(imagem: galiciaconfidencial) A nova TVG gestionada polo governo ultraliberal do partido popular, tivo a gentileza de convidar o sindicalista Antolin Alcántara, cabeça visível das monumentais greves do metal, para participar num desses programas ao uso, em que especialistas de todo o tipo, polemistas vários, e jornalistas acreditados fazem repasso rápido da actualidade mais imediata do país. Além do que se dixo ou se deixou de dizer, pois as palavras ficam rapidamente soterradas sob a urgência dos acontecimentos de actualidade, tal como acontece nos meios de comunicaçom actual, que funcionam como auténticas factorias de opiniom e informaçom consumida à mesma velocidade que um mac menu de euro com a coca cola incluída; à margem do que se dixo ou nom, como dizíamos, fica só a imagem como o único referente perdurável na memória dos telespectadores. É a composiçom desta imagem a que nos interessa, dum lado o ricto sério do líder sindical enfrentado ao jovial e divertido rosto de Carlos Luis Rodriguez, que se recreia na sua perversa felicidade com a cumplicidade dos consagrados polemistas Antón Losada e Blanco Valdés. Na verdade, poderíamos transferir o cenário para umha sala dos tribunais, onde o réu tenta penosamente elaborar argumentos perante juízes e fiscais que escuitam divertidos, sabedores do resultado da desigual batalha.
E é que o réu Alcántara, erra ao dedicar os seus argumentos para discutir com o júri, esperava se calhar que por obra e graça do verbo sindical pudesse convencer os cépticos contertúlios. O espaço que o sindicalista ocupa para explicar, para reflexionar, converte-se assim em espaço para justificar, e quando a justificaçom nom chega para convencer o tribunal, é algo que acontece constantemente nos processos judiciais, o acusado torna em acusador, denunciando os outros, porque nada tenhem a ver com ele; sim, segundo o senhor Alcantara as sabotagens nom tenhem nada a ver com a prática sindical, e seguindo a moda, a condena destas práticas é sem matizes, sem ambiguidade, fica pois fora de toda discusom.
Que se discute entom? O facto de os sindicatos embarcarem-se numha luita polo aumento de salários no sector do metal em plena crise económica, atitude insolidária quando trabalhadoras e trabalhadores do resto do país se sacrificam polo bem geral. Eis aqui o enunciado da demanda; delimita-se assim o campo ao terreno exclusivamente laboral, sem possibilidade de ultrapassar a legítima procura de melhoras num convénio sectorial que afecta a um reduto combativo de trabalhadores, que se organizam de forma assemblear e o suficientemente fortes como para negociar colectivamente com a patronal, num contexto geral de desregularizaçom total do emprego, mobilidade e deslocalizaçom da mao de obra sob a sombra dumha crise convertida em ferramenta nas maos do capital. Porque, se os trabalhadores do metal cumprirom rebentando o muro do gueto em que o capital tem a classe trabalhadora fechada, os sindicatos, eludirom a responsabilidade de coordenar e estender a luita, de criar as condiçons para que o confronto adquira as dimensons globais que lhe correspondem, acentuando deste modo a penosa divisom entre trabalhadoras com contrato estável e as subcontratadas, entre trabalhadoras nacionais e estrangeiras, entre as trabalhadoras do sector privado e o público, pam de cada dia na atroz realidade laboral do país.
Assim, quando professores do ensino público se lançam à mobilizaçom contra a estratégia ultraliberal do governo actual, os sindicatos ponhem-se à cabeça dos protestos para mediar no que consideram um conflito estritamente laboral, concedendo argumentos para suster o consenso geral acerca dos privilégios da classe funcionarial; pais e nais, professoras das EOI, professoras do secundário, das universidades, delimitam as suas parcelas de luita, ficando a defesa dum ensino público, galego e de qualidade, dissolvido num mar de interesses facilmente manipuláveis polos alto-falantes mediáticos do capital.
Urge dotar de significado global as luitas que prendem hoje em todo o lado, e hoje a defesa do ensino e a sanidade pública deve comprometer a classe trabalhadora, pois é esta a vítima propícia do seu desmantelamento, converter esta luita numha simples questom laboral parece umha irresponsabilidade difícil de explicar.
Voltemos, neste ponto, ao estúdio de televisom, ou melhor ainda, à sala do tribunal, os magistrados perguntam ao acusado, -e entom os chefes sindicalistas nom planeam umha greve geral?-, é aqui que damos na chave, segundo o sindicalista, a greve geral é o último recurso, um grito desesperado quando nom hai opçom, quer dizer quando já todo foi destruído e nos lamentamos do que foi definitivamente perdido; ingénuos que somos os que acreditamos na greve como estratégia para unir numha soa luita, os esforços dispersos dos que se batem por umha naçom justa, por um povo capaz de decidir por si mesmo o seu futuro.
Fecha-se aqui o debate, os contertúlios passam página, a actualidade manda e nom cessa nunca, perdeu-se finalmente umha oportunidade, ainda que só fosse para apagar o sorriso perverso dos nossos inimigos.