Sábado 2 de Abril. Ramom Grosfoguel falava desde a sua casa de Califórnia para o Galiza Lvre sobre a crise internacional e a situaçom concreta dos USA em relaçom ao andaço do COVID19. Aos dez minutos de termos começado a entrevista umha pessoa desconhecida entrou na videochamada ao berro de Viva Espanha e começou a kickear a todas as pessoas participantes. Pouco depois começamos umha nova videochamada com idêntico resultado. Há alguns aspectos do acontecido que nos levam a reflectir.
Escolher umha ferramenta de software livre para as nossas comunicaçons ou para o nosso trabalho técnico representava, alomenos até o de agora, umha escolha política. No contexto em que nos estamos a inserir e que se adivinha que está a vir, possivelmente se trate de umha obriga.
Jitsi e o desgosto do roubo dos comuns
Jitsi é umha ferramenta alegadamente de código aberto. A pouco que comecemos a indagar levamos certo agóbio, como acontece em muitos casos em que o lucro e o interesse privado lhe ganhou terreno à construçom comum e altruista (a essência do código aberto). A plataforma de videoconferências é em parte só software livre, pois desde o 2018 a empresa 8*8 de Amazon tem comprado parte dela. E possivelmente pola combinaçom perigosa entre altruismo e ganhas de lucro, seja polo que o portal Galizalivre saiu em parte danado no passado sábado. Jitsi leva por configuraçom um erro, vamos chamar assi, que permite que qualquera pessoa dentro de umha sala de videoconferência expulse a outra ou outras. Do mesmo modo, ainda que a pessoa dona da sala silencie o micro de qualquer outra participante, esta poderá desactivar a acçom. E isto é assi porque, polos vistos, a empresa 8*8 tem pensado lançar umha versom com este “ erro” arranjado. Umha vez que a popularizaçom de Jitsi seja tal que lhes vaia reportar lucros substanciosos.
Aconteceu com outras aplicaçons, sistemas, programas etc. Jabber, que era nos seus inícios também umha aplicaçom de código livre, rematou sendo absorvida por Cisco Systems, um gigante tecnológico sediado em Silicon Valley e que também desenvolveu a aplicaçom Cisco Webex Meeting, com a qual tem um convénio nestes momentos a Junta da Galiza.
ZOOM e o seu uso maciço
Há várias empresas que saírom reforçadas neste periodo de confinamento, ou já como lhe quigermos chamar. A indústria agroalimentária é umha parte delas. As tecnológicas outra e, se calhar, as mais reforçadas. Dentro delas está ZOOM, que em um escasso período de um mês tem acumulado o montante mais importante e atractivo de dados pessoais que ninguém poderia imaginar: as caras de milhons de pessoas, as suas conversaçons, estados de ánimo, gestos… O que pode vir depois e que, com certeza vai vir, pom medo. As suas acçons multiplicárom-se e as expectativas de ganho da gigante chinesa-americana dam pavor. O seu diretor, Eric Yuan, converteu-se em multimilionário depois de passar, precisamente, pola Cisco Systems. Os seus inícios fôrom duros, nom conseguia investimento. No 2019 converte-se em companhia e agora no 2020 explode como fenómeno.
Ao usarmos este tipo de ferramentas, ao igual que usamos twitter, facebook ou o que for, apenas nos perguntamos ou reflexionamos sobre o seu uso. A nível colectivo é muito preocupante este uso inconsciente da tecnologia, muito mais na esquerda. Como é possível que abracemos todo isto sem fazer umha avaliaçom séria, muito mais quando pode haver algumha alternativa mais perto do que pensamos?
Estamos a gerar maisvalia para estas gigantes, a desqualificar e desvalorizar o trabalho de milhares de trabalhadoras, a entregar a nossa intimidade e dados pessoais para comerciar com eles e sabemos, cada vez mais, para experimentar e planificar um futuro que ameaça ser de controlo total baixo o foco das grandes tecnológicas e o 5G. Quanto menos, isto começa a merecer que o pensemos um bocado mais.
Os erros de segurança de Zoom som os erros que toda aplicaçom hoje tem. Zoom compromete-se a nom vender os nossos dados, mas estava recompilando informaçom da nossa IP, o tipo de dispositivo que usamos, o sistema operativo, a ubicaçom e o uso horário da conexom. Todo isto é o que alicerçou a sua suba imparável e o que determinou que durante o confinamento a sua app se descargasse um 86% mais. Por que estamos dispostas a contribuir cegamente ao lucro sem medida destas multinacionais?
Kickeárom-nos, cumpre reflectir
De nom ser porque era real, o que nos aconteceu o sábado parecia de filme. Uns raparigos desconhecidos e, entendemos, inimigos do portal, entrárom provocadoramente a nos expulsar do nosso próprio espaço. Há uns meses, isto poderia ser umha contramanifestaçom ou umha pintada nazi no vidro de um centro social. Hoje sucedeu no espaço virtual ao que inexoravelmente nos vemos empuxadas e o que, desgraçadamente, ameaça com perdurar mais do devido. Mas a virtualidade da acçom nom nos deve chamar a engano. A vigilância, o controlo, o totalitarismo estám mais perto do que pensamos e pode concretar-se a golpe de clique. Toda umha sociedade acelerada e sem pausa, em apenas umha sequência de ordes, confinou-se portas para dentro. Impensável, nom? As consequências psicológicas de todo isto tardarám em concretar-se, mas adivinham-se graves. Todo tem toques de filme de ciência ficçom, mas a exploraçom, a precariedade, a acumulaçom capitalista nas nossas carnes e os seus defensores de choque nom som virtuais. Tenhamo-lo em conta se queremos umha acçom emancipadora digna de tal nome.
Estamos chamadas à reflexom: kickeárom-nos. Enfrentemos o futuro, sem purismos. Neste terreno todas temos contradicçons, todas temos Whatsapp, Facebook ou falamos por ZOOM. Se nom todas, a maioria. Comecemos por abrir janelas ao código livre, a construir parcelas de poder tecnológico desde o comum e para o comum. Porque é umha escolha política, escolhámo-la já. O futuro que se está a desenhar exige-o.