Há 105 anos, em 1915, as mulheres europeias aumentavam a passos agigantados a sua influência na sociedade, feito motivado, entre outras cousas, pola marcha dos homens à frente na I Grande Guerra. Nessa conjuntura, e ante a carragem reaccionária, Antom Vilar Ponte reclama nas páginas de ‘La Voz de Galicia’ respeito para a mulher e defesa do feminismo. Na nossa memória galeguista dos sábados, umha mostra das posiçons sociais avançadas dos que uns anos mais tarde seriam os nacionalistas irmandinhos da Corunha. No ponto de vista de Vilar Ponte, minoritário para a época, bem puido influir Micaela Chao Macinheira, a sua companheira, e umha das primeiras mulheres dirigentes das Irmandades da Fala.
“Com letra do sete. Ponto de vista actual
Umha das consequências da actual conflagraçom europeia, entendemos nós, há de ser o vigorizamento do feminismo. As mulheres em todos os países beligerantes começam por lei de necessidade a desenvolver muitas funçons próprias dos homens. Na Inglaterra, por exemplo, berce do sufragismo exaltado, tenhem já ao seu cárrego até os destinos policiais.
E como é seguro que vam cumprir bem -pois nisso ponhem o seu amor próprio, o espírito de sexo, que resulta mais intenso do que o de corpo- na hora da paz vam reclamar mui a sério que se lhe conceda a perpetuidade o que interinamente se lhe confiou. E entom xurdirá umha nova guerra pouco marcial quiçá, sem canhons, nem fusis, nem trincheiras, mas séria de todos modos: porque será guerra de mulheres contra homens e de mulheres que tenhem razom contra homens que nom a tenhem.
O do feminismo é um problema que entre as brincadeiras de mau tom e as ironias simplicistas apresenta-se cada ano mais concreto e definido.
As mulheres servem para todo, ainda quando os homens nas suas histórias escritas por eles mesmos empenham-se em demonstrar o contrário.
Escrevemos quanto antecede tendo à vista a nova de que umha mestra toscana, a senhorita Luisa Ciappi, a vestir o uniforme de soldado, pretendeu ir à guerra contra Áustria, voluntária e animosa. Se nom a descobrissem a tempo, há quem duvide que iria cumprir com o seu dever o mesmo que um homem ?
Nom há que lhe dar voltas. A ocasiom é todo na nossa vida. E as Joanas de Arco e as Marias Pita e as Agustinas de Aragom iriam multiplicar-se se as circunstáncias o determinassem.
O industrialismo moderno veu a nos demonstrar, com as suas duras exigências económicas, que aquilo do sexo feble, aplicado às mulheres, é umha de tantas frases feitas. As mulheres que se consomem nas fábricas, nos obradoiros, nos peiraos e nos limiares das portas quando a indigência as abafa, iriam sofrer, sem dúvida, muito melhor do que multidom de homens até os rigores das trincheiras, dando braços úteis para o manexo do canhom e a utilizaçom dos fusis. Hoje que a arte da guerra chegou a perfeiçons mecánicas admiráveis, já ninguém poderia ser recusado no terreno das possibilidades, sempre que demonstrasse consciência -umha vez cambiados os rumos político-sociais vigorantes- para defender a pátria. E entre portar carvom num peirao ou disparar um fusil nas trincheiras, bem alimentadas, e limpas, muitas mulheres nom vacilariam em preferir o segundo como mais oneroso e mais galhardo.”
La Voz de Galicia, 11-6-1915. Traduçom do Galiza Livre.