(Imagem: wildlifearticles.co.uk) Quem visitar algum tramo dos nossos 1700 kilómetros de costa e se adentrasse no mar, poderia reparar numha das siluetas mais curiosas das aves que pairam polos céus atlánticos, nom teria problemas em reconhecer o mascato: umha das aves marinhas de maior envergadura, de corpo fornido, com plumagem em branco e negro. As suas asas longas, estreitas e afiadas fam-na muito distinguível da gaivota e dam-lhe um porte mais elegante.


Na semana passada sabíamos algo mais da baleia e do meritório esforço ecologista, que a livrou do extermínio; a sugestom dum leitor, continuamos na costa, pois é totalmente certo que nestes roteiros semanais por fauna e flora insistimos nos caminhos de interior, deixando injustificadamente de lado a nossa riqueza atlántico-cantábrica.


Por isso desta volta imos achegar-nos ao mascato, um ave historicamente relacionada com os núcleos humanos na Galiza costeira. Os marinheiros estavam mais que familiarizados com ela, enquanto a populaçom que vivia em terra só podiam vê-la nos dias de trevoadas. O mascato nom gosta da terra firme, caminha com torpeza, e só se deixa ver se o tempo é demasiado desaprazível. Segundo os monitoreios realizados por ornitólogos, nas suas incursons em mar aberto, o mascato pode afastar-se para caçar mais de 300 kilómetros da colónia na que cria.

Imagem: trialfchw.wordpress.com


Por efeitos do processo espanholizador, a populaçom está mais familiarizada com a palavra castelhana “alcatraz”, que por sinal deu nome a um ilheu do pacífico, que acolheu um dos centros carcerários mais sinistros do mundo, na costa oeste dos USA. Porém, mascato é o nome autêntico que sempre utilizou o nosso povo, e de facto, de consultarmos o mui útil atlas de apelidos do Instituto da Língua Galega, vemos que há ainda hoje mais de 300 pessoas apelidadas ‘Mascato’; as mais delas no Salnês e na comarca de Vigo.


Mas em definitiva, de que falamos? Do Morus bassanus, popularmente conhecido como ‘mascato europeu’, chamado internacionalmente em língua inglesa ‘northern gannet’. Trata-se dumha ave grande que se aproxima ao metro do peteiro à cauda, e que com as asas extendidas pode acadar os 190 cm. de envergadura. Em idade adulta, por volta do lustro de vida, abandona a cor parda da criança e passa a lozir esse branco rechamante com o que destaca nos céus. As assas, rematadas em ponta, tornam-se pretas nos extremos. O seu bico é muito forte e afiado, dumha cor gris quase azul. Tamém chamam a atençom os seus olhos, de tamanho grande e apontando cara a frente, que combinam as cores azul e negra.
É um ave típica do Atlántico norte e, se formos mais precisos, do norte da Europa, que é onde cria. As terras da Escócia acolhem as suas enormes colónias, que segundo os cientistas reunem até 35000 indivíduos. Nas épocas invernais descem ao sul da Europa, e algumhas delas afincam na Galiza. O melhor empraçamento para avistarmo-la é a área das Ilhas Atlánticas; se nom aninham nos cantis, gostam de fazê-lo em amplas superfícies chas, que facilitam a sua decolagem e aterragem de volta da caça. Xardas e arenques som o seu menu preferido.

Bass Rock, na Escócia. “O Penedo da Robaliça”, umha colónia de mascatos
branca pola cor dos ninhos, quanto menos desde o século XV. Imagem: whatsonmypc.wordpress.com


Um grande planeador
Ave de amplos horizontes, aproveita perfeitamente as grandes ventoladas oceánicas e mesmo o ar deslocado polas grandes ondas; move-se cómoda nos cantis mais agrestes, pois os seus dedos permitem-lhe aferrar-se a paredes verticais. A natureza preparou-na para ser umha grande planeadora que caça em picado: todo o seu corpo está adaptado para permitir incursons no mar a 100 km/h: ao fecharem os condutos nasais e auditivos, nom ingirem água. Também disponhem dum esterno de especial fortaleza, que evita lesons no golpe contra o mar. Como outras aves pescadoras, a graxa subcutánea e umha penuge tremendamente mesta fai-nos resistentes ao frio submarinho.

De feito, som estas características corporais as que lhe permitem habitar nas condiçons mais ríspidas: nos duros invernos do norte da Europa, mergulham-se até águas muito profundas na procura do peixe, valendo-se da sua musculatura. Aliás, as boas reservas de graxa que mantenhem permitem-lhes aguantar tempos longos sem ingerir alimentos.


Sociabilidade
O mascato forma sociedades bastante complexas e mantém um núcleo familiar no seio de enormes comunidades. É um animal monógamo, capaz de reconhecer pola voz a sua parelha e os seus pitinhos no meio da balbúrdia ensurdecedora das suas colónias. Gosta da caça em grupo, e vários mascatos podem reconhecer o seu companheiro quando este se mergulha, polo chamativo da sua cor branca.


Umha colónia de mascatos é um empraçamento que nom passa desapercebido, coberto como está de milheiros e milheiros de ninhos. Há registos históricos destes lugares desde o século XIII e na actualidade, a pena de Bass Rock, no leste da Escócia, é um destino do turismo ornitológico: no ano 1448, os mascatos já criavam nela. Embora fórom minguadas historicamente polo roubo de ninhos, sabe-se que as populaçons totais aumentárom desde meados do século XX. Numha curiosa aliança com o ser humano, especialistas apontam que a pesca de altura, com a sua grande concentraçom de peixes em alta mar, puido facilitar a alimentaçom da espécie.