É um espaço que temos que construir juntos se queremos encontrar-nos. Nele, deveríamos fazer o maior esforço para entendernos e convencernos da necessidade de luitar em común
Cada vez é mais difícil a eleiçom entre a supervivência coletiva a longo prazo, ter um emprego e chegar a fim de mês. Nom vou desenvolver polo miúdo conceitos como o ecologismo e o sindicalismo. O que me interessa é falar da interrelaçom que deveriam manter estes dous sistemas organizativos, um como movemento activo para cuidar do meio ambiente e o outro no plano sociolaboral. Nom é bom o desencontro entre estes dous espaços porque lhes resta potencialidade.
É necessário analisar os conflitos que povoam o território da necessária confluência entre o trabalho assalariado, num período histórico de crise sistémica do modo de produçom capitalista, e as exigências de proteçom dum planeta ameaçado por múltiplos desastres ecológicos, muitos deles, já comprovados.
A realidade impom um debate urgente e pendente sobre as relaçons existentes, com vistas a estabelecer propostas e espaços de colaboraçom para afrontar tanto a crise do sistema económico como a dos ecosistemas.
Para começar farei-me una pergunta, que pode e deve fazer o sindicalismo quando tem que construir umha relaçom desta natureza? Desde logo, nom refugiar-se exclusivamente no discurso critico contra o sistema capitalista por manter o seu objetivo de crescimento ilimitado e cujo efeito colateral é a devastaçom ambiental, a eliminaçom progressiva dos postos de trabalho e a sua precarizaçom. Deve tentar ir mais aló e integrar a questom ecológica como assunto central nas nossas análises e propostas de acçom sindical e luita, tanto no nível geral como sectorial.
Por isso, precisamos debater e buscar consensos co ecologismo mas nom para fazermos análises generalistas na defensa do meio ambiente ou em abstrato sobre a industrializaçom racional que podem ser mais ou menos doadas, senom para propor soluçons concretas que adoitam ser muito mais complexas, por exemplo quando se trata do feche dumha fabrica ou da transiçom dumha estratégia industrial a outra. Dalgum caso destes falarei noutro artigo.
Estou convencido de que a responsabilidade ecológica é de todos, mais nom todos temos a mesma responsabilidade. Nas derradeiras décadas do século passado, a industria tivo um desenvolvimento aloucado certamente mais daquela poucos chiflarom diante daquela carreira algo tola e bem trampulheira. Sabedores de onde vinhamos, saudamos a industrializaçom ainda que as condiçons de vida e de trabalho nom fossem nengum agasalho. A nossa força de trabalho jamais foi bem valorizada polo capital e, por isso, o intercâmbio sempre foi umha fonte de conflitividade somada à do poço negro do confinamento das liberdades.
Quando os assessores de grandes grupos empresariais se decatarom de que a questom ambiental se podia converter na base dum ataque geral ao sistema industrial promovido de jeito moi maioritário pola iniciativa privada (o sector público só tapaba algum dos furados que esta deixava para produzir bens, serviços ou mercadorias, quando foi possível), movérom-se e preocupárom-se pola mensagem ecologista na medida em que este movimento os culpabilizava dumha industrializaçom irracional coa cumplicidade dumha boa parte do poder político (mui permissivo ou deixando fazer sem controlo nengum), provocando a desfeita da natureza, pola grande degradaçom do ambiente e a urbanizaçom, daquela maneira, dalguns espaços territoriais.
Desa convulsom nasce a chamada nova industrializaçom porque eu nego-me a denominá-la com nengum qualificativo que emparente co termo revoluçom.
A dialética meteu de cheio a classe trabalhadora neste assunto e nom só polo convencimento de que outro mundo é possível senom pola necessidade de se defender diante das consequências para as condiçons de vida que está provocando a devandita convulsom do aparato produtivo. Os capitalistas, quem os apoia politicamente e alguns meios de informaçom que se posicionam favoráveis a determinadas teses da modernizaçom industrial, fôrom quem de instrumentalizar o câmbio, ao seu favor.
