“Perdido No Supermercado
Eu
estou totalmente perdido no supermercado
Eu não consigo mais
comprar feliz
Eu vim pelas promoções
Personalidade
garantida (…)”
Assi começa a mítica cançom de The Clash titulada “Lost in the supermarket”, escrita desde os arrabaldos londinenses dos anos 80. Um tema que poderia ser umha boa banda sonora se filmarsmos o que acontece nestes tempos em qalquer área urbana do país.
As nossas cidades, esses “laboratórios do global” como os definem muitas autoras, estám hoje sumidas baixo o “mando único militarizado” e a incertidume e, desde decénios, na precariedade em distintos ámbitos da vida para as capas populares. E som os supermercados das grandes e menos grandes corporaçons, que solapam a atitivade comercial tradicional e do pequeno comércio, um dos espaços onde se clarifica mais que nunca a lógica do benefício privado por cima das pessoas como eixo do sistema.O seu funcionamento com vínculos transnacionais, onde alimentos, dinheiro, bens… atravesam todo tipo de fronteiras incluem também as áreas rurais do país.
Como se dum rito se tratasse, as empregadas e usurárias de grandes superfícies e supermercados seguimos umhas pautas concretas de comportamento, recebendo umhas ordes litúrgicas – publicidade, códigos de vestimenta, linguagem… De jeito similar às tradiçons de Mc Donald´s, impartidas incluso num “seminário” denominado Hamburguer University em Illinois impartido para os directivos destes restaurantes, estabelecidos por todo o mundo como umha grande aranheira.
O aspecto ritual destas empresas funda-se no poder da tecnologia, a cultura do automóvel, a televisom e a vida rápida. A sua participaçom nele require a subordinaçom temporal a um imperialismo económico e cultural.
«A sobremodernidade é produtora de nom lugares, é dizer, de espaços que nom som em si lugares antropológicos e que … nom integran os lugares antigos … Um mundo (…) onde se multiplicam, em modalidades luxosas ou inhumanas, os pontos de tránsito e as ocupaçons provisionais (as cadeias de hoteis e as habitaçons ocupadas ilegalmente, os clubes de férias, os campos de refugiados, as barracas miseráveis destinadas a desaparecer ou a degradarem-se progresivamente), onde se desenvolve umha apretada rede de meios de transporte que som tambiém espaços habitados; no que o cliente dos supermercados, as máquinas caça-níqueis e os cartons de crédito se comunica sem palavras, mediante gestos, num comércio abstracto e nom mediado; um mundo rendido desse jeito à individualidade solitária, ao fugaz, ao temporal e efêmero (…) Os espaços da circulaçom (vias aéreas, aeroportos, autoestradas), os espaços da comunicaçom (ecras de todo tipo, as ondas, os cabos) e os espaços do consumo (supermercados, estaçons de serviço) aparecem como nom-lugares que frecuentemente se mesturam uns com outros (a rádio e a televisom funcionam nos aeroportos, a rádio e a televisom fam publicidade dos grandes supermercados, etc.). De resto, o conceito engloba tanto os espaços físicos como as relaçons que os individuos mantenhem entre si, umhas relaçons caracterizadas meiante o sugerente termo de «contratualidade solitária», que nos ilustra atravês da figura dos grandes supermercados. Nestes «o cliente circula silenciosamente, consulta as etiquetagens, pesa as verduras ou as froitas numha máquina que lhe indica, com o peso, o preço, depois tende o seu cartom de crédito a umha mulher jovem que submete cada artículo ao registo dumha máquina decodificadora antes de verificar se a tarjeta de crédito está em condiçons».
(Marc Augé)
Supermercados versus lojas de bairro
As grandes superfícies especulam com bens de primeira necessidade e disparam os preços.
Em artigos de vários webs alternativos informa-se como um dia antes de que se declarara o estado de alarme, as grandes superfícies figérom reserva de toneladas de verduras para armazená-las em cámara, disparando os preços nas subastas das praças de abasto. É a pequena comerciante, sem capacidade de armazenamento, quem é obrigada a ter que comprar e vender mais caro.
