Na anterior sesom falávamos das origens do rap. Um leitor alertava-nos de que nom tem umhas raízes tam “revolucionárias” como se puder pensar num primeiro momento. Bom, se os primeiros MCs (quem fam os raps) nom eram abertamente revolucionários, si eram em geral pessoas de classes baixas e negras. Todos conhecemos a história dos Estados Unidos com o escravismo e se ainda hoje as pessoas de etnia negra seguem a estar mui discriminadas nesse país, imaginemos o que passava nos anos 80. Para mim, qualquer ato de reivindicar-se a um mesmo e a liberdade de, por exemplo, andar de festa -que era o que nos dizia o leitor que era o objetivo principal destes primeiros MCs- constitui uma atitude revolucionária se esse direito che é negado, ainda que tu nom tenhas nem ideia de política. Bem é certo que bandas como Public Enemy e KRS-One, já abertamente políticas, vinheram depois.

É necessário dizer também, que a pessoa que escreve é historiadora mas nom é nem muito menos especialista na música, simplesmente escuta muita e procura ler e informar-se. Qualquer comentário, crítica, ideia ou correçom é bem-vinda, e desde aqui agradecemos a Alberte os seus apontamentos. Por suposto, também vos anima-vos a colaborar com o portal.

Hoje vamos falar de Pyros. Pyros é um rapeiro de Ourense, do bairro da Ponte. A nossa escolha pode ser polémica, porque ele rapea em espanhol. No entanto, nom há dúbida de que fai parte da classe operária galega. Isto pode-nos levar a reflexionar por que no século XX unha pessoa que reivindica a classe operária pode cantar em castelhano, pois na Galiza a luita obreira e nacional sempre adoitárom ir da mam. Nom creio que tenha outra explicaçom que a força do aparato de propaganda espanhol. Sabemos que, desde que existe a escola, controlada por desgraça polos nossos invasores, o galego como idioma das classes populares começou a perder falantes e ainda segue assim com as leis espanholistas de Feijóo. Em géneros como rap ainda há muitas artistas galegas que se expressam na língua da Meseta, ainda que pretendam mostrar-se como revolucionárias; do que nom tenho explicaçom é polo de agora de por que ocorre mais com este tipo de música…

Outro dos temas que devemos criticar na Galiza é a ausência duma perspetiva feminista, ainda que vam surgindo rapeiras feministas como as Flow do Toxo. Os rapeiros costumam representar uma masculinidade heterossexual estereotipada e mandar mensagens sexistas, que fai um fraco favor à dignidade das mulheres e representam um modelo péssimo para os homens que os tenhem como referência.

Chama à atençom também que a pessoa que rapeia empregue marcas capitalistas para ressaltar as qualidades da sua lírica, justo antes de expor que o sistema destrui a classe trabalhadora. Bem, poderia-se dizer que em muitos aspetos a classe operária somos uma contradiçom permanente, o que nom parece tam estranho se observamos o poder das marcas capitalistas sobre as nossas vidas, maior incluso que o dos Estados em muitas facetas. Estamos a tempo de examinar as nossas contradiçons e ir saindo delas pouco a pouco, custará trabalho sim, mas é necessário para acabar com um sistema que como diz Pyros, acaba connosco.

Do que nom há dúvida é da qualidade e da autenticidade deste rapeiro ourensám. A sua voz e o seu jeito de rapeiar som impecáveis e isso é o que se critica desde os ambientes do rap muitas vezes: o rap político reivindica muito, mas muitos nem rapeiam bem, nem fluem as letras. Por sorte, isto está a mudar na Galiza.

Também nom há dúvida de que a esta pessoa ninguém lhe pode explicar o que é a classe operária, muitas vezes alheia a pessoas que se dedicam a escrever sobre ela. Por isso é importante que algumas de nós tomemos a voz nos médios de comunicaçom também. Pyros probavelmente tenha tambén muitas cousas a dizer… e animamos a todas as obreiras coma ela a escrever!

Atentas ao que vem!