Em 20 de junho de 1917, há hoje justo 103 anos, um ‘novo irmao’ fazia reflexons atrevidas n’A Nosa Terra. O recém chegado membro das Irmandades da Fala era nem mais nem menos que Johám Vicente Viqueira, um prometedor intelectual de 32 anos que se formara com o melhor do pensamento europeu da altura. Com grande visom de futuro, aposta a sério pola plena restauraçom da ortografia galego-portuguesa e o contacto directo com o mundo.

“As linhas que seguem som bem pouco por certo, mas já que hoje nom podo fazer outra cousa hei-no de limitar a duas indicaçons, que acho úteis para o renascimento galego.

Os leitores de galego podem ser numerossíssimos; é dizer que quem escreve em galego escreve quase para meio mundo. Devemos lembrar-nos que no Portugal e países de língua portuguesa a nossa literatura tem ardentes partidários. Ultimamente em Coimbra no grande teatro da vila ouvim aplaudir com todo entusiasmo as poesias de Rosalia de Castro, recitadas com enxebre acento, por umha grande artista portuguesa, Amélia Rei Caço, que os galegos deviam conhecer! Aliás lembremo-nos também que nos países de língua castelhana nom se achará tampouco nenhuma dificuldade para compreender-nos. Por isso no porvir até a nossa correspondência comercial se fará em galego!

Para conseguir o que antes digo fam falta duas cousas no que diz respeito a nossa língua. Primeiramente cumpre afirmar a nossa linguagem literária. Por isso devemos imitar os países que se encontram na nossa situaçom (a Grécia, o Flandes, a Catalunha), devemos estudar os clássicos galegos e os quase nossos clássicos portugueses, assim como a nossa literatura portuguesa, e nom como alguns fam transcrever a fala de aldeias já corrompida e que corresponde ao castelhano de López Silva! Segundo, para adaptar a nossa literatura aos leitores portugueses temos que admitir a sua ortografia, é dizer, a hoje válida em Portugal, só com aquelas modificaçons (bem pequenas, por certo!) que exigem as diferenças de língua. Esse caminho já foi seguido polos flamigantes na Bélgica, que houvérom de tomar a ortografia holandesa, o que lhes aumentou de maneira considerável os leitores. Fagamo-lo pois!

Tem-se fundado nos últimos tempos umha Academia de Minho em Viana do Castelo que trabalhará no estudo da nossa língua que tanto interesse oferece para nós. Assim o Instituto de que falo poderia constituir um ponto de mira de galegos e portugueses. Umha viagem dos Amigos da Fala no verao a Viana do Castelo nom seria excelente? A Catalunha com as suas visitas a Perpinhám e outras vilas do meio dia da França mostra-nos também aqui o caminho.”

Johám Vicente Viqueira, A Nosa Terra, 20 de Junho de 1917.