Há tempo vi um filme que me marcou: Das Experiment. Sabia que estava baseado em feitos reais, mas quando rematou o filme tive a necessidade de procurar informaçom sobre quanto de certo havia no que acabava de ver. Resultou-me apavorante e nom me acabava de crer que o que se narrava no filme acontecera realmente.
O filme trata sobre um experimento psicológico –o experimento de aprisionamento de Stanford– levado a cabo no ano 1971 no qual as pessoas que se prestam a formar parte dele som divididas em dous grupos: presos e carcereiros e devem simular a vida dumha prisom. Os organizadores do experimento nom pugérom nenhuma norma concreta, só se advertiu aos carcereiros que nom podiam exercer violência física sobre os presos, mas que era o seu dever manter a ordem da prisom. A pessoa responsável do estudo também lhes comunicou que podiam “gerar nos prisioneiros sentimentos de tédio, de medo até certo ponto, transmitir-lhes uma noçom de arbitrariedade e de que suas vidas som totalmente controladas por nós, pelo sistema, por vocês e por mim”. Em poucos dias houvo que cancelar o experimento porque havia grave risco para a integridade física e mental dos prisioneiros.
Os promotores do experimento queriam comprovar o comportamento social do grupo, e nomeadamente a teoria da desindividualizaçom. Esta teoria di que os indivíduos dum grupo unido e coeso, tendem a perder a sua identidade pessoal e o sentido da responsabilidade, podendo abrolhar impulsos antissociais.
Agora, com a crise sanitária que estamos a viver, podemos estar a ver um novo experimento a maior escala.
Medidas preventivas
A minha formaçom e os meus conhecimentos impedem-me valorar com critério a gravidade real da situaçom sanitária atual. Além de carecer da formaçom científica específica sobre o tema, a informaçom que recebemos na maioria dos casos nom semelha mui fiável. É complicado separar o grão da palha. Cada dia aparecem novas recomendaçons e conselhos de “expertos” que se contradizem entre sim. O real decreto que declarava o estado de alarma já foi modificado e retificado em vários dos seus pontos, e as medidas das diferentes administraçons som contraditórias.
E algumhas delas mesmo vam contra o próprio sentido comum. Qual é a lógica de ficar recluído na casa toda a fim de semana quando a segunda feira pola manha a gente vai compartir autocarro com dúzias de pessoas, num espaço que nom permite guardar a distáncia de segurança, e depois vai compartir durante oito horas diárias um escritório ou umha linha de fabricaçom numha indústria?
Umha decissom
Como dizia, eu nom conto com a formaçom ajeitada e por tanto nom sei valorar se ficar fechado na casa durante quatro semanas é umha medida excessiva nem se parar toda a atividade económica é algo desproporcionado. Pessoalmente valorei que o melhor é sair da casa o menos possível e só saio para ir trabalhar e fazer umha compra semanal.
Nas redes sociais vêm-se numerosos vídeos onde se pode ver como umha pessoa que vai andando pola via pública é increpado por algum vizinho desde o seu balcom. Na maioria dos casos nom se pode saber qual é o motivo polo qual a pessoa está na rua. Em muitos destes vídeos a pessoas que vai pola rua é parado pola policia e som muitos os casos onde se vem os abusos que cometem as forças policiais, e fica de manifesto a impunidade e o descaro com que atuam. Poderia pensar-se que atuam assim porque creem que ninguém está a mirar, mas todo o contrário, enquanto o policia bate num viandante, há quem, desde o seu balcom encoraja ao repressor.
O grade irmao, onde cada cidadám é um vigilante e um delator, já está aqui. Este desejo de puniçom é umha questom que me está a surpreender e lembra-me ao filme do que falava arriba.
A isto ajudou a linguagem bélica empregada por membros do governo e outras pessoas com cargos públicos de relevância nesta crise. Linguagem também visual, como demostram as imagens das roldas de impressa do porta-voz do Ministério de Sanidade escoltado por militares. Umha linguagem que se estende a quase a totalidade da mídia. Esta focagem belicista cria medo e provoca que umha crise sanitária se aborde como um problema de ordem publico. O medo é necessário para criar desconfiança e inimigos, o medo cria grupos de gente contra os que há que ter mão dura e que deve ser castigada por nom seguir as normas. Em definitiva, cria dous bandos, os bons contras os maus. Esta criaçom de facçons é decisiva para justificar a violência contra o Outro.
E aqui é onde entra o experimento de Stanford que demonstra que o processo de desindividualizaçom leva a umha perda de responsabilidade pessoal e a umha maior sensibilidade para as metas e as açons tomadas polo grupo: o indivíduo crê que suas açons som parte daquelas cometidas polo grupo.
E a questom é saber qual é o nosso grupo. Se o dos poderosos ou o das classes subalternas. A questom nom é se o viandante tem um motivo de peso para sair à rua ou nom. A questom é se escolhemos o grupos dos poderosos e dos seus cans, e temos umha atitude policial, autoritária e de delaçom com a vizinhaça ou bem escolhemos o grupo da classe trabalhadora para rejeitar este autoritarismo crescente, e cooperar e ajudar àqueles vizinhos que o necessitem. Para praticar a ajuda mútua da que nos falava Santiago Quiroga. Deste jeito igual nos damos conta que aquele viandante estava a ajudar a algum vizinho idoso nalgum recado.
Em qualquer caso, se queremos ser críticos, podemos canalizar as críticas cara a quem gere a crise, cara aos responsáveis políticos que enfraquecérom a sanidade pública e os serviços sociais e quem agora nos abriga a trabalhar, ou cara aos empresários que ponhem em risco as vidas alheias porque nom querem deixar de tirar proveito económico.