“Sobre como o estou a viver:

Com tranquilidade, rebeldia e prudência. Na comunidade, é dizer, fora da ciudade, a situaçom é muito outra; os alimentos estám na horta, há reservas de milho e frijol, todos os días tomamos águas quentes medicinhais, exercitamos o cuerpo com o trabalho agrícola e de pequena gadaria.

O pánico nom é tam grande porque nom há suficiente tempo como para perder o dia vendo Fake News, teorias de conspiraçom e as cadeias do mal governo. As relaçons sociais som as justas e necessárias, a solidaridade é absoluta com a conhecida e a extranha.(…)

Nom há expectativas sobre ajudas do estado, o estado historicamente abandonou e permitiu a exploraçom destas terras.

As crianças sem aulas na escola aprendem mais da sua cultura e língua na casa com as suas famílias, em especial con as suas avôs. (…)

Nom só temos umha emergência sanitária, temos umha emergência climática, de escasseza de água, de refugiadas vítimas da guerra em médio oriente, do narcotráfico em Latinoamérica e refugiadas ambientais pola destruçom dos seus ecossistemas de vida, temos um incremento exponencial de feminicídios em todos os continentes e umha corrupçom cada vez mais descarada (…)

Nom chega com lavar as maos e ponher-nos umha mascara, temos que construir outros mundos possíveis e tecer novas arcas.

Sementar os nossos alimentos, organizar-nos, recuperar a medicina natural, apoiar-nos na ciência autónoma, criar mais escolas, colégios e pluriversidades livres, atopar fendas nas crises e repensarmos a forma de vida colectiva, é tarefa das rebeldes…”

Comunicado do EZLN (Exército Zapatista de Libertaçom Nacional)

Se bem alberga a maior parte da populaçom, apenas o 30 por cento do nosso país se pode considerar urbano, “strictu senso”. Fora dele, ou às margens, pervive umha realidade bem distinta nos jeitos de vida, valores e idiosincrasia, que atinge também às formas comunicativas e de organizaçom social.

A resposta, tanto do Governo desde Madrid como o da Junta à crise “do Coronavirus” foi pôr inumeráveis proibiçons à produçom agricola, mentres grandes superfícies como Hipercor alongavam os seus horários de apertura e continuava-se a promover o transporte a longa distáncia de alimentos e outros enseres, produzidos em muitos casos baixo mao de obra escrava. Umha práctica -muito ao estilo de Amancio Ortega- que responde a interesses capitalistas, mentres que se pom em evidência mais que nunca a lógica de “todo serve polo benefício“, e a alimentaçom nom é umha excepçom.

Vivemos, por palavras de Núria Segura Insa, num ” sistema extractivo sobre os recursos naturais, como a megamineria a céu aberto, os desmontes de bosques nos territórios” que ” desde as formas produtivistas do sistema capitalista, que só persegue maximizar ganhos, gera estragos para a vida especialmente na produçom de alimentos mediante o sistema agroalimentário industrial que é o grande responsável pola crise climática a nível global”

Activistas de todo o mundo reunidas na Campanha por um Currículum Global da Economia Social e Solidária apontam que as economias transformadoras (economias feministas, a agroecologia, os comuns e a economia social e solidária) som a resposta à actual crise sanitária e económica desatada polo covid19, desatada polo modelo capitalista. A elas, opinam, deve-se somar o saber ancestral dos povos “originários”, assi como a solidaridade e o trabalho comunitário.

Muito mais do que umha campanha

” #QuedaNaCasaPeroNonEnSilencio e denúncia os múltiples assasinatos, desafiuzamentos, bloqueios económicos, criminalizaçom da luita, despedimentos massivos, precarizaçom da vida, negligência dos estados (…) prácticas fascistas, patriarcais e militares contra os povos em tempos de Covid19 (…). Esta crise amossa-nos, de novo, a urgência dum cámbio profundo do sistema capitalista, que nom funciona e que é insostível e incompatível coa natureza e a vida. (…)”

Comunicado de Via Camponesa

«(…) Fluxos de capitais, gestom de multinacionais, imagens audiovisuais, informaçons estratégicas, programas tecnológicos, tráfico de drogas, modas culturais… (…)

As prácticas sociais dominantes som aquelas que estám incorporadas às estruturas sociais dominantes. Por estructuras dominantes entendo os dispositivos de organizaçons e instituçons cuja lógica interna desempenharem um papel estratégico para dar forma a prácticas sociais e à conciência social da sociedade en geral» (Manuel Castells)

Campanha labrega

O Sindicato Labrego Galego e outras entidades estám levando adiante umha campanha a prol da autosufiência rural. Em palavras de María Ferreiro, responsável da Secretaría de Mulleres do Sindicato para o periódico O Salto, “a situaçom que estamos a viver tem-nos que fazer relfectir sobre muitas cousas, entre elas esta realidade da alimentaçom: como nos queremos alimentar e a importáncia da parte produtora, das labregas e labregos”.

