A apologia aberta da ditadura corresponde, nestes tempos que andamos, à formaçom por excelência da extrema direita, Vox. No mesmo abano ideológico, porém, o PP segue a fazer todo o possível por evitar a denúncia do genocídio e do franquismo, e na passada semana ficou de manifesto em Cerdedo Cotobade. Num tenso pleno municipal, o alcalde da direita espanhola, Jorge Cubela, recorreu a umha argalhada legal para blocar demanda histórica do movimento popular: a eliminaçom da simbologia fascista presente no concelho.

BNG e PSOE levárom ao pleno do concelho umha das reivindicaçons históricas do movimento social de Terra de Montes, umha comarca que nom foi alheia ao auge recuperador da memória desde inícios do século XXI. Colectivos como Capitám Gosende e Portalém, precedidos por entidades como Verbo Xido, tenhem vincado na necessidade de recuperar as figuras do repressaliados, e de rematar com qualquer concessom simbólica aos vitimários.

Homenagem da associaçom Capitám Gosende a Pancho Varela.
Imagem: farodevigo.es

Como em muitos pontos da Galiza rural, Cerdedo-Cotobade ainda mantém símbolos da Falange e da ditadura em fontes, lavadoiros ou outros monumentos. Segundo a moçom apresentada, umha comissom levaria a cabo um processo de catalogaçom prévio a eliminar os emblemas da violência golpista. Várias concelheiras e as duas associaçons activas na zona, Capitám Gosende e o Colectivo Portalém, iriam supervisar o seu labor. Para reforçar a proposta, o concelheiro Ernesto Filgueira deu leitura no pleno a umha lista de retaliados e assassinados no concelho e chamou à “justiça e à reparaçom”.

Inibiçom do PP

O PP tem umha longa trajectória de escapismo e camuflagem no que a ditadura diz respeito. Em Espanha, e baixo a liderança de José María Aznar em 2002, o PP votara afirmativamente umha votaçom de condena do franquismo. Precisamente é nessa votaçom que o partido se apoia para justificar todas as suas rejeiçons posteriores a criticar à ditadura: em 2003 negou-se no Congresso espanhol a homenagear as vítimas, em 2007 votou contra a tímida Lei de Memória Histórica de Zapatero, e ainda em 2015, na mesma sede parlamentar, negou-se a apoiar umha moçom em favor da retirada de símbolos.

Desta volta, o PP recorreu à mesma estratégia de entorpecimento, sem negar a sua condena ao regime autoritário, mas também sem permitir avançar na sua superaçom efectiva. Por palavras do seu vozeiro, “a actual lei de memória nom habilita o Concelho para levar adiante a retirada destes elementos”. Com suposto afá construtivo, Jorge Cubela apresentou umha emenda na que “instava o governo central a colaborar neste trabalho”; na realidade, sabia que a oposiçom nom ia ceder na transacçom, pois procurava a implicaçom aberta do concelho na memória histórica. Deste modo, o plano ficava gorado. Cubela, contodo, aproveitou para manifestar que “BNG e PSOE só queriam cabeçalhos de imprensa.”

Movimento popular, protagonista

O colectivo Portalém manifestou que, trás acontecido no pleno no passado dia 6, “a Jorge Cubela caiu-lhe a máscara de galeguista e democrata com que pretende disfarçar-se”. Com efeito, Cubela gaba-se de ser o primeiro alcalde do PP que promoveu o reconhecimento municipal de Alexandre Bóveda, além de ser familiar de retaliados. Para Portalém, “perde-se a oportunidade de, no espaço público que partilhamos, todas nos sintamos cómodas e representadas.”

O filho de Francisco Arca, com a bandeira cenetista ao pé
do monolito de homenagem em Pedre, Cerdedo
(Imagem: oembigodobechoblogspot.com)

Na realidade, e como sempre acontece ao falarmos de memória histórica, é o papel do movimento social o que explica posteriores controvérsias institucionais e partidárias. A comarca de Terra de Montes conta com umha trajectória de recuperaçom do passado mais combativo, e também mais trágico, bastante dilatada. Já em 2006, a Associaçom Ecologista e Cultural Verbo Xido ergueu um monumento de recordo dos repressaliados em Ponte do Barco, Pedre, e desde entom celebrou um acto anual de desagrávio às vítimas. Trabalhos historiográficos da associaçom contabilizárom em mais de 200 o número de pessoas repressaliadas na comarca a partir de 1936. Em 2007, o historiador Dionísio Pereira, membro da mesma associaçom, foi citado a declarar por umha denúncia de descendentes de repressores, molestos com que a verdade vira a luz. Na obra “A II República e a represión franquista en na comarca de Terra de Montes”, deitava luz sobre os crimes dirigidos polo ex-alcalde e chefe da Falange em Cerdedo, Manuel Gutiérrez.