A Corunha, 31 de Março de 2020.

Néstor Rego (O Vicedo, 1962), docente no ensino médio, secretário geral da UPG, concelheiro em Compostela entre 1995 e 2008, fundador nos tempos de estudante dos CAF, é deputado polo BNG no Congresso. Negociou o acordo de investidura de Pedro Sánchez e trata acotio co resto de forças soberanistas das naçons do Estado que nesta legislatura, tam acidentada como as anteriores ainda que por razons diferentes, venhem dando mostras dumha coordinaçom de maior calado.

Rego leva em Madrid desde o dia 9, confinado desde uns dias depois, num apartamento que até o mês passado utilizaba tam só para dormir e descansar dous ou três dias a semana entre as sesons e as juntanças parlamentares ordinárias.

“Cheguei o dia 9 para assistir ao pleno da terça-feira dia 10. Foi quando se conhecérom os primeiros casos de deputados contagiados polo coronavirus, e eu coincidira com algum deles numha junta de porta-vozes. Daquela decidim ficar aqui por prudência. Corria o risco de converter-me num transmissor do vírus se regressava a Galiza”. Nom fijo o test do covid. Di que se encontra bem. Trabalho nom lhe falta estes dias. Fai parte do comité de crise do BNG, mantém reunions coa executiva do partido, com outras formaçons, acode aos plenos ordinários no Congresso e as comisons que lhe correspondem. É prudente nas valoraçons políticas da gestom da crise por parte do Governo central; mais nom aforra críticas contra Feijoo. “Feijoo adiou as eleiçons, mas nom a campanha do PP”, afirma.

Em que momento entendeu que esta ia ser umha crise grave?

Penso que no BNG fomos mii conscientes desde o primeiro momento do que nós vinha em riba tomando em conta as experiências noutros países. E pensamos que haveria que ter agido com maior decisom e contundência do que se fijo. Verá: em China fechárom a cidade de Wuham imediatamente, e depois a província inteira, que tem case 60 milhons de habitantes. Confinárom a gente rápido e paralizárom toda a atividade. Em Itália, as medidas tardárom mais em tomá-las e vimos o que aconteceu. Por isso insistimos desde os primeiros dias que era necessário fechar Madrid.

Ese foi o primeiro erro do Governo?

Desde logo, os feitos dam-nos a razom. Nom se deveu consentir é que Madrid agisse como centrifugadora do vírus. Tampouco se pode anunciar umha medida e executá-la três dias depois, como no caso de cancelar a atividade escolar e universitária. A gente marchou. Os estudantes fôrom para casa; e muitos madrilenhos, para segundas residências.

Por que nom se fechou Madrid?

Probavelmente por questons políticas e económicas. Vistas as experiências prévias, a medida teria sido eficaz se se tomasse no momento oportuno. E digo Madrid como digo Vitoria ou A Rioja ou Catalunha quando o pediu o presidente Torra. Também teria sido eficaz blindar Galiza. Esta mesma semana conhecemos a opiniom de peritos que aconselhavam agir do ponto de vista territorial entendendo que a situaçom na Galiza é mui diferente a outras situaçons e precisa atuaçons diferentes.

Canto pesou a concepçom centralista e unitária do Estado coa que Pedro Sánchez focou a crise desde o primeiro dia?

Creio que haverá tempo de fazer umha avaliaçom em profundidade deste tipo de questons. O BNG deixou de lado desde o primeiro momento a confrontaçom e manifestamos a nossa disposiçom a colaborar tanto co Governo central como co da Junta. Ese apoio nom é nem mudo, nem acrítico, nem indefinido, porque temos umha responsabilidade co povo galego. Haverá tempo de avaliar por que se fijo o que se fijo. A impresom que temos agora é a que expressei no Congresso é que se pugérom as contas das empresas por diante da vida das pessoas.

Mas, resultou eficaz a centralizaçom do mando?

