Se há algo que ajuda a sobrelevar o sofrimento , é a retranca. Quando topas com outro galego e sentes o sotaque, rapidamente se desvela…Ainda que como escreveu Mark Twain, “debaixo do humorismo há sempre umha grande dor”, e a dor dos galegos está, por desgraça, afincada na sua história de opresom colonial, a retranca é algo mais que humor ou ironia: “O caracter estético-filosófico da retranca excede as tentativas da definiçom como a dumha “versom galega da ironia”, dumha “cautela” no falar ou dumha segunda intençom para desconcertar o interlocutor (…) o valor epistemológico da retranca também transcende o humor das “respostas interrogantes” e “intencionalmente vagas”, o humor das “críticas”, dos “eufemismos”, das “hipérboles” , “picardias” ou “melancolias” da fraseologia enxebre (Ferro).
No trabalho de Burghaed Baltruch: “Teoria e prática sincrónica da retranca a partir do refraneiro e da literatura galega vangardista”, analisa-a desde um ponto de vista filosófico e histórico: “podemos aceitar a retranca como un dos elementos constitutivos da memoria cultural galega tanto como umha maneira de pensar, falar, actuar, como umha estética, um abeiro contra todo o que nom resulta assimilável no momento(…)”
Dentro da memória cultural galega a retranca aparece, pois, como um signo equilibrador que cultiva com a sua estética da dúvida umha percepçom unitária do mundo e um razoamento que a filosofía posmoderna chama transversal. Esta “razom transversal” consiste na sua capacidade de pensar os paradoxos (Derrida) enlaçando o heterogéneo e encarando a realidade como pluralidade e transiçom. (Welsh) .”
Citando Sechu Sende: “Ter sentido do humor às vezes é um esforço para nom volver-se tolo. O humor libera-nos da dor, da tragédia, e permite-nos enfrontar-nos aos problemas com criatividade. Porque o humor é criativo e pode ser um arma mui poderosa. Pode ridiculizar o opressor, debilitando-o. E permite rir-nos de nós mesmos, das nossas contradiçons e debilidades, para nos fortalecer. O humor é umha forma de poder e, segundo a psicologia social, o humor é um elemento fundamental nos processos de criatividade colectiva como é a construçon dum presente e um futuro justos para a nossa língua”