O comércio local prevê umha queda do consumo quando se retirem as medidas de confinamento, devida á perda de ingressos e ao temor da gente ao desemprego. Acumulam já existências nos armazéns e, no caso dos de alimentaçom, que seguem abertos, notam a preferência dos consumidores por superficies máis grandes.
Muitas pequenas lojas de alimentaçom notam os efeitos da crise sanitária e tenhem menos vendas apesar de que figuram entre as atividades essenciais que seguen a trabalhar. O responsável do Centro Comercial Aberto Ourense Centro, Luis Rivera, asegurava ante Nós Diário, que os postos da praça de abastos notaram umha grande queda nas vendas. Ante a incerteza sobre o momento e as condiçons nas que rematarám as medidas de confinamento, as comerciantes ourensás estám-se “preparando para amanhá, para o que é o mais perentório, e para enviar umha série de propostas” ao Concelho e à Deputaçom. O máis urgente, afirmava, som medidas para ajudar a pagar os alugueiros e os gastos fixos. “Pensar no que vai ocorrer dentro dun mes ou três meses é ciencia ficçom, há que atender o dia a dia. Podo intuir que será complicadíssimo porque a volta será gradual e o consumo cairá estrepitosamente”, indicava.
O responsável da associaçom Comercio Punto Compostela, José Antonio Seijas, assinalava no mesmo meio de comunicaçom galego que o impacto económico é, polo momento, “impossível de calcular”, mas as cifras vam ser “mui sérias”. Considerava que estes negócios som “grandes danificados” em comparaçom com outros.
Supermercados: precariedade e coronavirus
Supermecados alongam os seus horários à vez que carecem de medidas de protecçom, ou mantenhem as mínomas. Lógica do todo vale polo lucro. Sem fazer as desinfecçons adeqüeadamente, as empregadas som expostas continuamente, durante horas intermináveis: estress, ansiedade, impotência… Nalgumhas empresas, tardárom em conseguir mamparas para as caixas, pois ao princípio digerom-lhes que nom era viável, algo que tivo que sair sempre das trabalhadoras, como informam a este portal, igual que o resto do que aqui publicamos. Medidas que vam tomando continuam a inclumprir-se, relacionadas com um direito fundamental a nivel mundial como é o direito à saude. As grandes superfícies colam cartazes de aforo limitado que se incumprem continuamente.
16 de março: a empresa Gadis nom aumenta mas tampouco reduz os horários, mas trabalha-se sem tempo a desinfectar todo. As medidas de precauçom nas caixas som insuficientes. As trabalhadoras trasladam à empresa a necesidade de desinfecçom dos carros por umha empresa externa sem que esta actue de imediato. Pedem mamparas para a caixa e a resposta é que “nom é viável”. Nom é até o dia 20, que ante a pressom popular (vizinhas dos bairros incluidas), se dignam a instalar mamparas protectoras mas nom reduzem o horário tal como lhe reclamavam.
Mercadona limitava-se à entrega de utensílios de higiene às trabalhadoras. A cadeia de supermercados DIA, pola sua parte, anunciava a adaptaçom do seu horário e umha série de medidas preventivas que se limitavam ao “uso de luvas, desinfectantes, carteleria, reforço de comunicaçom em tenda da distáncia minima de segurança” (Comunicado da sua Diretiva). A cadeia de supermecados Eroski fazia públicas, tres dias depois, medidas com o fim de “garantir a segurança das suas equipas e clientes” que se limitavam ao cambio de horários.
20 de março, Lidl: o pessoal solicita máscaras à Associaçom de vizinhas Matogrande, da Corunha. A empresa Lidl, com milhons de euros facturados cada ano, nom as facilita. Supermercados da cadeia Familia estám sem máscaras suficientes. A cadeia de supermercados Froiz nom as tem tampouco. El corte inglés o que fai é ampliar horários, “visto e praze e aval da Junta, com seu decreto de liberdade horária apresentado por Feijoo” segundo informam trabalhadoras afiliadas a CCOO . Pola sua parte, desde Carrefour aproveitavam a situaçom para contratar mais pessoal para respeitar os descansos.