A centralizaçom do mando nom só nom ajudou, senom que entorpeceu a eficácia de todo o aparato de contençom. Desde o BNG advertimos de que a centralizaçom do mando nom ia na boa direçom. A estas alturas nom é que o digamos nós, é que o pode constatar todo o mundo. É umha decisom que é preciso revisar, porque retirar as competências a quem tem maior conhecimento do território nunca é umha boa ideia.

Em que momento da crise estamos a dia de hoje?

Isso terám-no que determinar os comités de peritos. O que sim vemos é que agora se tomárom algumhas das medidas que considerávamos essenciais. Figemos causa de extremar o confinamento e paralisar certas atividades económicas. Pedimo-lo no pleno do 18 e volvemo-lo pedir no do 25 mediante umha proposta de modificaçom do Estado de Alarma. O PSOE e Podemos e as forças estatais votárom em contra a quarta-feira e o sábado pola manhá estavam anunciando essas medidas. Perdemos três dias.

Que medidas urgentes ainda nom se tomárom?

Infelizmente nom se estám a fazer os tests massivos que vimos pedindo. Também cumpre dotar de material de proteçom ao pessoal sanitário e a todas aquelas outras pessoas que trabalham em zona de risco.

O BNG também é mui crítico coas medidas económicas adoptadas polo Governo. Por que?

Nom vam na melhor direçom. Parecem-nos insuficientes algumhas e, outras, injustas. É injusto que o reparto do fundo social extraordinário se faga com critérios de populaçom e nom de avelhentamento e dispersom da populaçom. Também é injusto que se privilegie o ERTE como mecanismo de resposta das empresas, o que vai em prejuízo dos trabalhadoras, quando se podia optar por apoiar economicamente as empresas ao tempo que se proibiam os despedimentos. A medida de proibir o despedimento é em realidade um cambio na modalidade de despedimento, o que se melhora é a indemnizaçom, mas nom é umha prohibiçom real. Parece-nos insuficiente o apoio aos autónomos ou que nom se recolham medidas em matéria de vivenda como condonaçom de quotas hipotecárias e suspensom de alugueiros. E também é injusto estableecer um mecanismo para que as trabalhadoras tenham que recuperar horas no canto de buscar soluçons mais equitativas para repartir os custos do cessamento da atividade entre as empresas, o Estado e as trabalhadoras.

Se lemos titulares na prensa galega desde a semana passada (“Diagnóstico: fracasso”, “peritos descartam colapso sanitário em Galicia”, “pulso entre Iglesias e Calvinho, descoordinaçom”) e vemos os informativos da Galega dando conta diária dos depósitos de cadáveres improvisados em Madrid, parece que Feijoo já ativou a súa própria estrategia de crise e imporá um discurso de culpar ao Governo central dos erros enquanto se atribui a limitaçom do impacto no país.

Esa decisom do Governo central de centralizar o mando nom só foi um erro do ponto de vista operativo, também lhe deu a Feijoo o pretexto perfeito para a sua campanha. É mui evidente o que está a fazer: umha campanha absolutamente partidista. Feijoo adiou as eleiçons, mais nom adiou a campanha do PP. Vem-se escudando em que as competências som responsabilidade do Governo central, mas para alguém que tem a responsabilidade de velar pola saúde das galegas e dos galegos, nunca pode ser um pretexto. Nom é o momento para que o presidente do Governo galego utilize a situaçom para fazer campanha. É o último que deveria fazer.

Como valora a resposta da Unióm Europea a esta crise?

Cuido que nom houvo resposta. Penso que a Unióm Europea demostrou claramente o que é: umha organizaçom ao serviço dos interesses do gram capital e das potências centrais. A solidariedade interna nom existe. Aliás, está-se vendo o contraste no caso de Itália, que pediu e nom recebeu ajuda da UE e, porém, sim a recebe de países como China, Cuba e Rússia. É mui eloquente sobre o papel que está a jogar cada quem no âmbito internacional e de onde chega a solidariedade.

Que opina da posta em cena desse mando único, com umha surpreendente militarizaçom já desde o momento da comunicaçom?

