Publicamos a seguinte achega literária de Tamila Além González (Ourense, 1994). Esta moça, com dous livros publicados (“Darling bolboreta” e “Tremenda muller”) envia-nos estas poesias arredor desta quotidianedade cinzenta, contrastando-a com paisagens oníricas, onde os sentimentos se debatem entre a raiva e a tristura. Continuamos assim fazendo-nos eco das obras que nos enviam desde diversos pontos do país, sendo mais um espelho da criatividade do nosso povo.
DIA 5 EM CORENTENA
Hoje estava sendo todo bastante estático
Um novo milénio cheio de desinterese
avançava
Um vírus novo e descongelado
caiu do céu todopoderoso
E umha povoaçom com medo
já nom caminhava
Todas eramos menos
Mas juntas eramos mais
Ante umha nova forma de apego
e com tanta clientela virtuosa,
Poderia definir-se um novo espaço de incertidume,
o que de normal seria livre.
Sentiamos um raro síntoma,
Um estado asexual e em paro cardíaco.
Se queriamos cambiar,
Nom tinha por que ser todo tam rápido,
Algo menos disciplinário
Algo máis coerente
Algo com arte e saude obreira.
Enjauladas polas própias mentes do poder,
Algo que ninguém nos está explicando,
Algo duro de entender,
Inasumível desde umha perspectiva humanista
ou simplemente desde a razom.
Todas somos o virus,
vários coronavirus há.
Mas onte,
limpamos as janelas
e atopamos a luz a travês delas.
Arranxamos a cocinha
e trabalhamos a culpa.
O incandescente estado de autocuidado
com o que ninguém contou,
é o noso propio amor.
Hoje especularemos numha nova concepçom de isolamento,
Quiçás tentadas pola conspiraçom e a fame
hoje somos,
coma sempre,
um mero produto
do que até agora, fomos mercando.
A ver se manhám,
já somos menos.
26/02/20
O nocelho da vaca estava enfermo
o pico do paxaro tinha cáncer de palavra
as ameixas eram amargas de tanto impacto
a chancla da praia multiplicava-se sem vigiáncia policial
os meus beiços ficaram pegados de tanto asombro
a barriga dos cans de rua estava cheia de tragédias.
Os pelos das mulheres semelhava que ganhavam autonomia estatal
mas também semelhava que a ganhavam as mulheres sem pelo.
No final da rua onde a gente de sempre afogava
habia mais vida que nas casas própias.
Quando o céu cantava
o povo enteiro bailaba-lhe a êpocas antigas.
Pode ser que a êpocas melhores,
pode ser que ai houbera beiços mais contentos
Umha paisagem mística começou umha terápia
para nom perder tanta personalidade e autogerir o conflito.
Um cativo alegre,
perpetua o descontrol da logística da cidadania enteira,
quando sinte o amor.
As masas,
amasam
amansam
e cansam.
O tempo,
o bo
o malo
a brevidade do tempo.
Isso ainda semelha que nom se merca,
como as ideias da conciência plena.
Umha mata de árvores encendidas
umha ilha em coma
um berce durmido em espanto,
um olho cego de tanta raiva.
Às veces semelha
que nada existe.
Às vezes existe todo com demasiada força.
Se pensamos,
todo carece de explicaçom aparente.
Todo pasa quando todo cesa.
A vida pasa,
nós pasamos,
pousamos
amamos
abortamos misons suícidas,
e conectamos com o mundo.
Só é nessa sincronia,
nesse intre armónico e real,
quando o melhor respiro de aire,
entra para salvar-nos.
Quando respiramos
esse olho cego de raiva,
vai-se do enfado.
Ali, onde berravamos
foi onde nunca escoitaramos nada.