Como a crise ambiental provocada pola sua rapina era evidente e tinha moita dificuldade negá-la, de súbito, decidírom “verdejar” a sua estratégia, propondo espaços de transiçom até o novo, e necessário, processo industrializador. Para fazer o caminho, da velha fábrica obrigada a fechar até as novas instalaçons “nom contaminantes e comprometidas com um desenvolvimento sustentável”, deixam clarificado os seus objetivos: já nom precisarám da mesma quantidade de trabalhadores , nem manter as mesmas condiçons sociolaborais e a localizaçom seria a do melhor ofertante, em que mais facilidades houvesse e onde mais permissivos fossem.
Esta foi a centralidade da sua exigência a legisladores, governos e a todo o entramado institucional ademais da coartada para justificar tanto os feches como a precarizaçom; o novo conceito industrializador baseia-se na produtividade, produtividade e mais produtividade, e todo o demais relacionado co mundo do trabalho, a ceacu.
O único importante para eles segue sendo: um aparato produtivo de nova tecnologia (a ser possível subvencionada), produzir mais com menos custos e vender o que poidam e onde poidam. E para rematar um lema mui clarificador, “e quem quede no caminho que colha de novo o sacho”.
Os defensores do capitalismo na sua grande maioria nom som militantes da corrente negacionista do cambio climático, mas tampouco acreditam num decrescimento económico e industrial, como possível soluçom. Sabem ajustar-se aos requerimentos da conjuntura, chamada “modernidade”, mas sempre escravos da produtividade, os rendimentos económicos, dos desequilíbrios e das desigualdades e do poder em todas as suas vertentes.
Neste cenário a confrontaçom nom podia ser exclusiva do mundo do trabalho; às vezes nesta dinâmica dum contexto de cambio, surgem outras. Nalguns sectores do sindicalismo nom acertamos a comprender algumhas coincidências do ecologismo coas propostas das direcçons empresariais na devandita dinâmica com umha preocupaçom exclusivista nos assuntos ambientais, enquanto diante de certo tipo de medidas laborais e algumhas das componendas negociadoras mantenhem um silencio calculado.
Quem trabalha nom pode fugir das problemáticas da relaçom laboral e da necessidade da solidariedade entre a classe obreira, e quem decide comprometer-se coa defensa da natureza tem umha obriga coa proteçom de todos os ecosistemas e para tratar de corrigir os danos produzidos neles.
O problema entre nós, as mais das vezes, surge nas prioridades da açom. O sindicalismo propom que a sua luita vai primeiro porque ninguém quer arriscar-se a seguir perdendo ainda mais no referente a direitos, qualidade do emprego e mesmamente o trabalho; entrementes, o ecologismo exige açom e agenda para deter ou minorar as consequências do cambio climático e da sua espiral destrutiva para o mundo sem deter-se nos efeitos colaterais.
Os primeiros criticam os segundos pola falta de sensibilidade diante da agressom constante aos trabalhadores e aos seus direitos, no entanto o ecologismo critica o sindicalismo por atrincheirar-se na fábrica diante da evidencia científica de que nos dirigimos a um beco sem saída a nível mundial. Ovo ou galinha, quem foi primeiro? Umha contraposiçom, sem resoluçom. Cumpre dar-lhe um giro a esta situaçom. Se fosse doado já estaria feito. Quando menos, devemos tentá-lo.
As derrotas coletivas geram debilidade, e a debilidade gera a falta de confiança e combatividade que à sua vez levam a novas derrotas. É um círculo vicioso do que é difícil saír, pero do que temos que fugir custe o que custe, sindicalistas mais ecologistas.
Haverá que cambiar como vivemos, como trabalhamos, como nos relacionamos, como planeamos o nosso futuro. E aqui sim veremos a verdadeira contradiçom insalvável, a que há entre a imensa maioria e os que rematarám com todo por defender o seu direito ao beneficio económico.