Na semana passada, o dia 20 de abril, acontecia algo histórico: o preço do barril de petróleo cru WTI cotizava em cifras negativas por primeira vez na história, chegando a cobrar os inversores 37,63 dólares por cada barril de petróleo comprado. No dia de hoje, embora em valores mui baixos, já volve a registrar valores positivos, mas o feito de que umha matéria prima tam cobiçada como o petróleo (a que mais condicionou a geopolítica no último século e um dos principais casus belli desde a década dos anos 70) chega-se a desvalorizar-se de tal jeito nom deixa de surpreender. Mas qual foi a causa?

Tipos de petróleo

Para tirar um pouco de luz é necessário em primeiro lugar esclarecer que existem muitos tipos de petróleo cru, mas os quatro principais som Brent, WTI, Dubai e a cesta OPEP.

O Brent é umha mistura de quinze tipos de cru procedentes da regiom do mar do Norte, entre as ilhas britânicas e a costa de Noruega. Esta marca é usada como referência para os mercados de cru na Europa. Trata-se dum petróleo de alta qualidade porque tem um baixo nível de enxofre e umha densidade mui baixa. Por estas duas qualidades é ótimo para produzir gasóleo, gasolina e querosene, os derivados do petróleo mais demandados.

O WTI (West Texas Intermediate) é um tipo de cru que se produze nos EUA, nos estados de Texas e Oklahoma. A qualidade deste tipo de petróleo é ligeiramente melhor que o Brent, pois é mais doce e ligeiro (menor porcentagem de enxofre e menos denso) polo que o seu refinado é ainda mais singelo. Apesar da sua qualidade, o preço do WTI acostuma ser mais baixo que o do Brent. O WTI funciona como referência nos mercados norte-americanos.

Em ambos os casos a unidade da sua cotizaçom é o barril, que representa 42 galons, ou 159 litros. Cada contrato está formado por mil barris. E mais importante que as unidades de cotizaçom ou as propriedades físicas é que tanto o Brent coma o WTI som matérias primas que cotizam no mercado de futuros, em concreto no ICE (Intercontinental Exchange) e no NYMEX de Nova Iorque, com datas de entrega para os doze meses do ano. Isto quer dizer que a cotizaçaom negativa do barril de WTI nom era o preço do barril atual, mas do preço do barril que devia entregar-se no mês de maio. O barril de Brent também sofreu quedas importantes, mas mantivo-se sempre em valores positivos.

Conjuntura mundial

O que está a acontecer com o petróleo é o que já analisava Karl Marx no Capital ao falar da lei da tendência à queda da taxa de lucro. Esta conclui que a acumulaçom continua do capital tende a colapsar o capitalismo (por excesso de produçom) e que portanto constitui o espinhaço do marxismo revolucionário.

A medida que a taxa de lucro diminui, os capitalistas querem neutralizar esse efeito incrementando a produçom para deste jeito manter o lucro. Mas a produçom foi demasiado elevada nos últimos tempos, o que somado ao desmoronamento da demanda de combustíveis provocada pola crise do COVID-19 (por exemplo os voos mundiais reduzírom-se em mais dum 80 %), provocou que agora o excedente seja enorme. Os tanques de reserva estám cheios e a previsom é que as reservas já ultrapassam as demandas futuras. Ao nom ser necessário um consumo tam elevado durante os vindouros meses, os produtores nom tenhem a quem vender e os compradores querem desfazer-se do cru para nom ter que fazer fronte a gastos de armazenamento.

O que poderia ser umha boa notícia, o excedente dumha matéria prima ou um combustível tam útil, no capitalismo converte-se numha maldiçom. Como é possível que o excedente de algo tam necessário para a nossa sociedade seja umha mala nova?

Ainda por riba, o preço tam baixo do petróleo significará um retrocesso nas energias renováveis, pois nenhum capitalista investirá em energia solar, eólica ou hidráulica quando a energia fóssil é tam barata.

Além da crise conjuntural

Enquanto todos falam de pandemias e culpam o coronavirus da crise, esta caída nos preços do petróleo pode que seja consequência dum cambio de modelo no sistema económico mundial tal e como argumentava a economista basca Nekane Jurado num artigo publicado este mês no portal La Haine.

A tese de Jurado estriba na fim do patrom do petrodólar, fruto do acordo bilateral de 1971 entre EUA e Arábia Saudita em que o pais árabe (primeiro produtor de petróleo) se comprometia a vender todo o seu petróleo em dólares a cambio de proteçom militar, e no nascimento do patrom yuan-ouro liderado pola China.