O jeito como se apresentam as cousas nom é o jeito como som; e se as cousas fosem como se apresentam a ciência inteira sobraria” (Karl Marx)

Se revisamos os textos e informes menos acessíveis da Comissom Europea, a OCDE ou a European Round Table, atoparemos algumha verdade. O capitalismo posmoderno iniciou outro ajuste necessário entre a produtividade e a formaçom. Disso temos a necessidade de falar, porque mesmo explicaria por que umha parte dos nossos moços e moças -os melhor formados da nossa historia- tenhem que facer umha emigraçom forçada para poderem trabalhar. Nom é umha maldiçom; é fruto de muitas decisons políticas erradas e viciadas no contexto espanhol.

A saída europeia dalguns empregos nom cabe interpretá-la como umha possibilidade senom como um ajuste conjuntural nos “mercados laborais” de cada Estado, entre oferta e demanda. Todos os informes dos expertos sinalam que a tendência da nova economia exige -e cada vez mais- poucos técnicos. A tecnologia permite que uns poucos especialistas desenvolvam os sistemas necessários para o funcionamento da empresa. Por outra banda, os processos de fusom empresarial reduzem as ofertas de trabalho. Com outras palavras: cada vez mais farám falta melhores profissionais, mais em quantidade mais reduzida.

A lógica destes objetivos é abafante: umha “escola da ignorância” (da que tanto nos falou Jean-Claude Michéa), coa produçom sistemática de consumidores, é outra das engrenagens necessárias para que a roda da globalizaçom siga avançando. Umha verdade universalmente aceitada é que no ensino está a chave do sucesso económico. Todo o mundo sabe que os empregos do futuro requererám níveis de capacitaçom mais altos que nunca. O que nom todo mundo sabe analisar é onde está o erro de tal formulaçom.

O sistema económico nom pode absorver umha massa de trabalhadores bem preparados. A escola de qualidade é necessária só para uns poucos. O resto do ensino é melhor que funcione daquela maneira. A conflitividade derivada dum sistema de ensino generalizado e de alta qualidade nom poderia ser suportada polo sistema económico, onde muitos indivíduos bem preparados deveriam competir por mui poucos postos de trabalho. O ensino universal e de qualidade nom é um objetivo político do sistema dominante. Estes argumentos nom som política ficçom, desprendem-se dos documentos antes mencionados. É o pensamento versus ideologia das elites económico-políticas da globalizaçom.

Muitos dos trabalhos que permitiam umha vida digna como consequência das remuneraçons percebidas hoje estám a ser substituídos por outros que vam no sentido contrário. No futuro, ainda que poda haver um crescimento do emprego, nom é menos certo que será com salários baixos e com umha precariedade generalizada. A crença de que o ensino é cada vez mais importante basea-se na formulaçom (aceitada maioritariamente sem análise e debate) seguinte: os avances tecnológicos incrementam as oportunidades laborais para quem trabalha. Dito em termos mais singelos: a informática e os avances tecnológicos ajudam a quem trabalha coa cabeça, ainda que podam prejudicar a quem trabalha coas maos.

Com todo, anos atrás, alguns economistas e analistas pugérom em solfa esta afirmaçom dizendo que este era um jeito errado de pensar no assunto. As computadoras -assinalárom- sobresaem nas tarefas rotineiras, “tarefas cognitivas e manuais que podem realizar-se seguindo regras explícitas”. Pola contra, os trabalhos que nom se podem levar a cabo seguindo regras explícitas (categoria que inclui diversas classes de trabalho manual) tenderám a crescer, ainda a pesar do progresso da tecnología. Talvez as duas teses tenham moitas lagoas. A realidade é que nom temos trabalho nem uns nem outros, nem em quantidade nim de qualidade.

