O dia dezaoito do mês que agora fica, juntárom-se pola manhá respeitáveis senhores da Crunha, entre eles banqueiros, comerciantes, industriais, etc. -forças vivas, como se diz nalgum tempo à data- com o objectivo de nomear um organismo que trabalhe pola prosperidade naquela cidade. Houvo boas intençons merecentes de gavança e poucos discursos (…)

Laiam-se muitos quantos pensam que a Crunha nom vai para diante, e dim que precisa sair do estancamento em que vegeta. Laiando-se de que o comércio e a indústria nom topem aquel desenvolvimento desehado, que em outras partes se acusa. E para que a Crunha progresse, para empurrar o progresso corunhês, fixérom a Assembleia referida.

A tentativa está bem, como tal tentativa, polo que tem de nobre, mas parece-nos que os iniciadores da juntança pecárom por desorientaçom na diagnose. O médico que ante a chaga que amossa umha pessoa doente, só examina a chaga, dando de mao a quanto puider ser origem dela por defeitos gerais do organismo, fracassa adoito. Pois o mesmo terá, ou muito nos trabucamos, que acontecer-lhe ao directório da nova juntança. “Crunhesismo em acçom” chama-se-lhe e o nome por vezes fai a cousa.

“Crunhesismo” supom exclusivismo, e o exclusivismo sempre odioso, conhecendo a psicologia actual dos povos da nossa terra, tem de ficar tarde ou cedo numha repercussom de exclusivismo além de Monelos, Galiza precisa de expansons cordiais.

Crer que som “locais” os problemas vivos que cumpre solucionar na Crunha nem em nenhum povo galego é cousa absurda. Como pôr as ás no chao e os pés para acima. Se Crunha abondasse a si mesma para viver, bom. Mas nom abondando-se, primeiro que botar a andar sem jeito, precisa-se fazer os caminhos especulativos que levam à acçom, quando a hora da acçom é chegada. E esses caminhos fam-nos os pensadores, nom apenas os homens de negócios. Porque o ideal precisa decote o material. Primeiro especulaçom, generadora de paixom; logo acçom vertebrada (…)

Galeguismo em especulaçom

Na mesma noite do dezaoito dou umha palestra na Mútua Mercantil Crunhesa Lois Porteiro Garea. Porteiro nom precisa adjectivos, porque sendo homem de cultura e bom senso, ao serviço dumha verba cristalina, onde ele se topa topa-se o mérito.

Porteiro fijo um exame luminoso dos valores positivos e negativos da Galiza, partindo do materialismo histórico de Marx, amostrou que o ideal sempre dá cimento ao material. Deduziu como o comércio, a indústria, a política, a arte, todo requer se ha ter eficácia fecunda, o senso europeu da cooperaçom que a nós nos falha.

E logo, como se respondesse aos iniciadores da juntança daquela manhá, na que o trabalho manual nom se considerou força viva, quiçá por esquecimento, pujo, com valentia juvenil, a mao na chaga no atraso da Crunha e de toda a regiom. Este atraso afinca, antes que noutra cousa, na “enorme incultura financeira galega.”

Porteiro, amossando conhecer a nossa Banca, dixo que esta tem um pobre critério de “mostrador adentro”. A nossa Banca, para ele, como outras muitas instituiçons fundamentais, topa-se em “barbeito intelectual”. Os quartos galegos, por mor dessa Banca, vam dirigidos a empresas estrangeiras afastadas, e muitas vezes fantásticas, que logo na hora das grandes crises -qual agora se vê com a guerra europeia- produzem incertidumes. Os quartos galegos, porque a nossa Banca só se preocupa com os nossos ganhos do momento, ganhos ao pé do ‘mostrador’, que rifam com as do profissional vizinho impedindo toda solidariedade, vam empregar-se em láminas de valores do outro Mundo nom sempre de “boa estampa” mas si de mais “prima” e de mais interesse, ainda que menos seguro, acontecendo assim que caminhos de ferro de Venezuela, Chile, etc., som em parte feitos com aqueles quartos nossos que logo falham para fazer os nossos caminhos de ferro e as nossas indústrias.

E se em algum sítio puideram ser os primeiros empuxadores do progresso os banqueiros, é na Galiza, país de poucos grandes capitais e de muitos pequenos capitalistas, que só associados por partes restadas sem sacrifício ao cupom de que vivem, poderiam ser úteis.

A cultura da Banca galega, parece pois, um dos primeiros problemas a solucionar. Quando houver essa cultura haverá solidariedade entre todos os banqueiros da nossa terra, e o refrám “quem é teu inimigo é do teu ofício” nom rezará com eles. (…)

Porteiro amossa visom de águia. Os localistas, visom de cobra.”

*A Nosa Terra, nº14, 30 de março 1917.