O 21 de abril o INE publicou os dados provisionais do padrom contínuo de habitantes. A populaçom de estrangeiros residentes mais a de residentes nados no exterior representa no Estado o 15,2% do total; e na Galiza, o 9,2% (a percentagem de nados no exterior é do 5,1%; um ponto mais que no conjunto do Estado como um dos efeitos da emigraçom galega). Antes da crise do coronavirus já se produzira um parom na chegada de imigrantes ao país. “O atrativo de Galiza como sociedade de acovilho tem mais fundamentos sociais que económicos, e em tempos de crises económicas ou sanitárias, a sua capacidade de arraste é mais bem modesta, isto explica a escassa presença de imigraçom estrangeira”, conta Montserrat Golías (A Corunha, 1975), professora na Faculdade de Sociologia da UDC e membro do ESOMI (Equipa de Sociologia das Migraçons Internacionais). Coa crise, avança Golías, “a atividade migratória verá-se paralisada primeiro pola limitaçom da mobilidade como consequência do estado de alarma, e num futuro pola escasseza de oportunidades que se verám minguadas muito mais que na crise económica”. E sinala que se romperám as cadeias migratórias com América Latina, que os galegos em Europa se aferram a países como Suíça “e quiçá se as condiçons o permitem marcharemos a um destino melhor”. Quanto às entradas no país: “Aqueles que punham o olho em Galiza, polo afeto, mas sobre todo dos parentes, deixarám de fazê-lo”.

Antonio Izquierdo Escribano (Madrid, 1950), diretor da tese de Golías, um dos sociólogos de referência no âmbito das migraçons, impulsor do ESOMI e autor entre outros estudos de La inmigración inesperada (1996), um ensaio central na investigaçom sobre a matéria, opina que a crise do covid19 vai acentuar tendências, provocará umha reordenaçom dos mercados laborais e o número de migrantes reducirase. “Os mercados de trabalho nom precisarám de tantos imigrantes em situaçom irregular porque muitos imigrantes empobrecidos que já estám nos países, e também autóctones empobrecidos, verám-se arrastados aos trabalhos pior considerados. O fluxo deste tipo de emigraçom vai diminuir. Em paralelo, também se extremarám a vigilância e o controlo policial nas fronteiras, e dentro dos países aumentarám a desconfiança e o rejeitamento dos que venhem de fora… dos pobres que venhem de fora”.

A crise, sublinha Izquierdo, é um freio para determinados fenómenos migratórios da globalizaçom e um empurrom para outros. Provocará um empobrecimento geral, “particularmente das classes médias ás que o capitalismo digital expulsa dos seus pequenos ocos de emprego”. Mas também vai haver competência entre estados por ver quem se leva os migrantes mais qualificados. “Esse fluxo nom se vai deter, incrementará-se”. Particularmente entre os mui qualificados, como físicos, informáticos, engenheiros e também co pessoal sanitário. “As migraçons em volume diminuirám numericamente, e o fluxo mais importante será o dos qualificados”, resume, advertindo que as redes serám as que ordenem a emigraçom desde Galiza dos melhor qualificados.

“A questom está em como depois de séculos de mobilidade, de configuraçom de famílias transnacionais, isto pode ver-se freado. Nom há mais que pensar no caso galego, cadeias migratórias que se engraxam umha e outra vez e que mantenhem unidas a famílias acá e alá. Podem fechar as fronteiras, mas a minha pergunta é como se fecham os vínculos históricos, familiares e os afetos?”, reflexiona Montserrat Golías.

Desigualdade

Um dos freios para a mobilidade internacional dos menos cualificados serám as desigualdades, que seguirám aumentado, “sobre todo no interior dos Estados”, prognostica Izquierdo, para quem “enquanto sigamos dentro deste sistema, a desigualdade seguirá a medrar”. No Estado espanhol, o risco de pobreza afeta a uns dez milhons de pessoas, o 21,5% da populaçom segundo o último informe Arope. Na Galiza, as afetadas seriam mais de meio milhom. O preocupante é que desde o 2008 o índice mantém-se por riba do 20% e com umha tendência a aumentar. O covid19 vem ampliar a fenda.

O covid19 afondou as desigualdades em apenas dous meses, coincidem Daniel Bóveda, ativista de ACCEM, organizaçom que trabalha com imigrantes, refugiados e pessoas em exclusom, e Raquel Martínez-Bujám, professora de sociologia na UDC e membro do ESOMI.