3 Abril. Lucia Freire, da CIG, denúncia publicamente: “Outro positivo confirmado em Gadis, desta volta em Ribeira”. O terceiro na provincia da Corunha e “a empresa segue actuando de maneira irresponsável e sen ponher às companheiras e companheiros com os que estivo em contato em corentena”. Gadis nom informara do positivo dumha das trabalhadoras da tenda de Montero Rios em Compostela à representaçom legal das traballadoras e tampouco adoptara medidas mália, neste caso, a trabalhadora informar à empresa, já na sexta 20 de março, de que tinha síntomas. A trabalhadora à que finalmente se lhe confirmou o positivo em Covid-19 nom deixou o seu posto até a segunda seguinte e, apesar disso, “tampouco se adoptou medida algunha, nem se enviou a compaheiras de quarentena”.
Frente o poder
Frente o poder “dominante, expansivo (…) persiste o espaço dos lugares, no que se constroi e practica a expêriencia quotidiana da grande maioria das pessoas. É um espaço cuja tendência evolutiva tende a converte-lo em algo «cada vez mais local, mais territorial, mais afincado à identidad propia, como vizinhas, como membros dumha cultura, umha étnia, umha naçom … onde se recupera a tradiçom histórica e afirma a geografia das culturas”.
(Manuel Castells)
“Ante esta situaçom de emergência, temos que cuidar-nos mais que nunca. Muitas das nossas vizinhas estám a passá-lo mal e temos que estar do seu lado. Por isso, e pola situaçom que se está a dar nos supermercados, pedimos à vizinhança que: 1) na medida do possível faga a compra na tenda do bairro (…) 2) nom compres no supermercado fora de horas. Há alguns que estám ampliando o horário, vulnerando os direitos laborais (…)
(GAM Corunha, grupo de apoio ao comercio local, 18 de Março)
Frente o poder do capital, as corporaçons, o crédito, as instituiçons espanholas, a policía, as multinacionais…controlado polas elites, a crise poderia provocar novos movimentos nas classes populares e empobrecidas que se indignam polo abuso e mobilizam-se em sindicatos e grupos de apoio mútuo.
Alviscam-se temos tempos de precariedade e “salve-se quem puder”, si. Mas também tempos de mobilizaçons e solidariedade inéditos. Vivemos umha greve de alugueres em curso, de características inéditas na história do no nosso país. Caçoladas como a organizada contra os Borbons ou a do próximo 10 de abril às 12 da amanhá exigem, autoafirmam e atuam contra umha situaçom que semelha virar a pior. #prantandolumes: dúzias de projecçons vizinhais em muros e paredes com consignas reivindicativas, imaginativas e desafiando o discurso oficial. Demandas de renda básica e contra a precariedade, consignas pola insubmisom ao militarismo, escárnio e bom dizer contra o regime.
Ante o lucro de grandes superfícies e supermercados, a gente deixa a sua queixa no correio de atençom ao cliente. Realizam-se denúncias anónimas à inspecçom de trabalho, demandas a diversas instituçons com a finalidade de pressionar para que se cumpram os direitos, como à Valedora do Povo, presom via redes sociais às entidades que jogam coa saude das pessoas polo seu benefício.
O GAM da Corunha, que agrupa já a 800 vizinhas (e segue a somar) iniciava a meados de março umha campanha com o objectivo de apoiar o comercio de bairro e defender os direitos das trabalhadoras dos supermercados. Exigem reducçom de horario de apertura ou ao cliente, para dar tempo as empregadas de desinfectar carros, caixas, mostradores. À sua vez, tecem rede e apoiam as tendas de bairro.
Despregamento de faixas como os realizadas pola CUT diante do Hipercor em Compostela; concentraçons como a realizada pola CIG diante do supermercado Gadis em Ribeira; faixas penduradas das janelas das casas (papaventos em apoio à greve de alugueiros), nas pontes das autoestradas… Denúncias individuais e coletivas obrigam às macroempresas a tomar novas medidas por esta presom sindical e vizinhal.
Todo o que nom entra na organizaçom mercantil da sociedade quer ser excluido, mas topa-se com dissidências, respostas imaginativas, e, o mais importante, atopa-se com autoorganizaçom popular, umha autooganizaçom que tem retos a médio e longo prazo para nom ser varrida pola imposiçom dum novo fascismo económico e político. Quiçá esta situaçom tal vez nom seja mais que um “campo de provas” para um grande plano contra a liberdade.