O paradoxo deste tempo é que um título universitário nom é garante dum bom emprego, nem tam sequer dum emprego. Nengum país chegará a ser desenvolvido simplesmente outorgando-lhes aos estudantes títulos universitários ou de formaçom profissional, se esses títulos nom som mais que passaportes a empregos que nom existem ou a empregos com uns salários que nom permitem umha vida digna.

Nom estou contra a formaçom nem a tecnologia -todo o contrario-, mas nom quero deixar-me confundir. Um sistema destas características sempre terá recursos para um sector da excelência, destinado a formar as diferentes elites defensoras do que está acontecendo, que serám cada vez mais necessárias na medida em que a economia mundial vaia agudizando as suas contradiçons. Terá muitos menos para o grupo mais numeroso, o dos desempregados -ou empregados de forma precária e flexível- que terám menos recursos e serám menos necessários, incluso problemáticos para o sistema. Os câmbios tecnológicos precisam mais explicaçom e fundamento que a da simple necessidade sistémica. Os avanços tenhem que servir às pessoas e nom justificam por si mesmos qualquer decisom. O que estou a criticar é a formaçom desde a escola que fala destas cousas desde outras perspectivas, dando-lhe suporte à ignorância que o sistema precisa para laminar qualquer capacidade critica e fazer mais digeríveis os contos que lhe queiram contar. Nom está de mais parafrasear de novo a Michéa: “é umha questom de desenho social, de decisom política consciente para fugir dumha Escola da verdade”.

As crises pugérom de manifesto também a inconsistência do modelo sindical atual para afrontá-la. A orientaçom pactista sustida numha profissionalizaçom sindical e nos tecnicismos do argumentário das direcçons sindicais acentuou o retrocesso da classe trabalhadora a partir dos anos oitenta do passado século. Nom fôrom quem de opor-se à ofensiva neoliberal mais aló do discurso. É umha mínima autocrítica exigível a quem dirigiu os aparelhos das organizaçom sindicais que praticarom dito sindicalismo. No caso do Estado espanhol como noutros da redonda os interlocutores desta linha nom tenhem umha margem apresentável na gestom.

O erro fundamental na minha análise é que as direcçons sindicais -como as políticas- centrárom na resistência a sua acçom sindical, pensando que seria suficiente para a conservaçom dos direitos laborais numha regulaçom keynesiana pactuada da economia, confiados no seu statu quo negociador, reconhecido institucionalmente polo poder e crendo ingenuamente que havia margem para um acordo aceitável. Confundírom a moita gente com algumhas convocatórias mobilizadoras apoiadas na fórmula de sempre, negociaçom-pressom baseada no mesmo erro de partida já que o problema é que conflito e crise nom deixam margem mais que para umha estratégia de confrontaçom sustida no tempo que deixe à descoberta os princípios dos contendentes (capital e trabalho) e nunca estivérom dispostos, nem estám, a desenvolver.

O século XXI terá entre as suas principais características a complexidade e a interrelaçom dos conflitos. Mas, umha de duas: ou seguimos polo mesmo caminho ou exigimos um cambio na dinâmica sindical. A colaboraçom cos movimentos sociais e as organizaçons políticas dispostas a umha confrontaçom sustida no tempo nom poderá fazer-se sem substituir a fórmula de representatividade sindical atual.

Numha sociedade com mais prosperidade para todos, a formaçom nom é a única resposta: teremos que ocupar-nos de construir essa sociedade diretamente. Por isso a clave consiste em restabelecer o poder de negociaçom que a força do trabalho perdeu nos últimos anos, de jeito que as trabalhadoras podam negociar, a través dumhas organizaçons renovadas e muito mais participativas e democráticas, umhas remuneraçons e condiçons sociais ajeitadas ao tempo que nos toca viver. Aos que estám hoje pasou-lhes o tempo. O cambio passa por garantir as necessidades básicas para todos os trabalhadores enquanto o “mercado laboral” nom tenha a capacidade de ofrecer-lhe um emprego de qualidade que permita umha vida digna.

Tenho a certeza de que esse deve ser o caminho.