(Imagem: PGL) A jornalista da TVG, Alba Mancebo, explicava nas redes sociais as peculiares técnicas pedagógicas empregadas pola sua mestra na escola de Vimianço: “Muitos acabamos as frases engadindo o -e às palavras. ‘Fum ver o mar-e’. Isto sacarom-no-lo a base de rir-se de nós”. Também denúncia que lhes fijo “quase bullying” por usarem a 1ª pessoa do presente de indicativo do verbo ‘ouvir’: “Vaia risas daquela professora… Hoje non lhe escuito dizer ‘ouço’ a quase ninguém”. Umha senhora que non só desprezava o seu alunado, mas também ignorava escritores tam irrelevantes como Eduardo Pondal ou Luís de Camões. “O pior é a vergonha que nos meteu dentro a todos”, assim sintetiza Alba Mancebo a sua experiência escolar.
Isto numha comarca maioritariamente galego-falante a começos dos anos 2000. Nom é difícil imaginar o que pode sentir umha criança numha escola castelám-falante quando é a única que fala diferente. Num par de meses, tam esmagador desequilíbrio afogará qualquer resto de galego. Penso em Icia, de Cabanas, ou em Júlia, de Narom, duas meninhas que de repente deixárom de falar a mesma língua que as suas maes. O galego apenas é oficial nos papeis, de facto as agressons continuam.
Quem se achegar à Semente-Trasancos ficará impactada pola beleza do bosque de ribeira em que se atopa. Ali é fácil coincidir com as crianças de primário a brincarem numha imaginária escola de Hogwarts. Entre os amieiros erguem muros, despregam pontes, abrem furados. E armadas de varinhas mágicas ceivam feitiços protetores: Expecto patronum!
Acompanhar os interesses transforma-se numha arte mágica e poderosa. A cotio presenciamos fabulosos encantamentos, como o dum meninho de sete anos a devorar as 254 páginas de Harry Potter e a pedra filosofal e, para além disso, lida na ediçom portuguesa: cão > cam, então > entom, coruja > coruja, vassoura > vassoura. Como se explica este milagre? Pois porque as crianças galegas nom som estúpidas. É triste, mas ainda hoje cumpre lembrá-lo. Aliás, esta escola constitui-se como um espaço seguro, é dizer, livre de violências machistas e linguísticas. As pessoas adultas acreditam nas crianças e as crianças, nas pessoas adultas.
As motivaçons mudam e estes dias de confinamento andam a conhecer os animais do planeta. Em casa descobrimos com abraio o nome dum mamífero que perante o perigo produze umha aspersom nauseabunda e que em galego internacional se chama “doninha-fedorenta”. Ou que esse diminuto pássaro de bico alongado que se alimenta de néctar é conhecido como “beija-flor”. Palavras tam nossas para animais doutros continentes e que na Galiza entram polo castelhano.
O binormativismo apresenta-se como umha necessidade para reforçar a identidade linguística dos e das miúdas. A Semente leva-o cada dia à prática. Como bem afirma Sara Rei, docente da Semente-Compostela: “Acho que é fundamental para a autoestima linguística das crianças, também para terem acesso ao mesmo tipo de literatura, música ou audiovisuais internacionais”. Parece meigaria, mas é real. Partilhamos um mesmo idioma com outros países. Porém, para a maior parte da populaçom esta evidência continua a ser ocultada como um segredo perigoso.
O ano Carvalho Calero nom pode reduzir-se ao 2020, também nom ao 2021. A melhor homenagem que podemos realizar ao ilustre professor ferrolano é apoiarmos as escolas Semente. Neste momento, especialmente o projeto Moas que procura adquirir um novo local para acolher todo o alunado de Compostela. A sua consolidaçom abrirá portas e janelas no resto do sistema educativo galego.
“A magia existe e pode ser de todas”, a conviçom de Xoana Torres inspira-nos. Os e as feiticeiras da Semente restituem a nossa dignidade. Encantam-nos: Expecto patronum!