Que o neoliberalismo entrou em falência é algo que podem admitir estes dias mesmo alguns dos seus mais firmes defensores. Na passada semana, a Junta via-se na obriga de intervir duas residências do grupo Domus Vi em Vigo e Aldám. 120 casos de contágios em pouco tempo fixérom insostível a situaçom. Com o colapso destes dous centros, pertencentes à rede privada de residências mais forte do Reino de Espanha, vinham também a tona múltiplos casos de censura patronal, condiçons laborais indignas e desleixo com as residentes. As bandeiras da gestom privatizada da saúde e dos cuidados aparecem cada vez mais desfarrapadas.
Domus VI já acordara o protesto dum sector da sociedade tempo atrás. Mas antes da expansom do Covid19 nom existia umha consciência tam generalizada da nossa fragilidade, como pessoas e como sociedade. Porém, associaçons como Velhez Digna apontavam por boca de Pepe Fernández más práticas nesta residência, materializadas em casos de sarna, em mortes de anciaos por deficiente atençom, e problemas nos cuidados por falta de pessoal. A crise do coronavirus pujo todo em claro. Associaçons como a de Trabalhadoras de Residências de Galiza (TreGA) fixérom públicas denúncias contra a prática ditatorial do responsável da sua zona norte, Fernández Miguélez. O executivo impujo às auxiliares umha “cláusula de confidencialidade” que impedia falar fora do centro de trabalho do que alô acontecia, apesar de que era gritante a expansom dos contágios e a falta de meios para atender os mais idosos. Em residências como a de Ribadúmia, pertencente ao mesmo grupo, algumhas trabalhadoras trabalhavam com máscaras feitas por elas próprias na morada, ante a falta de garantias sanitárias fornecidas polo centro. A resposta da direcçom do grupo às denúncias é que “iam rodar cabeças”, mas a deslegitimaçom da empresa já alcançou quotas mui altas. A imprensa independente publicou várias reportagens sobre Domus Vi, e no comum da cidadania começam-se a conhecer os resultados de antepor lucros a pessoas.
As origens
Numha casta política, a galega, que olha pasmada para Espanha, nom é difícil alviscar onde nasce a inspiraçom para a privatizaçom dos cuidados. A comunidade de Madrid foi um dos grandes laboratórios na hora de introduzir a visom empresarial na gestom da saúde.
No que atinge ao cuidado a maiores, na capital do Reino começou-se a popularizar a gestom mixta de residências: umha fundaçom pública era a titular da infraestrutura, enquanto umha empresa ‘amiga’ se encarregava do seu funcionamento. Assim aconteceu com as ententes assinadas, entre outras, por fundaçons como ‘Rainha Sofia’ e a empresa Clece, ligada como gigante empresarial ACS, do milhonário Florentino Pérez. Quando esta reconversom começou, o retrocesso das condiçons laborais foi tam grande que mesmo burocracias sindicais como CCOO intervinhérom com dureza, criticando uns salários que mal passavam dos 600 euros, e ritmos de trabalho que derivavam em depressom e estrês, segundo recolheu o Diario.es em reportagens sobre o sector.
O acontecido nas residências de maiores era apenas umha mostra do plano geral da direita extrema espanhola para com a sanidade. E a crise das finanças, o pretexto perfeito para roubar espaço ao público e repartir a torta dos lucros. Em pleno 2013, o director geral de hospitais de Madrid, Antonio Burgueño, impujo um “plano de poupança” para a sanidade que incluía a privatizaçom de seis hospitais que o dinheiro estatal erguera apenas cinco anos atrás, aliás de “externalizar”, por dizê-lo eufemisticamente, 27 centros de saúde. O plano era tam radical, que a própria justiça madrilena o paralisou. Porém, é o conselheiro de Sanidade daquela altura, Javier Fernández Lasquetty, o que hoje gere a crise do coronavirus em primeiro plano na capital de Espanha.
