Três enormes reptos internacionais desafiam a humanidade nesta década que se inicia: responder ao quecimento global, frear as armas da destruçom massiva, e reduzir quotas de desigualdade social intoleráveis. Eis a síntese que formula Rafael Poch de Feliu, um analista internacional, ex-jornalista de La Vanguardia, que nesta semana advertia no seu blogue da fase crítica de insegurança colectiva na que nos adentramos. Polo seu grande interesse, apresentamos em galego as teses centrais do seu artigo: “A dous minutos do suicídio”

Poch lembra que no mais cru da Guerra Fria, um grupo de notáveis, todos eles cientistas e físicos, pugérom em andamento um relógio simbólico: Doomsday Clock ou Relógio do Dia do Juízo. Aconteceu em 1947, e a pretensom era alertar dos níveis crescentes de perigo de desfeita global por mor do armamento nuclear. Desde aquela década, o relógio marca o tempo que resta até umha catástrofe nuclear num cómputo simbólico cada ano. Se a jeira internacional é de distensom e desnuclearizaçom, o relógio retrocede. Puch lembra que neste grupo nom há nenhum radical de esquerdas, apenas cientistas muito vinculados ao Estado que, porém, seguem a reflexom de Einstein: “a bomba atómica mudou-no todo, nom sendo a mentalidade do homem.” Liberais norteamericanos, treze prémios Nóbel, ex-membros da administraçom USA, eis o perfil do grupo dinamizador do relógio e dos seus patrocinadores.

Segundo este grupo de analistas internacionais, 1990 foi o ano do optimismo, e o relógio retrocedeu vários minutos dessa média noite fatídica que marca a destruçom. O pano de fundo eram os acordos de desarmamento nuclear das duas grandes potências. Em 2019, porém, os cientistas decidiram pôr o relógio da catástrofe a 100 segundos da média noite, isto é, a menos de dous minutos.

Desmantelar mínimos mecanismos de segurança internacional,
objectivo da administraçom Trump. Imagem: newsweek.com

A decisom foi explicada numha rolda de imprensa em Washington em 23 de janeiro; apesar da presença de Ban Ki-moon, ex-secretário geral da ONU, os grandes meios espanhóis “dediciram ignorá-la olimpicamente”, afirma Puch no seu artigo. “A situaçom internacional é agora mais perigosa que no apogeu da guerra fria”. Umha hipotética guerra nuclear contra a civilizaçom nom é alarmismo, poderia desencadear-se por erro ou por simples ausência de comunicaçom. Vivemos umha conjuntura internacional caracterizada poo domínio de “meios de comunicaçom corruptos e manipulados, e uns governos e instituiçons incapazes de afrontarem estes assuntos.”

Infraestrutura internacional degradada

Essa é a expressom utilizada por Poch de Feliu para se referir ao deterioramento do sistema internacional de Estados posto em andamento na post-Guerra Fria. “Nom é apenas que as tendências ameaçantes continuem a progressar, o problema do desastroso estado da segurança internacional é também que os dirigentes mundiais permitírom degradar toda a infraestutura política internacional que se construiu para afrontá-las. A combinaçom entre o claro progresso das tendências suicidas e essas atitudes de quem tomam as decisons à frente das grandes potências e instituiçons globais constiui um cóquetel apavorante que se fai óbvio mesmo para os adolescentes”, reflecte o analista.

Cumpre lembrar o o acordo nuclear acadado polos USA e Irám foi abandonado unilateralmente polo primeiro, e as consequências patenteárom-se em 2019; do mesmo modo, a administraçom Trump retirou-se do acordo de forças nucleares intermédias na Europa (atinge mísseis de menos de 5000 km de alcanço). Ao que parece, todo fai parte dum plano bem tramado para retirar esta grande potência daquelas avinças que podiam supor certas garantias de segurança global. Trump anunciou também que nom vai prolongar o acordo START sobre mísseis estratégicos, isto é, de longo alcanço. USA desaparecerá aginha, aliás do chamado “Open Skies Treaty”, um tratado que contempla a possibilidade de pairar sobre o território do inimigo para rever a observáncia do pactuado. Isto quer dizer que os USA nom permitirá ser esculcada por potências rivais, e assim desdobrará os seus planos de guerra sem vigiláncia nenhuma.

Ban Ki-moon, ex-secretário geral da ONU, é um dos persoeiros que adverte
do risco que corremos. Imagem: thenation.com

Puch recorda, mais umha vez, que nom som esquerdistas nem outsiders os que apontam criticamente os USA. É um ex-presidente como Jimmy Carter o que diz que aquela naçom está governada por “umha oligarquia corrupta e violenta”. O analista acrescenta que “nom é a única oligarquia corrupta do mundo. Há muitas mais, mas nenhuma tem tanta responsabilidade no estado de cousas que temos alcançado.”

Orelhas moucas à advertência

Mas nom ameaça apenas a convulsom geopolítica. Outra frente ameaçante para a civilizaçom abre-a a mudança climática, ante umha terrorífica passividade dos governos. Eis outro dos elementos tomados em conta polos desenhadores do ‘Doomsday clock’, que leva em conta possíveis alteraçons de magnitude gigantesca. Levemos apenas um dado em conta: desde que se celebrou a primeira cimeira do clima em 1992, as emissons de efeito estufa aumentárom num 50%. Cientistas estadounidenses confirmam que nom se fai mais do que continuar a todo trem cara o colapso: “USA retirou-se do acordo de Paris, Brasil deu marcha atrás na protecçom da Amazonia, e a cimeira do clima de setembro ficou curta”, afirma o texto. Os fenómenos climatológicos extremos já acaparam os cabeçalhos no mundo: quem for céptico ante a dimensom do repto, pode estudar a fundo o que aconteceu no passado 2019 na Califórnia, na Austrália ou na Índia. Lumes devastadores, vagas de calor e secas prolongadas, combinadas com anegamentos e chuvas torrenciais em outros pontos, indicárom que a virulenta mudança afecta já à vida e às sociedades humanas.

Imagem: taz.de

Conclusons de urgência

Tendemos a analisar os cenários bélicos e as fúrias naturais como dous processos diferenciados, e porém confluem: num mundo de recursos decrescentes, e onde mais e mais territórios ficam em colapso ou viram dificilmente habitáveis, as tendências belicistas agudizam-se. Lá onde os distintos impérios nom chegam, ou nom som quem de regir, estados em falência tomam, mais teorica que realmente, o mando dos territórios. Ao mesmo tempo, a ineptitude e passividade política agrava a inacçom em matéria climática. “War” e “Warming”, diz Poch, nom apenas tenhem a mesma raiz em inglês, senom que precisam da mesma mudança de mentalidade para serem combatidos.”

Obviamente, no discurso apresentado em Washington no passado 23 de janeiro, falta umha crítica central, que recorda demasiado aos baleiros nas proclamas de Greta Thunberg e o capitalismo verde. Poch chama a atençom sobre esta ausência: “os cientistas do relógio nom o dim, mas é óbvio que nom chegamos a esta enormidade suicida por algumha misteriosa fataliade, nem por algumhas características intrínsecas dos humanos: chegamos aquí da mao dum sistema sócio-económico concreto.”

Por dizê-lo nas palavras mais singelas, qualquer emenda radical a este caminhar cegato e extraviado passa por políticas anticapitalistas, que só som concebíveis de formarem-se amplos movimentos sociais de base que procurem transcender a sério o sistema. A responsabilidade nom está nem na ONU, nem na Casa Branca, nem no FMI, senom na tomada de consciência colectiva. A luita vai-se livrar contra-relógio.

*Informaçom tirada de rafaelpoch.com