O velho ‘to be or not to be’ do drama shakespeariano deixou há tempo de ser um monólogo metafísico para trocar-se numha realidade quotidiana ; hoje, ainda os homens de escassa ilustraçom decatam-se de que a personalidade, quanto mais destacada, e quanto mais diferenciadas se manifestam as culturas, mais meritórias e mais dignas de admiraçom som. Só numha certa classe de homens conserva ainda certo prestígio o ideal de mediocridade, devido ao pobre desejo de justificar a sua pópria e eivada personalidade.
Nom seria merecente de crítica algumha este cativo degaro se nom fosse que estes homens, que endejamais se propugérom a si mesmos o dilema do SER OU NOM SER, adoitam umha agressiva e injustificada atitude toda vez que se trata de reconhecer-lhes méritos, ou ainda que nom seja mais que de mentá-los, aos que mais decididos e mais conscientes que eles, tomárom o caminho direito d a própria e baril reivindicaçom. Tal é o que se passa com respeito ao que eles chamam separatistas por parte dos que a si mesmo se denominam regionalistas.
Esta xenreira xurde, fora de dúvidas, do subconsciente sentimento da própria inferioridade que todo regionalista tem que sentir frente qualquer separatista, ainda que for mais instruído que ele, porque, ilustrado ou nom, há em todo separatista umha fe no seu próprio ser e no do seu povo que nenhum regionalista pode sentir; pois que tacitamente, o regionalismo aceita a mediatizaçom dumha cultura alheia que forçada ou voluntariamente tenta apresentar como própria. Esta é umha verdade tam evidente que nom precisa mais ampla demonstraçom. Todo regionalista, bem considerado, é um personagem de opereta, basea-se simplesmente no tipismo aldeao, de um ridículo e simiesco provincialismo para justificar o seu modo de ser; a sua apoteose culmina, quanto mais, num desfile carnavalesco, como aquele que fixérom todos os alcaldes de Hespanha. Polas ruas madrilenas, para ledice do seu amo e senhor Primo de Rivera.
Suponhamos um regionalista basco que concentre todo o seu patriotismo em passear-se por Madrid com a sua boina na cabeça, um catalám com a sua barretina, e um galego…um regionalista galego nom chega nem a isso tam sequer, conforma-se com falar, por vezes de LA TIERRIÑA MEIGA. Suponhamos ainda, como diz Ortega y Gasset do basquismo e do catalanismo, chegaram estes regionalistas a fazer do seu tipismo umha cousa de moda, de ocasional adaptaçom e de transitória originalidade, em toda Hespanha, que comparaçom pode ter este superficial e desprezível ideal, com o firme e baril desejo dos separatistas de fazer da Galiza, da Catalunha ou a Bascónia, povos livres e criadores dumha própria e alta cultura nacional?
Mais nom está nisso, nem tampouco nas razons históricas que os separatistas exponhem e na pública proclamaçom das enormes injustiças do presente desastroso estado a que os submete por força o centralismo hespanholista, o motivo da xenreira que lhes amostram sempre os regionalistas SANOS y BIEN ENTENDIDOS; está, como dixemos acima, no sentimento da sua própria inferioridade pessoal que, para se enganar a si mesma e justificar-se ante os mais, adopta um destemperado cariz agressivo e furibundo.
Sempre passou assim, na Hespanha, com os elementos reaccionários fundamentalmente, entenda-se reaccionários; os exemplos da mais sanguinhenta energia dérom-nos sempre, na Península, os autocratas, imperialistas e unitários; Torquemada, Felipe II e o Duque de Alba deixárom sentada umha sona internacional e imorrente do seu espanholismo a ultrança. Renunciou Salmerón por nom assinar umha sentença de morte, mas Maura consentiu que fusilassem a Ferrer, só para apaziguar as sedes de sangue dos reaccionários; fôrom e seguem a ser brandos e suaves os liberais e brutos e agressivos e conservadores na Hespanha; a toleráncia, a compreensom e a cordialidade amostra-se sempre na parte dos revolucionários. Os regionalistas, por atavismo tradicional e hespanholistas concomitáncias respondem também a esse modo de ser e de manifestarem, ainda que se disfarcem com a máscara do mais falso liberalismo. Um liberal, consciente e fundamentalmente liberal, nom se pode opor a nenhuma classe de separatistas que, como os galegos, apresentem umha razom histórica, cultural e económica que justifique plenamente os seus sentimentos e ideais; o liberalismo, substancialmente implica o reconhecimento e a consagraçom de todo quanto tem um direito natural para existir. Um regionalista que se alporiça frente os separatistas nom pode ser, ainda que pretenda negá-lo e a si mesmo se proclame republicano e liberal, mais do que um simples conservador reaccionário (…)
Publicado originalmente n’a Fouce , nº16, 1930.