(André Gomes Santos) Desde que o nosso país se viu confrontado com a necessidade de organizar o activismo e a denúncia social também na rede, na viragem entre dous séculos, colectivos e pessoas diversas pugérom-se maos à obra para dotar à militáncia de espaços, ferramentas técnicas e noçons teóricas com que adentrar-se no cíber-espaço que, aos poucos, ganhava peso nas nossas vidas. Mas se bem é certo que a socializaçom no uso de webs, correios electrónicos e, posteriormente, redes sociais, foi vertiginosa, nom aconteceu o mesmo com a capacidade de emancipar a comunicaçom das grandes corporaçons. Nesse caminhar costoso topárom-se distintas iniciativas.
Um destes activistas digitais temperaos foi David Bruzos, um ourensano que fijo parte do projecto Saramaganta. Com este nome funcionava um servidor que, de 2006 a 2019, forneceu serviços digitais a inúmeros colectivos. Dispunha de ferramentas que estavam ao dispor dos movimentos populares, de listas de correio a um servidor de serviços; todo isso desenhou-se de maneira auto-gerida, e dalgum modo herdava a tradiçom dum hacklab já clássico, o que pugera em andamento a Casa Encantada de Compostela.
David conta-nos que Saramaganta “chegou a ter 100 roldas de correio, e algumha delas acadou as 1000 pessoas suscritas; cada vez que se enviava um correio a umha lista dessas, resultava tecnicamente difícil manter esse serviço sem que fosse marcado como spam polas grandes corporaçons. Estas nunca estivérom interessadas em que houvesse servidores independentes.”
Na actualidade, o servidor mantém-se, mas devido à falta de apoios o funcionamento autogerido retrocedeu parcialmente: houvo que recorrer a umha empresa de baixo custo que mantém “serviços mínimos, e já nom se publicita como serviço seguro de comunicaçons cifradas.”
No sul do país, no Val Minhor, continua umha iniciativa semelhante. Contactamos com A Casa Colorida de Nigrám e Sílvia, umha das coordinadoras, afirma que “som muitas as frentes de trabalho activas, porque abordam o conceito de Cultura Livre, nascido parelho ao de Software Livre.” A ideia que as move é “levar a todos os ámbitos do desenvolvimento humano” essa filosofia: criança, produçom e gestom cultural, alimentaçom, produçom agrária (guiada pola permacultura).
Nestas coordenadas gerais, o mundo das comunicaçons online tem o seu lugar de privilégio. Na Casa desenvolveu-se um HackLab durante três anos, gerido por umha pessoa especializada neste campo, mas “acompanhado por todas as pessoas que faziam parte do projecto coletivo.” Todo o conhecimento gerado no espaço de Nigrám era registado em aplicativos digitais de software livre; alguns já existentes, outros desenvolvidos na casa. Criou-se assim umha plataforma de universidade livre na rede, alimentada por colaboraçons colectivas que nutria o festival Galiza Imaginária. No sul do país, muita gente ainda lembra este encontro como um dos foros mais importantes dos movimentos sociais a ambas beiras do Minho.
A Casa Colorida desenvolveu também umha rede social livre, cujo núcleo originário se inspirou em Lorea, um grupo de desenvolvedores informáticos ligados à Cooperativa Integral Catalá. A semente de Lorea tomou-se emprestada, e adaptou-se ao contexto galego e às necessidades dos colectivos do país. Eram vários os projectos inovadores de importáncia, mas “a falta de capacidade para alojar todo isto num servidor seguro levou a umha aliança com Saramaganta.” Ambas as estruturas apostárom por “partilhar desenvolvimento tecnológico juntas”. Como tantas vezes acontece no trabalho do mundo associativo, a multiplicaçom de ideias e iniciativas nom se deu acomodado aos recursos humanos existentes. Depois de quatro anos, devido à falta de forças, e com o trabalho “ingente” concentrado nas mesmas pessoas, a Casa Colorida decidiu readequar o projecto: na actualidade, o espaço gere um HackLab mais pequeno, “abandonando tecnologias grandes com um grande custo.” O objectivo, porém, nom muda: potenciar software livre, soberania digital, e transmisom de conhecimento livre.
Autogestom tecnológica, além das fronteiras
Obviamente, experiências como as galegas nascem do diálogo internacional. Além das fronteiras estritas do país, e actuando no ámbito da Península Ibérica, associaçons como Críptica tenhem umha dilatada trajectória; “a privacidade é umha questom quer técnica, quer política”, afirmam, e a sua ideia força e fazer confluir ambos os domínios, tantas vezes arredados sem justificaçom nenhuma. Os seus objetivos som promover hábitos e ferramentas que protejam a confidencialidade e o anonimato, a través de ferramentas como talheres, manuais e artigos.
Avogam pelo uso da open source, a criptografia, o cifrado e os sistemas descentralizados e citam várias ferramentas para levar a cabo isto. Para garantir o anonimato na rede, socializam recursos já conhecidos no activismo digital, tais como Tor, VeraCrypt, KeePassXPlugins ou PrivatyBadget; algumhas das aplicaçons que defendem vam dirigidos à telefonia móvel, caso de TextSecure, RedPhone ou ChatSecure.
A Catalunha, dumha maneira especial, leva lustros a funcionar como um laboratório especialmente produtivo para a soberania digital. É especialmente conhecida a iniciativa guifi.net, que no seu web, disponhível em versom galega, se define como “umha rede de telecomunicaçons, e umha rede aberta, livre e neutral, que promove a interconexom entre iguais.” Guifi pertence a todos os seus e suas participantes, pois organiza-se “horizontalmente em lógica cooperativa.” A sua condiçom tam abrangente reúne pessoas, colectivos, empresas, administraçons e mesmo universidades. Em 2008 constituiu-se como “fundaçom privada a prol da rede aberta, livre e neutral”, sem alterar o seu formato fundacional.
A poucos kilómetros no mundo físico, mas separado pola fronteira dos Estados, fervem projectos irmaos: no Estado francês actua Montpel’libre um Grupo de Usuários GNU / Linux e Software Livre que promove , a cultura livre e os bens comuns. Na sua definiçom incluem-se termos como “economia social e solidária, pesquisa e treino, educaçom popular”.
E ainda que sediado na França, o projecto NOTHING2HIDE trabalha com a lógica de ultrapassar as fronteiras, operando em oito Estados (França, Suécia, Indonésia, Burkina Faso, Tanzânia, Turquia, Gana) para missons de “suporte à mídia, capacitaçom e treinamento em segurança digital”.
Desde que o pleno exercício dos direitos de cidadania, no mundo digital que habitamos, nom é possível sem umha mínima alfabetizaçom digital, colectivos como os antes citados resultam básicos para empoderar a militáncia popular. As mais avançadas tecnicamente destas organizaçons nom duvidam em trabalhar para virar transparentes as opacas decisons de governos e corporaçons: eis os objectivos que marca como próprios o Chaos Computer Club(CCC) é uma associaçom de hackers da Alemanha. Segundo recolhe a sua pagina web os seus objetivos mais importantes som “liberdade de acesso à informaçom, liberdade de expressom e a exigência demais transparência nos governos. A sociedade está aberta a todos que se identificam com estes objetivos.”
Ainda que o mundo dos hackers daria para umha reportagem de seu, pola sua especificidade, os limites entre acesso à informaçom sem entraves, defesa da privacidade e acesso a fontes blindadas polo poder, esvaem-se cada vez mais. É mui possível que num futuro cercano toda militante ou activista de rua vire, pola força das circunstáncias, também em cíber-activista.