O primeiro dia de trabalho despois da declaraçom do estado de alarma ofereceu algumhas imagens surpreendes. Em várias cidades do reino de Espanha, entre elas o principal foco da enfermidade, as linhas de metro estavam a primeira hora da manha ateigadas de gente que acudia ao seu posto de trabalho. Na Galiza, nos médios de transporte urbano sucedia o mesmo. Na entrada de muitas plantas industriais entravam enormes ringleiras de operários para começar umha nova jornada laboral como se nada tivesse acontecido.
Se o domingo a imagem era de ruas baleiras por causa da praga, na segunda feira pola manhá semelhava que já nom havia risco de contágio e que tudo volvia à normalidade. O domingo era imprudente dar um passeio por umha rua baleira enquanto na segunda feira já era seguro viajar num autocarro urbano com quarenta desconhecidos para logo botar oito horas seguidas confinados dentro dunha oficina ou dumha planta de fabricaçom.
Mire por onde se mire, carece da qualquer lógica. Se a maquinaria propagandística do regime deixasse de funcionar por um momento, o governo espanhol nom poderia publicar umhas medidas tam absurdas. Se a situaçom é realmente tam grave como indicam as autoridades, é irresponsável permitir que milhons de pessoas vaiam trabalhar e se relacionem como qualquer outro dia. É como pensar que por ter um contrato de trabalho já es imune ao vírus.
Ante esta situaçom, o protesto de trabalhadores e sindicatos nom se fixo esperar. Como exemplo, já na noite do domingo, no bairro vigues de Balaidos houvo umha caçolada para que se fechasse a planta de PSA Citröen ao berro de “Parem Citröen já!” Pola sua vez, as principais centrais sindicais demandárom na jornada de ontem que paralisaram a atividade da planta de montagem porque nom se estava a cumprir a lei de prevençom de riscos laborais pois nom se guardavam as medidas mínimas para previr os contágios. De momento, arredor de oito mil operários da planta de montagem tenhem que seguir a trabalhar mas aguardasse que só o tenham que fazer até a quarta feira incluída, quando está previsto que se esgotem os subministros. Noutras zonas do estado, outras plantas de montagem de automóveis já paralisárom a atividade logo de que os trabalhadores se plantaram por medo aos contágios.
Umha crise com fundo ideológico
Se para algo já serviu esta situaçom de excepçom foi para amossar com mais detalhe umha luita de classes que sempre estivo aí. O papel do capital na atual crise sanitária nom respeita nenhum código ético e antepom o ânimo de lucro à saúde publica. Embora muita gente cresse na fim da historia, a classe dominante, empresários e proprietários, sempre fôrom conscientes da sua existência. Para mostra temos que nada mais iniciar-se a crise, a patronal aproveitou para reclamar medidas que arrimassem a sardinha à sua áscua. Reduçom dos impostos de sociedades e IRPF, prórrogas para o pagamento do IVE, suspensom temporal do pagamento das cotizaçons e também, e sobretudo, a agilizaçom da aplicaçom de Expedientes de Regulaçom de Emprego Temporais (ERTE). E logo de várias semanas em que os médios empresariais apregoavam ininterruptamente as demandas da patronal, muitas destas medidas serám aprovadas no Conselho de Ministros que está previsto para hoje mesmo (terça feira).
Por último, este vírus sacou à luz que a economia depende estreitamente da força de trabalho. Literalmente. Depende dumha força. E essa força unicamente a pode exercer um corpo: o corpo das trabalhadoras e dos trabalhadores que vendem a sua força de trabalho como única maneira de sobreviver. Quando estes corpos enfermam ou nom trabalham a economia colapsa. A economia pode sobreviver sem Banco Mundial e sem FMI, pode sobreviver sem empresários e sem emprendedores, mas nom sobrevive sem os nossos corpos.