Penso que a Polícia, a Guarda Civil e o Exército tenhem a obriga de trabalhar no que lhes corresponda desenvolvendo as suas funçons como estrutura do Estado, como qualquer funcionário. Nom há nengumha necessidade de visualizar esse trabalho numha campanha que é umha campanha sanitária e quem está pondo todo para conter o vírus é, fundamentalmente, o pessoal sanitário. O que parece é que, com esta posta em cena, estám-se a perseguir outros objectivos políticos que tenhem a ver com essa ideia de centralizaçom. Isto vai, na nossa opinión, numha direçom oposta ao que deveria ser a linha desde o Estado. E já nom falo de reconhecer a realidade plurinacional do Estado, senom de reconhecer as diferentes realidades territoriais numha crise como esta, que exigiriam coordinaçom e cooperaçom desde o Estado com quem tem nas suas maos os aparelhos para intervir em cada umha dessas realidades.

Está a suceder algo parecido em países da contorna europeia?

Polas notícias que eu tenho, nom. Nom se vê ese papel preeminente das forças de segurança quando menos na comunicaçom. E na China tampouco passou isto. Com independência do que puder passar noutros Estados, nom me parece nem útil nem positivo nem necessário.

Que opina do anúncio da Casa Real estes dias passados da renúncia a parte da herdança do rei emérito por parte do rei filho?

É um anuncio mui relevante porque afeta á Xefatura do Estado e polo que di a respeito das atuaçons passadas e presentes da Xefatura do Estado. O que vem a confirmar a Xefatura do Estado é que houvo corrupçom por parte de Juam Carlos de Borbóm enquanto exercia essa xefatura, e também que o atual Xefe do Estado tinha conhecimento dessa atividade e nom a denunciou. E denuncia-a agora, quando essas atividades se fam públicas polas atuaçons de juízes suíços e as informaçons de meios de comunicaçom suíços e britânicos.

Que opina do momento elegido para o anúncio?

É evidente que foi um intento de aproveitar a atençom mediática sobre o coronavírus para limitar a repercusom da decisom. É indecente e escandaloso. A monarquia nom só é umha instituiçom anacrónica e incompatível com um Estado que se diga democrático, senom que demonstrou neste caso que os Borbons, a Casa Real, pois som umha instituiçom absolutamente corrupta.

Que se pode fazer com esta monarquia?

Deve ser afastada do cenário político.

Há umha frente anti-monárquica de diferentes forças parlamentares, mas Podemos dixo que falaria depois de que se resolva a crise do coronavírus. Essa frente necessita a Podemos para levar adiante a iniciativa de rematar coa monarquia?

As seis forças parlamentares que pedimos umha comissom de investigaçom entendemos que, sendo outras as prioridades neste momento, nom se podia deixar pasar por alto algo tam grave como a corrupçom institucionalizada na Xefatura do Estado. Nom creio que introduzir o debate vaia depender tanto do que figer um partido ou outro, senom de que na sociedade se estenda o descontento e a indignaçom que a cidadania demonstrou com esta caçolada durante o último discurso do rei. E polo que me contam, a caçolada foi especialmente intensa na Galiza, e massiva em todo o Estado. É um sintoma de que a maior parte da populaçom já nom apoia a monarquia e é hora de passar página.

Que lhe pareceu a homenagem que este dias se lhe deu a Amancio Ortega, animado mesmo desde as instituiçons públicas?

É um sintoma de que na sociedade há cousas que nom funcionam bem. Nom vou criticar as doaçons por parte dos empresários. Mas essa colaboraçom por esta via nom pode servir para agachar as suas obrigas desde o ponto de vista tributário ou atuaçons pouco éticas à hora de gerar essas fortunas empresariais. Sempre se di que as doaçons acompanhadas de nota de imprensa nom som altruísmo, senom publicidade. Neste caso é moi evidente, e nom deve servir nem para que se agachem as obrigas fiscais nem o cumprimento de determinados critérios legais ou éticos na atividade empresarial.