A “crise” originada polo COVID-19 está desvelando e agudizando situaçons de desigualdade nas que vivíamos a maioria: empobrecimento, precarizaçom da vida, despejos, centralismo do urbano, violência machista, sexista e racista…
Coma na anterior crise/estafa -instaladas já num mundo colapsado- as políticas sociais volvem ò debate público, e como aconteceu co estalido da borbulha imobiliária volvem tratar de confundir-nos. Há já tempo que desde as instituiçons se gerou umha narrativa na que se gaba a necessidade da “colaboraçom” público-privada. Assim, gera-se umha “opiniom” na que se misturam as respostas públicas cas de entidades privadas, eliminando direitos com medidas assistenciais e condicionadas, confundindo rendas básicas com “esmolas”, autonomia com controle social e sobre tudo fai-se ver umha certa “essencialidade” do privado para umha boa gestom. Esto aplica-se a todos os âmbitos e o âmbito alimentício nom se livra.
Assim nestes meses vimos como se fala de normalidade na cadeia alimentaria enquanto as produtoras mantiveram fechados os mercados locais e muitas pessoas estám passando fame. Figo-se ver que nom havia ningum problema porque a grande distribuiçom é capaz de abastecer, que nom é o mesmo que alimentar, a quem podia achergar-se aos supermercados a fazer a compra. E que está passando cas que nom podem ao carecer de recursos económicos avondo? Pois que voltam a aparecer, como resposta estrela, os bancos de alimentos, sinónimo -salvo contadas excepçons- de saídas que afundam na estigmatizaçom, o controle, a burocracia, a dependência, o poder… e que evidenciam a fragilidade das pessoas num sistema que nom é capaz de garantir nem o mais básico: o acesso à alimentaçom sá e nutritiva como um direito e nom como um privilégio.
Muitos destes bancos de alimentos partem dos “donativos” das próprias empresas que provocam o caos climático e o colapso global, que nos trouxeram aqui e que obtém benefícios fiscais destas donativos. Ademais, a gestom, em muitos casos, recai no voluntariado e nom numha resposta real que garanta um direito à alimentaçom para todas as pessoas. Vimos como às vezes assinárom-se convénios com grandes marcas de produtos ultra processados (nom alimentos) evidenciando que para quem nom conta com recursos, no melhor dos casos desde as instituiçons, busca-se que se levem algo à boca, da igual o que seja, a costa da saúde. Na gestom das bolsas de comedor durante a crise, em muitas das CC.AA. só as crianças que tinham coberto por bolsas máis do 75% do custe do comedor escolar recebérom alimento, é dizer, quem tinha bols mas por debaixo deste percentagem nom recebeu nada, o que agrava a situaçom em muitos fogares e prejudica especialmente as mulheres. À hora de repartir, sabemos que a alimentaçom das crianças numha casa sempre é prioritária e a das suas nais sempre é a última que conta. Ademais disto, nestes meses fechárom-se as hortas de autoconsumo en muitos lugares, privando a muita gente dum recurso essencial para a sua alimentaçom diária. Pois estas hortas nom som simples espaços de lazer, geralmente som espaços indispensáveis para a vida.
Por isso exigimos que as respostas partam desde um enfoque de direitos, de direitos fortes: sociais, básicos e universais. Como o direito à alimentaçom e nutriçom ajeitada, direito à vivenda em condiçons dignas, direito à Renda Básica das Iguais e muitos outros, que em nada se parecem às respostas que chamam a participar de “falsas soluçons” e que perpetúam a desigualdade, a injustiça e a desmovilizaçom.
Os Serviços Sociais mais orientados a conter necessidades que a garantir direitos
Sabemos que nos Serviços Sociais, que muitas levamos anos sofrendo, nom imos encontrar saídas. No melhor dos casos alivio, que desejamos nom amorteça a necessidade de juntar-se e buscar saídas desde a raiz: saídas coletivas e comunitárias. Que conheçamos as limitaçons dos SS.SS, e a sua funçom nom exime para que estes gozem de mais recursos e de profissionais que sejam tambem companheiras/aliadas de luitas e vidas. Para muitas os SS.SS, som sinónimo de fiscalizaçom, de controle, de atrasos, papelórios, de negócios para o capital… e do esquecimento das necessidades básicas que quedam fundidas baixo papeis. Na sua corta vida, os Serviços Sociais perdérom a parte mais importante do seu sentido, quedou-se a palavra “social” esmagada pola de “serviços” que cousificam as pessoas tratando-nos como “expedientes”, somos o “caso individual” que pode ou nom, entrar nos seus parâmetros ou critérios de intervençom. Polo que muitas nos humilham, maltratam e tenhem em conta a cor da pele à hora de dar informaçom para fazer a “criva” necessária que vai eliminando da lista às mais necessitadas. A lonxanía da mesa dos despachos de trabalhadoras de base fronte às realidades sociais é maior cada día, assim se criou umha maquinária que nom geram empatia nem proximidade.
As trabalhadoras sociais que realizam um trabalho próximo e social som apartadas da instituiçom, se tenhem umha verdadeira intençom de solucionar situaçons nom servem ao sistema capitalista, e se nom servem ao sistema nom se renova o seu contrato. Algumhas sofrem ata o ponto de abandonar os seus postos de trabalho enquanto buscam no oásis onde ser trabalhadora social e nom a autómata ou o muro indolente que se nega a fazer qualquer trâmite.
E nestes dias, enquanto as pessoas e as economias domésticas caíam coma fichas de dominó fronte a impossibilidade de adquirir alimentos, pagar o alugueiro, a luz, a água, o teléfono, internet… os serviços sociais de base, em demasiadas ocasions, dedicárom-se a enviar pessoas òs serviços de beneficência para adquirir comida como primeiro, e ás vezes, único recurso fronte às insuficientes e míseras prestaçons económicas públicas. Em demasiadas ocasions fomos “derivadas” a freguesias ou ONG´s sem antes dar informaçom sobre as prestaçons sociais e sem facilitar o seu acesso. Como quem sacode “algo molesto”, questionam a credibilidade das pessoas angustiadas pola carência de recursos, medo pola saúde e falta de alimentos. Botamos em falta profissionais que questionem a instituiçom que lhes garante um emprego público, a mesma que obstaculiza em nom garante o acesso aos recursos mais básicos. Sobra-nos o trabalho social hegemónico que culpabiliza e revitimiza as pessoas no seu afám de análise individualizado que oculta os problemas sociais que gera este sistema capitalista, patriarcal e racista. Com todo isto o que dizemos é que nom queremos produçons de alimentos insanos ou alimentos nutritivos aos que nom podam aceder todas as pessoas, nom queremos que nos fogares seja necessário priorizar a alimentaçom das crianças e nom quedem alimentos para quem as cuidam, nom queremos umha realidade em que as mulheres nom podamos desligar-nos dos cuidados porque o resto da sociedade nom está disposta a assumi-los e nom nos considera úteis mais alá que pela nossa funçom gratuita de cuidados e nom queremos que a labor dos Serviços Sociais seja controlar e perpetuar este sistema de organizaçom e de valores em lugar de exercer um labor social de cuidados, que é o que lhes corresponderia, em lugar de condenar-nos à fame e à desídia. E é verdade que temos fame, mas sobre todo temos FAME DE DIREITOS.