Autor do aclamado Big farms make big flue, Rob Wallace é um cientista norteamericano que tem estudado os efeitos da gadaria industrial na expansom de vírus; como um dos autores que aponta à responsabilidade do produtivismo capitalista na emergência que vivemos, consideramos de especial interesse esta entrevista, que traduzimos do inglês. Reproduzimos a segunda parte da entrevista.
Em muitos meios de cominaçom disse que o detonante deste coronavirus foi um “mercado exótico” no Wuham. É isto certo?
Sim e nom. Há fatores espaciais que favorecem esta noçom. A pesquisa relacional vinculou as infecçons ao Mercado Grossista de Frutos do Mar do Huanan, no Wuham, onde se comerciava com animais selvagens. Semelha que, em efeito, a sondagem ambiental chega até a parte oeste do mercado, onde havia animais selvagens em cativeiro.
Mas quanto podemos retroceder e como de ampla deveria ser a nossa pesquisa? Quando começou a emergência realmente? Centrar-se nesse mercado impede ver as origens da agricultura selvagem na hinterlândia e a sua crescente capitalizaçom. Em termos globais, e na China, a comida selvagem está a consolidar-se como um sector económico. Mas a sua relaçom coa agricultura industrial vai além de meter o dinheiro no mesmo peto. A produçom industrial –porcos, aves e afins– abrange já as florestas primárias, pressiona os operadores vinculados cos alimentos silvestres a aprofundar mais ainda na floresta para atingir mais colónias aumentando a interaccom com, e os efeitos colaterais consequentes de, novos patógenos como o Covid-19.
O Covid-19 nom é o primeiro vírus a desenvolver-se na China que o governo tentou ocultar.
Sim, mas nom é umha excepcionalidade chinesa, ainda assim. Os EUA e Europa servírom como zonas de impacto para novas gripes, recentemente H5N2 e H5Nx, e as suas multinacionais e delegadas neocoloniais desviárom a atencom cara o Ébola na África do Oeste e cara o Zika no Brasil. As autoridades da saúde pública nos Estados Unidos encobrírom a indústria agropecuária durante os brotes do H1N1 (2009) e o H5N2.
A Organizacom Mundial da Saúde (OMS) tem declarado a “emergência sanitária de calibre internacional”. É esta medida correta?
Sim. O perigo deste patógeno é que as autoridades sanitárias nom podem manejar a distribuiçom estatística dos riscos. Nom temos ideia de como o patógeno pode responder. Passamos dumha infecçom num mercado a infeccons espalhadas polo mundo adiante em questom de semanas. O patógeno poderia simplesmente desaparecer. Isso seria genial. Mas nom o sabemos. Umha melhor preparacom poderia melhorar as nossas probabilidades de diminuir a velocidade de escapatória do patógeno.
A declaraçom de OMS também forma parte do que eu chamo um teatro da pandémia. Organizacons internacionais fracassárom por causa da inaçom, A Liga da Naçons vem-me à mente. As organizaçons da ONU sempre estám a preocupar-se da sua relevância, do seu poder e financiamento. Mas esse jeito de agir só pode convergir para a atual preparaçom e prevençom que o mundo necessita para interromper as cadeias de transmissom do Covid-19.
A reestruturaçom liberal do sistema sanitário empiorou tanto a investigacom como o cuidado das pacientes, por exemplo, em hospitais. Que diferença suporia umha melhor inversom na sanidade para lutar contra o vírus?
Existe umha terrível, mas certa, história dum empregado dumha empresa de equipos médicos de Miami que, depois de voltar da China com sintomas gripais, tomou a boa decisom para coa sua família e a sua comunidade de solicitar o teste do Covid-19 num hospital local. Preocupava-lhe que o seu programa mínimo do Obamacare nom cobrisse os testes. Estava no certo. Agora tinha umha dívida de 3.700 dólares. É urgente umha demanda nos Estados Unidos que estipule que, durante um brote pandémico, todos os gastos médicos excepcionais e relacionados com o teste de infecçom e com o tratamento, umha vez este teste dê positivo, deveriam ser cobertos polo governo federal. Queremos dar azos à gente para procurar ajuda, no canto de esconder-se, e infectar outras pessoas, porque nom podem pagar o tratamento. A soluçom óbvia é umha sanidade pública nacional –provista do pessoal e equipamento suficiente para manejar este tipo de emergências– para que um problema tam ridículo como desencorajar a cooperaçom comunitária nunca tenha lugar.