Por outro lado, remarcam que se está a viver umha maior dificultade para os cuidados com esta crise, mui relacionada com a precarizaçom dos serviços no rural. “As mulheres do rural seguimos levando o peso dos cuidados, tanto das crianças, como das pessoas maiores ou dependentes. E se antes isto implicava mais trabalho, com a paralizaçom de practicamente todo, aínda recae mais em nós esta responsabilidade e as nossas jornadas alongárom-se ainda mais”.

A data de 8 de abril, à vez que perto de 600 organizaçons e colectivos do país e doutros lugares do Estado espanhol, registavam umha nova carta aos ministério de Sanidade e Consumo onde se exigia formalmente que se “ditem as instrucçons pertinentes às comunidades autónomas e concelhos para que se procurem soluçons para os mercados nom sedentários de proximidade”. Anteriormente receberam resposta do Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentaçom espanhóis, com falta medidas concretas. Esta segunda carta era mais outro passo no marco da campanha #SOScampesinado, umha aliança de organizaçons ecologistas, sindicatos, produtoras e produtores locais, plataformas, cooperativas e grupos de investigaçom que exigem medidas concretas para a protecçom da economia local e o sector agroalimentário a pequena escala.

O feche geralizado dos mercados alimentários devido às proibiçons decretadas polo estado de alarma estám a gerar custes inasumíveis às produtoras locais. Esta situaçom está a afectar profundamente os modos de vida das labregas, ademais de estar incrementando o desperdício alimentário pola imposibilidade de dar saída aos seus produtos, e evitando que cheguem ao resto da populaçom alimentos básicos, frescos e mais sans fronte aos procesados.

Entre outras reivindicaçons, de cara a mitigar o brutal impacto económico que está a provocar a crise nas economias labregas, colectivos e organizaçons da Galiza rural exigem às diversas administraçons que aposten polas producçons locais, as de origem extensiva e as agroecológicas na compra pública de alimentos para fornecer hospitais, centros de maiores, comedores sociais, comedores escolares ou bancos de alimentos; ou medidas fiscais como a exençom do pago de autónomos às pequenas granjas. Ditas organizaçons trabalham incansavelmente a prol dunha alimentaçom sám e sostível, onde a pequena producçom agroecológica agrária e gandeira está na avangarda. Defendem propiciar um tecido forte e resistente a favor dos direitos da classe trabalhadora do campo e das cidades, em contra da precarizaçom da vida, da perda de direitos, dos despedimentos massivos e dos desafiuzamentos. Contra a especulaçom das transnacionais propiciam as suas formas próprias de comercializaçom, bem sejam por meio dos mercados labregos e as feiras de proximidade, assi como inovando noutros sistemas basseados no comércio xusto, troco e outras formas solidárias de produçom e consumo.

Como sabemos, a Galiza baleira, Galiza rural, vive desde decénios sumida numha situaçom de asxalto à autosuficiência. As medidas coloniais do poder deixárom e estám a deixar um vazio geracional e territorial imenso sobre as necesidades do campo. Paradoxicamente, som muitos as pessoas que vivindo no meio rural tenhem a grande fortuna de poder abastecerem-se em grande medida da terra, cobrindo muitas das suas necessidades básicas sem terem que acoder em massa a grandes superficies de consumo, evitando a pandémia actual.

Nestes momentos de crise produtiva tal vez se apontale mais que nunca a necessidade de soberania, de independência e autosufiência em rede com outros povos irmaos. Mas para proteger os nossos recursos, para podermos ser mais sustentáveis, para manter as nossas economias locais e nom depender ainda mais do capitalismo global, para seguir tecendo como formigas as nossas redes de apoio e solidaridade seguramente nos tenhamos que preparar para defender-nos com unhas e carne, sacho e inteligência.