Aprendizes na Galiza
O envelhecimento da populaçom galega, o caladoiro eleitoral que suponhem os votos dos maiores para o PP, obrigam a direita espanhola a ser mais cauta. Sem embargo, por trás dum discurso de defesa do público, as mesmas redes empresariais trabalham na sombra para irem encolhendo aqueles serviços que servem à cidadania com independência da sua renda. Há apenas dous anos, o conselheiro Rey Varela anunciava o “Bono Autonomia”. A evidência incontestável é que apenas no território da CAG havia 10000 anciaos e anciás à espera dumha vaga pública em residência, mas a oferta era insuficiente. Com esta ajuda pública, a Junta garantia um soporte de entre 430 e 720 euros a maiores que pediram entrada num centro privado “enquanto nom lhe dam sítio na pública.”
Deste modo, a autonomia pagava entre umha quarta parte e quase a metade de quotas mensais que se situam por volta dos 1500 euros, cantidade ao alcanço de apenas algumhas famílias, e contribuía assim à expansom das residências privadas. Estas acolhem já o 70% de residentes maiores em todo o território da CAG.
Domus VI, um buque insígnia mui promocionado
As origens de Domus VI situam-se no fim do governo bipartido. Na altura, a sociedade autonómica Sogaserso fora passada a maos de Caixanova e Geriatros, umha empresa pontevedresa. A debacle das caixas situou de vez a entidade no ámbito privado. Fundiu-se com a Barcelonesa Sarquiavitae, e desde entom passou a orbitar na influência de grupos de investimento europeu. Ao leme na Galiza pujo-se Josefina Fernández Miguélez, umha ex-funcionária de Facenda vinculada informalmente ao aparelho do PP; de dirigir umha residência de maiores do Eume, em Cabanas, passa à direcçom do entramado em Vigo. A empresa gere já 22000 vagas em todo o Estado espanhol e 30 residências na Galiza administrativa.
Precisamente nessa cidade topamo-la em maio de há dous anos, promocionada pola Junta no programa Edumotiva. Nele, o governo autonómico dá a conhecer “experiências de reconhecido prestígio e releváncia na sociedade galega”. Diante dum auditório do Colégio Sam Miguel de Vigo, Josefina transmitiu os seus valores a estudantes do ciclo de grau médio de Cuidados Auxiliares de Enfermaria: “nunca me pugem limites, e nunca abandonei os meus sonhos. Passei de zero à direcçom da companhia mais grande de Espanha.” Seguindo o guiom dos livros de auto-ajuda neoliberal, e segundo reconhece o próprio web de Domus VI, Fernández enfatizou: “vós sodes a vossa própria SA. Os limites nom existem.”
Ainda tratando com pessoas idosas no final das suas vidas e em situaçom de fragilidade, a linguagem da guerra empresarial impregna as intervençons deste sector. No Congresso Nacional de Dependência e Sanidade, Andreu Huguet, um dos mandos da empresa, chamava na sua intervençom a levar em conta a importáncia “do convívio de marcas no sector, e do respeito às culturas corporativas:” No mesmo cônclave, o advogado Josep Maria Barcelona, do prestigioso bufete Escura, dava umha palestra intitulada “Possibilidades de acçom ante o impago nas Residências de Maiores.” Nom é surpresa, desde que o novo máximo responsável da corporaçom nada a tem a ver com o sector dos cuidados, a atençom à terceira idade ou a cooperaçom social: chama-se Sylvain Rabuel, e é um executivo francês de 48 que se tem fogueado nos postos directivos de multinacionais da alimentaçom, da telefonia e do turismo de luxo. Na actualidade, dirige a expansom das residências de Domus VI pola França e América Latina.
Promoçom calculada
Em novembro passado, a Conselharia de Economia decidia premiar Josefina Fernández com o galardom “Galicia Global” pola expansom desta empresa (que nem tam sequer é galega) por distintos continentes. O prémio nom é mais do que mais umha peça dumha campanha de promoçom muito desenhada, e que podemos seguir polo miúdo no web da companhia. Domus VI tem umha universidade corporativa e infiltra-se quando pode no mundo das universidades públicas, assinando convénios com a de Barcelona, ou a Pablo Olavide de Sevilha; assina acordos também com instituiçons desportivas como o Baloncesto Monbus Obradoiro ou o Atletismo Santolameu; até mesmo assinou um acordo com CCOO e UGT para lançarem um “plano de igualdade”, plano que os últimos acontecimentos laborais na Galiza demonstrárom ser imaginário. Em qualquer caso, a intervençom pública da empresa é decidida, e procura legitimar socialmente a atençom aos maiores com os critérios do benefício económico.