Cada ano, no mês de abril, um grupo de voluntários e voluntárias de todo o país juntavam-se na paróquia de Abelhá, no concelho de Frades, em acto de recordo e desagrávio de três guerrilheiros caídos em combate contra a guarda civil em 1947. O vírus, entre outros muitos atrancos à nossa normalidade, impediu também este saudável exercício de memória antifascista. Mas com a vontade de prosseguir as nossas vidas apesar da adversidade, promotores do acto chamam a ter presente a data nas nossas moradas; a homenagem, que se iria celebrar no vindouro sábado, mantém-se em certa medida na consciência de cada um e cada umha das assistentes. Para isso está a circular um documento pola internet que este portal tem o gosto de noticiar.
Baldomero Iglesias ‘Mero’, histórico militante da causa galega, conhecido especialmente polo seu papel na difusom da música popular e de protesto, lembra num completo texto os feitos acontecidos naquele abril de 1947, justo há 73 anos. Numha década em que a única guerrilha activa na Galiza era a de direcçom comunista, tem muito sentido dar a palavra ao vozeiro do PCE, que redigira crónica dos feitos:
“No seu posto de combate à frente dos seus bravos guerreiros, morreu o grande Ponte, em companhia de dous dos seus entranháveis camaradas…Juramos-che que o teu sacrifício nom será estéril. Prometemos ser dignos à tua memória e combater deica as últimas gotas do nosso sangue, pola libertaçom da Galiza…viva a República.”
Com efeito, na cilada caía umha das figuras mais carismáticas da guerrilha galega, Manuel Ponte Pedreira, ‘Xastre’ ou ‘Miracielos’. Trás o recuar dos combatentes da órbita socialista e anarquista, fundamentalmente organizados no leste do país na Federaçom de Guerrilhas de Leom Galiza, os comunistas decidem dar um passo para a frente. Descartam que a derrota nazi-fascista conleve a restauraçom da democracia no Estado espanhol, e por isso promovem o Exército Guerrilheiro da Galiza: divide-se em 5 agrupaçons; a IV, correspondente à província da Corunha, tem umha vitalidade especial: alimenta-se dos núcleos obreiros do noroeste galego sobrevivintes em factorias e quartéis, e dá alguns nomes sobranceiros para a nossa memória de país: Benigno Andrade ‘Foucelhas’, José Gómez Gaioso, Antonio Seoane, e o próprio Manuel Ponte.
Segundo estudos realizados por Bernardo Máiz, reconstruindo pormenorizadamente a história guerrilheira galega, o ano 1946 foi especialmente virulento. O EGG tem umha forte organizaçom e começa a difundir o seu vozeiro “El Guerrillero”. É nesse contexto em que vai cair Marcelino Rodríguez Fernández, ‘Marrofer’, mestre asturiano e militante do PCE que fora um dos fundadores do Exército. Chefiando a IV Agrupaçom ‘Pasionária’, Manuel Ponte vê-se atrapado numha cilada mortal. No tiroteio caem junto a ele Manuel Díaz Pan e Manuel Rodríguez ‘O Asturiano’.
Os feitos
O historiador antes citado vaziou a causa 200/1947, que regista todo o acontecido segundo a versom da oficialidade franquista. Logo dumha enorme rusga na comarca de Ordes, que se salda com até 70 pessoas detidas, dúzias de guardas civis rodeam a casa onde se refugiam os guerrilheiros. Tentando rachar o cerco, caem abatidos os três combatentes, todos eles pertencentes ao destacamento ‘Manuel del Rio Botana.’ Apenas fogem dous deles, Emilio Pérez Vilariño e Juan Couto Sanjurjo.
Para além da figura Manuel Ponte Pedreira, a historiografia fijo grandes esforços por reconstruir o perfil dos outros dous caídos. Manuel Díaz Pan, ‘Rogelio’, era um moço de 29 anos nascido em Sam Pedro de Nós e filiado à CNT, cujo irmao José María morreria também na guerrilha em 1951. Pouco sabemos de Manuel Rodríguez, ‘O Asturiano’, apenas que tinha apenas 19 anos, e procedia dumha família duramente castigada polos fascistas.
Desde 2009, um monolito lembra os caídos e por extensom o Exército Guerrilheiro da Galiza e todas as pessoas retaliadas polo golpismo. O acto leva celebrando-se, segundo lembra Baldomero Iglesias, mais de vinte anos, com a presença de familiares de Ponte e Díaz Pan. As pessoas mais próximas aos guerrilheiros intervinham no acto com pequenas intervençons que glossavam os personagens e davam detalhes da sua vida; como complemento, outras intervençons políticas vindicavam a memória sequestrada polo silêncio imposto. Bandeiras da pátria e republicanas espanholas acompanhavam a homenagem, amenizada com música. A jornada completava-se com um jantar de irmandade na Berxa, no concelho de Mesia, num merendeiro regentado por descendentes de colaboradores da guerrilha.
Eis um acto que se fijo já parte do calendário obrigado da memória galega. Por palavras literais de Baldomero Iglesias, “que este ano nom poidamos estar fisicamente juntos, nom quer dizer que nom poidamos lembrar aquele sublime exemplo, o de todas aquelas pessoas que dérom a vida pola única veraz, a Causa da Galiza e da Liberdade. Da Dignidade, em definitiva. Porque esta resistência, quigermos ou nom, é a única saída da esperança.”