Habitamos, neste intre, um contexto mui dado à reflexom, como é umha pandemia mundial e os numerosos efectos sociais, económicos e psicológicos que trae consigo. O confinamento e a desescalada prévia a este Orgulho LGTBIQ+ 2020, assi como a incertidume sobre a posibilidade de celebrá-lo, permítirom gardar um oco para a introspecçom e analizar a realidade do colectivo no marco da Galiza, e assi sacar algumhas pequenas conclusons que me pareceu interesante poder recolher aqui, tentando, sobre todo, relacionar a luita actual por classificar o sujeito do feminismo e a evoluçom do movimento LGTBIQ+.

Mas, primeiro de todo, fagamos um brevísimo percorrido histórico pola celebraçom desta data. O Orgulho celebra-se o 28 de junho en memória dos altercados que se produzírom esse dia no ano 1969 num local de ambiente nocturno de New York, o Stonewall Inn. A história dessa noite está recolhida em numerosos artigos, documentais, películas e livros, polo que nom me pararei a afondar nos detalhes do que ocorreu, mas semelha-me importante mencionar que nom existe um claro consenso em quem iniciou a revoluçom, quem foi a primeira pessoa em enfrontar-se à policia ou quem liderou os distúrbios posteriores, e nom creio que isto seja aleatório. O que si está claro é que o Stonewall Inn era um bar regentado pola máfia desde o 1966 e freqüentado maioritariamente por quem mais discriminaçom sofria (e sofre) dentro do colectivo: trans, negres, travestis e trabalhadoras sexuais. Porém, mália ter sido a primeira linha de enfrontamento, as caras visíveis do movimento, os mais privilegiados, continuárom a ser os homes cis, brancos, homosexuais e de classe meia. Cincuenta e um anos depois, esta realidade nom mudou notoriamente; diria mais, atopa-se neste momento num ponto de inflexom que nos empurra ao retrocesso.

Por que o feminismo branco, cis, burguês e academicista presenta, na actualidade, um interesse tam palpável por limitar os direitos do colectivo trans e das mulheres trans especialmente? A resposta, na minha maneira de percebe-lo, radica numha questom de renúncia aos privilégios. Os homes dos que falamos, que lideravam o “movimento de libertaçom gai” a finais dos 60, pugérom muita resistência para abandonar o seu “posto de honra” na opresom, seguramente por medo a que renunciar a certos privilégios e reconhecer-se opressor significara ter que renunciar também aos seus espaços de reivindicaçom e luita. Assi mesmo ocorre na atualidade, quando a umha parte do feminismo custa-lhes reconhecer a sua posiçom na pirámide de oprimides, polo medo a ter que compartir os espaços de reivindicaçom e que dessa forma deixem de escoitar-se as suas demandas. Mas, há algo mais detrás destas dificultades des mais vulneráveis para ocupar o seu espaço como vítimas do cisheteropatriarcado?

Na minha opiniom nom podemos esquecer que o capitalismo sempre tenta beneficiar-se dos movimentos sociais, por exemplo do feminismo, mas nom do feminismo de base, tam ligado à diversidade sexual, se nom dum feminismo de lema facilmente vendível desde as suas multinacionais.

Interessa que esse feminismo ou ese movimento LGBTIQ+ visibilice como oprime esse capitalismo a outras identidades?

Som essas identidades comercializáveis e rentáveis ao capitalismo?

Estamos a mercar pinkwashing coma se foram direitos civís?

Todo começa na década dos 80 coa progresiva des-radicalizaçom do movimento. Umha fragmentaçom e des-politizaçom que nos trae até a actualidade. Esta fragmentaçom, inevitavelmente, da lugar também aos Orgulhos Críticos, convocatórias que ponhem de relevo a importáncia de que os nossos espaços sejam anticapitalistas, antirracistas e con perspectiva de classe. Nacem para ofrecer umha alternativa muito mais diversa aos orgulhos multitudinários, representados por figuras normativas, funcionais ao capitalismo e colaboradoras coas macroempresas, que esquecem a interseccionalidade do movimento e que baleiram de conteúdo e perspectiva histórica as nossas reivindicaçons.

Asistimos, na actualidade, a um ascenso da perspectiva institucionalista somada a um novo auge da meritocrácia, onde tentan fazer-nos crer que se as identidades mais dissidentes nom acedem a postos de poder ou a benefícios sociais, porque nom se esforçam/esforçárom o suficiente. Inclusso tentam que creamos que querem aproveitar-se do caminho andado polo feminismo (desde a sua perspectiva ocidental), insistindo em separar duas luitas, reduzindo o sujeito político do feminismo a um tipo de mulher cada vez mais exclussivo e delimitado, suspeitosamente ligado à idea mais tradizional do que supom ser mulher.

Assi, finalmente, em referência ao contexto galego e à nossa realidade peculiar: Aqui, e no tempo no que eu levo acodindo a espaços de militáncia feministas e sexo-diversos, a realidade sempre foi que essas identidades menos privilegiadas das que falamos tivérom e tenhem presença entre as nosas fileiras. Aqui a existência de mulheres trans liderando movimentos sociais nom se percebia como um debate necessário, mais bem dava-se de maneira natural, como é lógico. Mas a realidade é bem triste neste momento. As teorias discriminatórias e basseadas no medo começam a incrustarem-se entre os nossos colectivos como o veleno, e cada vez som mais os discursos de ódio. A contínua alusom à teoria de género da mao da ultradireita deixa agora passo à obsesom polo “hobby queer”. Debate-se sobre o que suporia umha lei de autodeterminaçom de género na violência contra das mulheres, como se na actualidade os homes nom actuaran já impunemente, e precissaram de mecanismos de “engano” para agredir-nos.

Temos que ser conscientes do que ocorre, verbalizá-lo e sinalá-lo. Temos que entender a responsabilidade que supom que os espaços de militáncia (assi como os de lezer, trabalho, criança…) sejam seguros para todes. Devemos defender e espalhar a ideia de que o feminismo e o LGTBIQ+ som luitas inevitavelmente ligadas, porque à meirande parte de nós atravesam-nos complementariamente. Nom podemos mercar a teoria de que som dous projetos paralelos, nem podemos deixar que convertam em liberais as nossas reivindicaçons. Se nós, as privilegiadas, nom nos possicionamos estaremos a perpetuar a opressom. Este debate está enriba da mesa, nas redes e nos colectivos porque é necessário. Agora estamos no momento de dar um passo ao fronte para reivindicar o nosso lugar. O de todes.