer um a um a todos os membros dum júri. Mas na realidade da vida, a esquerda nom pode seguir permitindo esse condutismo dos liderados forjados fundamentalmente nos meios de comunicaçom e nas redes sociais. É a destruçom da esquerda.
(1) A piedade vem da palavra pietas latina. Defíne-se a pietas como um sentimento que impulsa ao reconhecimento e cumprimento de todos os deveres, nom só os de carácter espiritual, coas nais e pais, a pátria, os parentes, as amizades, senom com todos os seres humanos.