Quando vemos o prognóstico do tempo, as ilhas Canárias sempre estám numha caixa na esquina inferior esquerda do ecra. E mesmo estamos afeitos a ver a contorna da península Ibérica sem Portugal. Já todas temos nas nossas mentes a silhueta de Espanha. Também todo o mundo sabe o que é “La Roja”. Na Galiza há mais seareiros do Real Madrid que do Celta de Vigo. Em noite velha todas tomamos as doze uvas vendo as badaladas em TVE e quando éramos crianças aguardávamos polos Reis Magos. E mesmo quando vás à consulta médica e che dizem que tes sobrepeso, a doutora recomenda que sigas a dieta Mediterrânea. Por que sucedem estas cousas?

Comunidades Imaginadas

Este fenómeno foi brilhantemente explicado por Benedict Andersom no livro Comunidades Imaginadas que viu a luz no ano 1983. Neste livro, o historiador centra a atençom sobre a dinâmica da imaginaçom que, estruturada cultural e socialmente, dá lugar a um processo que está no cerne da cultura política: a naçom. Andersom apresentava a naçom como um jeito de imaginar e, portanto, de gerar umha comunidade. Segundo o seu ponto de vista, a naçom é imaginada como umha comunidade, porque, contornando a atual desigualdade e exploraçom que pode prevalecer em cada umha, a naçom é sempre concebida como uma camaradagem profunda e horizontal.

O titulo do livro provocou que se pensara que o autor enfrentava as comunidades imaginadas com as comunidades reais, mas o que defende a tese de Anderson é que todas as comunidades som imaginadas. As identidades nacionais criam-se, inventam-se, mas nom por esse motivo som mais falsas do que qualquer outra obra de criatividade. O importante nom é que os processos imaginativos nacionais sejam certos ou falsos, pois todas as construçons nacionais estám alicerçados sobre mitos, fantasias, mentiras e médias verdades: pensemos por exemplo nalgum dos símbolos fundacionais da naçom espanhola: a Reconquista, o “descobrimento” de América ou o Cid Campeador.

As condiçons materiais

A tese de Anderson defende que quando existem duas realidades nacionais em conflito, neste caso Galiza e Espanha, saem vitoriosos aqueles que conseguem que a populaçom da comunidade se “imagine” como umha comunidade, galega ou espanhola. Aqui entram em jogo as diferentes configuraçons, jeitos e formas que adota a nacionalidade e as condiçons materiais e métodos para a produçom deste processo. A perspectiva de Anderson mantem a ênfase nas condiçons materiais que determinam e conformam a cultura e as instituçons que facilitam a sua reproduçom.

Neste ponto jogam um papel fundamental os médios de comunicaçom que permitem que cada manhá diferentes pessoas que nom se conhecem de nada leiam as mesmas novas no jornal, e na mesma língua. Nom importa que umha seja da Galiza, outra viva em Euskal Herria e outra em Madrid. Ler a mesma atualidade informativa –espanhola– facilitará que se percebam espanhóis pertencentes a umha mesma comunidade.

Outro ator importante na construçom das comunidades (naçons) é a criaçom dumha estrutura administrativa e do seu correspondente corpo de funcionários (policias, guarda civis, juízes, professores, médicos,…) que na Galiza foi um dos principais órgãos de espanholizaçom. Devido a que a Administraçom foi o principal provedor de trabalho em muitas comarcas do Pais, e também o principal modo de promoçom individual, provocou que os novos funcionários de origem galega gerassem umha grande fidelidade aos novos símbolos e códigos da nova “comunidade espanhola”. Algo semelhante sucedeu com os intelectuais galegos, que abdicárom no seu cometido de criar um discurso nacional, pois desse jeito nom era possível ascender profissional e socialmente.

E assim é como está a esvaecer-se a Galiza Imaginada.