Autor do aclamado “Big farms make big flue”, Rob Wallace é um cientista norteamericano que tem estudado os efeitos da gadaria industrial na expansom de vírus; como um dos autores que aponta à responsabilidade do produtivismo capitalista na emergência que vivemos, consideramos de especial interesse esta entrevista, que traduzimos do inglês.

Até que ponto é perigoso o Coronavirus?
Depende do momento em que um se topar localmente no brote: no primeiro estádio, no ponto álgido, na queda da curva? Dá umha boa resposta a tua sanidade pública? Qual é a demografia da tua regiom? E a tua idade? Estás comprometida imunologicamente? Qual é a tua saúde subjazente? Adscreve-se a tua imunogenética -a genética que reforça a tua resposta imunológica – com o vírus, ou nom se adscreve?


Entom toda esta lea com o vírus é apenas política do medo?
Nom, em absoluto. Populacionalmente, o Covid-19 situa-se entre um 2 e um 4% na taxa de letalidade (TL) no início do brote no Wuhan. Fora do Wuhan, a TL semelha decrescer até um 1% ou menos, mas também semelha acentuar-se aqui e acolá, incluindo áreas da Itália e dos Estados Unidos…o seu rango nom é muito se o compararmos, por exemplo, com o 10% do SARS1, o 5-20% da gripe de 1918, o 60% da gripe aviar, o 90% nalguns momentos do Ébola. Certamente, supera o rango 0.1% da gripe comum. Cumpre copar o que se denomia penetráncia genética ou taxa de ataque á comunidade: a percentagem da populaçom global que se vê “penetrada” polo virus, que contrai o vírus.

Poderia ser mais específico?
A trajectória global é dumha conectividade sem precedentes. Sem vacinas ou antivirais específicos para coronavírus, nem imunidade massificada para o vírus polo momento, mesmo só umha pressom dum ínfimo 1% pode ser um perigo considerável. Com um período de incubaçom de até duas semanas e umha evidência crescente de transmisom da doença antes de sabermos se a gente está infectada, apenas uns quantos lugares vam ficar livres de contágio. Se por exemplo o Covid-19 regista um 1% de fatalidade no curso da infecçom de 4000 milhons de pessoas, isso som 40 milhons de falecimentos. Umha proporçom pequena dum número alto continua a ser um número alto.

Som números alarmantes para um patógeno ostensivelmente pouco virulento…
Som, e estamos apenas no início do brote. Cumpre entender que muitas novas infecçons mudam no curso dumha pandemia. Infectividade, virulência ou ambas as duas podem atenuar-se. Por outra parte, a virulência pode aumentar em outros brotes. Na primeira vaga pandémica da gripe na primavera de 1918, esta era, relativamente, umha infecçom leve. Foram a segunda e a terceira vaga nesse inverno, e em 1919, as que mataram milhons.

Mas as cépticas da pandemia arguem que muito pouca gente se infecta ou falece, em comparaçom com a gripe comum. Qual é a sua opiniom?
Eu seria o primeiro em celebrar se esse brote fica em nada. Mas estes esforços por minguair os potenciais perigos do Covid-19 citando outras doenças mortais, nomeadamente a gripe, é um instrumento retórico para deslocar a preocupaçom sobre o Coronavírus a um lugar errado.

Entom compará-lo com a gripe é um erro
Nom fai sentido comparar diferentes patógenos e em diferentes partes das suas epicurvas. Si, a gripe comum mata milhons de pessoas arredor do globo, até 650000 ao ano. Covid-19, porém, está apenas a começar o seu trajecto epidemiológico. E, ao contrário do que a gripe, nom há vacina nem imunidade massificada para enfrear a infecçom e proteger a populaçom mais vulnerável.

Ainda que a comparaçom for enganosa, ambas as doenças pertencem a um grupo específico de vírus, RNA vírus. Ambos os dous provocam infecçom, ambos os dous afectam à àrea da gorja e da boca, e por vezes aos pulmons, ambos os dous som bem contagiosos.
Som semelhanças superficiais que falseiam umha parte crítica na comparaçom das doenças. Conhecemos as dinámicas da gripe. Sabemos muito pouco do Covid-19. Estamos envurulhadas de incógnitas. De facto, há muito sobre o Covid-19 que nos vai ser desconhecido até o brote nom se espalhar e desenvolver completamente. Ao mesmo tempo, cumpre entender que nom se trata de Covid-19 versus gripe. É Covid-19 e mais gripe. A emergência de múltiplas infecçons capazes de virarem pandémicas, a atacarem a populaçom em combos, devesse ser a preocupaçom principal.