Umha vez o vírus aparece num país, todos os governos reagem com medidas punitivas e autoritárias, como a quarentena obrigatória de grandes territórios e cidades. Estám justificadas estas medidas tam drásticas?
Usar um brote epidémico como escusa para testar um potencial controlo autocrático post-crise é indicativo dum capitalismo selvagem perdendo totalmente o rumo. Em termos sanitários, pessoalmente inclinar-me-ia pola confiança e a compaixom, que som importantes variáveis epidemiológicas. Sem elas, a jurisdiçom perde o apoio da populaçom. Um senso de solidariedade e respeito comum é crucial para conseguir a cooperaçom que precisamos para sobrevivermos juntas. Um confinamento coa ajuda apropriada por parte de brigadas vizinhais, caminhons de comida indo de porta em porta, liberaçom do trabalho e seguro para as desempregadas, podem ajudar esse tipo de cooperaçom de que estamos todas juntas nisto.
Como já saberá, o partido Nazi de facto que existe na Alemanha (AfD) tem 94 assentos no parlamento. A ultradireita nazi e outras agrupaçons, em asociaçom com as políticas do AfD, usam a crise do Coronavirus para gerar agitaçom. Espalham (falsa) informaçom sobre o vírus e demandam medidas mais autoritárias por parte do governo central: restringir voos e proibir a entrada a imigrantes, peche de fronteiras e confinamento forçado…
O peche de fronteiras e as restriçons para viajar som demandas com as que a direita radical deseja racializar o que som agora enfermidades globais. Isto é, obviamente, um disparate. Neste ponto, quando o vírus já se está a fazer passo por todo o mundo, o sensato seria desenvolver um tipo de resiliência sanitária pública na que, sem importar quem presenta a infeccom, tenhamos os recursos para tratar e curar as pacientes. Certamente, se primeiramente parássemos de roubar-lhe a terra à gente e provocar êxodos, poderíamos ter evitado a apariçom de patógenos.
Qual seria um câmbio sustentável?
Co objeto de reduzir o surgimento de novos brotes, a produçom de alimentos deve cambiar drasticamente. A autonomia da agricultura local e um sector público potente podem controlar as catracas ambientais e conter as infecçons. Introduzir variedades de cultivo e subministro –junto com resilvestracom estratégica– nos níveis agrícola e regional.
Ligar dum jeito simples a produçom com a circulaçom. Subvencionar tanto a queda dos preços quanto programas de compras ao consumidor que apoiem da produçom agroecológica. Defender estas práticas fronte a coerçom que as economias neoliberais imponhem ao indivíduo e às comunidades e fronte a ameaça dumha repressom estatal guiada apenas polo lucro.
Como deveria responder o socialismo fronte as crescentes dinâmicas de brotes virais?
O agronegócio, como jeito de reproduçom social, deve desaparecer dumha vez, já só por motivos de saúde pública. A produçom de alimento altamente capitalizada depende de práticas que comprometem e ameaçam a totalidade da populaçom, neste caso concreto, propiciando a propagaçom dumha pandemia mortal. Cumpre demandar a socializaçom dos sistemas alimentares de jeito que se evite que estes patógenos apareçam em primeiro lugar. Isto exigirá a reintegraçom da produçom de alimentos às necessidades das comunidades rurais, primeiramente. Também requereria práticas agroecológicas que protejam o meio ambiente e as nossas agricultoras. Em última instância, precisamos sandar as fendas metabólicas que arredam as ecologias das nossas economias. Ao fim é o nosso planeta o que está em jogo.
Obrigado pela entrevista.
As preguntas fôrom realizadas por Yaak Pabst para a revista alemá Marx21. Traduzido ao galego por Helena Salgueiro da versom em inglês. Podes lê-la aqui: https://www.marx21.de/coronavirus-agribusiness-would-risk-millions-of-deaths/
Notas da traduccom ao galego: Há termos específicos que nom aparecem em dicionários do inglés ou do galego, mas som pertinentes pois aparecem em contextos científicos e que a tradutora creu oportuno conservar.