(Imagem: elaniorapaz.blogspot.com) Para ver este animal há que ser um verdadeiro amante das montanhas: estar disposto a subir mais de 1000 metros por algumha das nossas serras mais escarpadas: o Invernadeiro, os Ancares, a Cabreira ou os Montes Aquilianos. Nos cúmios mais pedregosos, e se um é capaz de caminhar com sigilo, pode ver a uns centos de metros este animal esquivo, de boa vista e melhor ouvido: o rebezo. Da família das cabras, a espécie sobreviviu à febre caçadora de meados do século XX, e segue a viver lá onde os humanos quase nom o podem molestar.

As nossas vizinhas asturianas chamam-lhe rebezu; os bascos Pirinioetako sarrioa; na Catalunha é o isard, nome idêntico ao francês. Em espanhol é gamuza. Ainda tem outros nomes em várias línguas do sul da Europa: em aragonês é o sarrio ou chizardo, e em italiano camoscio. Na variante portuguesa da nossa língua ‘camurça’ (relacionada com ‘gamuza’) alude a qualquer prenda feita com coiro animal, nomeadamente de cápridos.

A Rupicapra rupicapra, própria dos Apeninos, é a parente europeia da nossa Rupicapra pyrenaica. Imagem: wikipedia
A Rupicapra rupicapra, própria dos Apeninos, é a parente europeia da nossa Rupicapra pyrenaica. Imagem: wikipedia

A subespécie que habita entre nós é a Rupicapra pyrenaica, um bocado mais pequena que a sua irmá, própria dos dos Apeninos. Junto com as ovelhas e cabras, pertencem ambas à subfamília dos Caprinae.

Em 1758 foi classificada por Linneo, ainda que foi um afamado biólogo francês Charles Lucien Bonaparte, o sobrinho de Napoleom, quem descobriu a subespécie peninsular e elaborou umah completa descriçom.

De mediano tamanho, é um animal fornido, mais grande e robusto que o corço, com quem nom devêssemos confundi-lo. Pode levantar de planta até 1,30 metros, e o seu peso alcança os 50 kilos. Chouta com habilidade pasmosa, e pode chegar a dar saltos de oito metros. De cor parda escura, apresenta umha chamativa mancha branca na cara. Os cornos, de mediano tamanho e rebirichados cara atrás, de 20 centímetros, dam-lhe um aspecto inconfundível. O escritor e caçador José María Castroviejo lembra em “Viaje por los montes y chimeneas de Galicia” que é muito difícil de abater: “tem pernas de aceiro, perseverante nas subidas e grande ouvido e vista.” Numha ascensom a Miravales (Ancares), este cronista puido comprovar como os rebezos detectam os visitantes indesejados a mais de 300 metros de distáncia, e assim que os divisam sobem as grandes paredes rochosas com a mesma facilidade com a que nós andamos um caminho qualquer.

Cúmios como os dos impressionantes Montes Aquilianos, no Berço, som idóneos para
o nosso rebezo. Imagem:masrutasymenosrutinas.com

Quiçá porque o grémio dos montanheiros desenvolveu umha querência ecologista precoz, o rebezo foi objecto de certas medidas precursoras. Com motivo da inauguraçom do Parque Nacional de Covadonga, em data tam recuada como 1918, o Marquês de Villaviciosa estabeleceu a primeira legislaçom proteccionista, fundamentalmente em proveito do lazer de montanha que começava na altura. No século XX, nomeadamente na década de 40, estes animais tivérom que sobreviver caçatas muito cruentas, desatadas pola moda do coiro de rebezo para a indústria do vestido.

Polo esgrévio dos territórios que ocupavam, este negócio tivo que recorrer a caçadores experimentados que praticavam a técnica do ajejo e os perseguiam desde o alto, empurrando-os cara o vale.

Umha maior sensibilidade ambiental e certas leis de protecçom propiciárom o medre da espécie, que já nom se acha estritamente ameaçada. Desde 1995, a sua caça está proibida. Porém, nom dispomos de cifras actualizadas. Segundo um inventário de há duas décadas, nos Montes do Invernadeiro viviam 38 exemplares a finais do século passado.

A vida nas alturas

Um estudo da Sociedade Galega de Historia Natural, publicado no seu boletim “Braña”, fornece dados muito valiosos do comportamento e vida do rebezo. Nas serras mais altas da Galiza ou Astúries, as mandas de rebezos vivem a partir dos 1400 metros de altitude, e mesmo chegam aos 2000 em Outono. Nestas datas é quando os machos protagonizam as violentas pelejas na época de celo. Alguns dos perdedores vam ser expulsos da manda e botarám a sua vida como rebezos solitários, à espera de serem admitidos em outra manda.

O inverno é umha estaçom difícil para o animal, que decide viver entre 700 e 1600 metros. A neve e as giadas rematárom com os prados de montanha, e procurarám alimento na matogueira, ou nos limites do bosque. Neste último espaço, os rebezos devem de ser cuidadosos, pois estám frequentados polos seus grandes depredadores: lobos e ursos. Na primavera, as mandas volverám a ascender aos cúmios, mas com um conhecimento instintivo do tempo que os leva a esperar o momento propício em que os prados estám verdes.