Estivo a pesquisar sobre epidemias e as suas causas por anos a fio. No seu livro “Big Farms Make Big Flu”, tenciona assinalar as conexons práticas entre a gadaria indutrial, a agricultura orgánica e a epidemiologia viral. Qual é a sua conclusom?
O perigo real de cada novo brote é a negativa, ou melhor dizendo, o rejeitamento a aceitar que cada novo Covid nom é um incidente isolado. A crescente expansom de vírus liga-se intimamente com a produçom alimentar e o lucro das corporaçons multinacionais. Qualquera um que pretenda entender porque os vírus viram cada vez mais perigosos deve investigar o modelo industrial de agricultura e, especificamente, a gadaria industrial. Na actualidade, muito poucos governos, muito poucas cientistas, estám prontas para fazê-lo. De facto, todo o contrário.


Ao abrolharem os novos brotes, os governos, os meios de comunicaçom e a maioria do “establishment” médico focalizam a sua atençom em cada emergência em concreto e descuidam as causas estruturais que conduzem múltiplos pátogenos marginais a fazerem-se celebridades repentinas, umha e outra vez.


De quem é a culpa?
Já dixem que da agricultura industrial, mas a situaçom é mais complexa. O capitalismo está a invadir a ponta de pistola até o último dos bosques primários, e a pressionar à pequena labrega em todo o mundo.


Estes investimentos e este “desenvolvimento” ocasionam deflorestaçom e emergências sanitárias. A diversidade funcional e a complexidade que estas enormes extensons de terra representam estám a ser tam desatendidas que o que eram patógenos “engaiolados” agora estám a espalhar-se em gado local e comunidades humanas. Em resumo, capitais como Londres, Nova Iorque, Hong-Kong deveriam ser consideradas como principais focos.

Para que doenças?
Nom há nenhuma cidade livre de patógenos. Mesmo as mais remotas estám atingidas. Ébola, Zika, os coronavírus, a gripe amarela de novo, umha variedade de gripes aviares, peste porcina africana som alguns dos muitos patógenos que se estám a deslocar dos mais remotos países “subdesenvolvidos” até aos peri-urbanos, capitais regionais, e daí à urbe global na sua totalidade. Desde morcegos da froita do Congo, até rematar matando turistas que tomam o sol em Miami no espaço dumhas semanas.

Qual é o papel das companhias multinacionais neste processo?
O planeta Terra é basicamente o Planeta Granxa nestes momentos, quer em biomassa quer em território utilizado. A indústria agropecuária está tencionando acurralar o mercado alimentar. A quase totalidade do projecto neoliberal está organizado por volta do esfoço colectivo de empresas localizadas nos países mais avançados industrialmente para roubar a terra e os recursos dos países mais fracos. Como resultado, muitos destes patógenos -que estavam previamente coutados em ecologias muito evolucionadas – agora estám a espareger- se, ameaçando o planeta.

Que efeitos tenhem nisto os métodos da indústria agropecuária?
A agricultura capitalizada que substitui ecossistemas mais naturais possibilita as condiçons para os patógenos poderem convertir-se em fenótipos do mais infeccioso e virulento. Nom poderias desenhar um melhor caldo de cultivo para criares doenças mortais.

E logo?
Criar monocultivos genéticos de animais domésticos elimina qualquer jeito de catalizador imunológico que puider existir para frear a transmisom. Umha populaçom densa e elevada facilita uns índices maiores de transmisom. Estas condiçons reprimem a resposta imunológica. Um alto rendimento, comum a qualquer tipo de produçom industrial, fornece o combustível para a evoluçom da virulência. Por outras palavras, a indústria agropecuária está tam centrada em obter lucros que o facto de estender um vírus que puider matar milhons de pessoas vê-se com um risco que paga a pena.

Que quer dizer?
Estas empresas, simplesmente, externalizam o custo das suas acçons -epidemiologicamente perigosas – no resto. Desde animais, até consumidoras, granxeiras, passando polo contorno local, até atravessar as jurisdiçons dos governos. Os danos som tam extensos que se tentássemos recuperar esses custos do balanço empresarial, a indústria agropecuária tal como a conhecemos estaria acabada para asempre. Nom seria possível para nenhuma empresa recuperar- se dos gastos que ela mesma ocasiona.

As preguntas forom realizadas por Yaak Pabst para a revista alemá Marx21. Traduzido ao galego por Helena Salgueiro da versom em inglês. Podes lê-la aqui: https://www.marx21.de/coronavirus-agribusiness-would-risk-millions-of-deaths/

1 Epidemia do Síndrome Respiratorio Agudo Grave entre o 2002-2004}