“Tivo efeitos imediatos. Pujo de manifesto o drama de moitas famílias que viviam o dia, e agora nom tenhem nem para comprar a comida nem para pagar o aluguer… Até há pouco falávamos dumha classe trabalhadora empobrecida, pois aqui temos as consequências de nom ter um estado do bem-estar com piares fortes: vai-se quedar atrás moita gente que vivia ao dia”, di Bóveda (Vigo, 1986), que assegura que estám a receber moita demanda de informaçom de perfis pessoais que “antes nom chamavam e agora chamam para perguntar por cousas como onde conseguir comida”.

“Temos que reflexionar sobre o que chamamos normalidade. Se aquela era justa ou nom. Veremos que modelo triunfará depois de todo isto, se um estado social, ou um castelo com muros más altos”.

“O que sim podemos dizer nesta altura é que o covid19 está gerando maior desigualdade e que quem mais a sofre som as populaçons migrantes”, engade Martínez-Bujám (A Corunha, 1976), “volvemos ver colas diante dos bancos de alimentos, a coesom social verá-se afetada de novo e porá mais atrancos ao desenvolvimento humano de parte da populaçom. A socióloga nom se atreve a vaticinar que carácter terá a saída que se proponha desde os governos. “Mais zero que se visualizou muito o poder que tenhem os governos, que pensávamos que estavam simplesmente em maos das multinacionais, penso que se viu o poder que realmente tenhem, que som quem de parar a economia… Grandes câmbios? Nom creio”.

O covid19 vai reestruturar as sociedades, pensa Antonio Izquierdo. “Olho: reestruturar, nom alterará hierarquias, as enfermeiras vam seguir cobrando menos que os futebolistas. O capitalismo digital, concentrado, o capital mais potente hoje, sairá reforçado e orientará o mercado de trabalho cara a informatizaçom e a digitalizacióm. Ao tempo que se empobrecem, internamente as sociedades vam-se segmentar mais, haverá mais divisons e mais fundas”.

Oportunidades

A xestióm da crise vai deixando algumhas ensinanzas e abrindo oportunidades para quem quere velas. “As ONG empezamos a estar consideradas no diálogo social, as Administraçons parecem máis sensíbeis, fálase sem complexos de temas como a renda básica, polo menos nalguns países. Quando a Administraçom quer, pode”, consta Daniel Bóveda, que pensa que é momento de levar adiante umha agenda precisa: “primeiro, que se garanta realmente a vivenda, que é a base para qualquer outra intervençom; depois, o ingresso mínimo ou a renda básica; depois, coordenaçom entre todos os atores para que o trabalho seja eficaz”.

Raquel Martínez-Bujám aponta ademais a questons legais: “Umha regularizaçom sempre é positiva, simplesmente polo que determina quanto à capacidade de acesso aos serviços públicos essenciais, também seria positivo flexibilizar a lei de estrangeiria… Para incidir sobre as condiçons de vida, também seria importante regular o emprego doméstico para equiparar as suas condiçons laborais aos do resto das trabalhadoras com direito ao desemprego, moitas som de procedência latino-americana, e na Galiza entendemos durante esta crise o seu papel importante como cuidadoras dos maiores”.

Certos câmbios apontam no horizonte. Ninguém pode sair sem traumas dumha catástrofe como esta, coincidem os peritos. O cimento social está em risco. “Junto à igualdade, o principio que mais se verá afetado é o de comunidade”, afirma Antonio Izquierdo, “umha comunidade virtual nom é igual que umha que se manifesta na rua. A comunidade virtual é um sucedâneo. E a comunidade está sendo mui atacada porque nom tem a ver co interesse material, baseia-se num principio de reciprocidade: ajudar a quem o necessitar”.

Pode que mude mesmo a maneira de habitar o territorio. Montserrat Golías conclui cumha reflexom desesperançada: “O retorno ao rural parece mais um plam de burgueses. A gente trabalhadora, passará tempadas nas casas familiares, mas nom como modo de subsistência, porque os recursos nom som suficientes como para poder viver do campo. Relocalizar as produçons seria bom, um impulso para umha lenta recuperaçom económica. Contodo nom seria tam potente como para converter a Galiza num atrativo no plano económico ou laboral para a chegada de imigrantes. Como muito e com sorte, que fosse suficiente para nom ter que volver emigrar”.