No papel de reserva extractiva adjudicado à Galiza polo capitalismo internacional, a minaria começou a perfilar-se como umha ameaça mui palpável. Nos primeiros anos deste século, comarcas como Triascastela, Terra Cha, Bergantinhos ou Arçua estivérom ou estám no ponto de mira de interesses poderosos que contam com valedores políticos. Na passada semana, soubemos da paralisaçom temporal do projecto de Atalaya Mining em Touro-O Pino. A vitória popular veu precedida por umha outra igualmente importante, há seis anos, devida à vizinhança de Corcoesto.
No verao de 2017, a populaçom galega mais informada, e obviamente a vizinhança dos concelhos do Pino e Touro, era ciente de que se aproximava umha nova ameaça. Naqueles meses abria-se o período de alegaçons ao projecto mineiro de Atalaya Mining, gerido através da sua filial Cobres de Sam Rafael. Estava acima da mesa a construçom dumha presa de 80 metros de altura que deveria servir para proteger a vizinhança de 69 milhons de toneladas de lodos. Estas acumulariam-se por efeito da actividade mineira e suporiam um enorme risco para os cursos fluviais, os bancos marisqueiros da Ria de Arousa, e mesmo a vida das populaçons, em caso de se repetir um accidente semelhante ao que aconteceu em Alnázcollar. Em 1998, a ruptura dumha balsa de minaria em céu aberto naquele lugar de Cádiz danara gravemente o Parque Natural de Donhana. No caso da comarca de Arçua, mui dependente da actividade gadeira e florestal, parte da riqueza ia ser hipotecada. A mina ocuparia boa parte dos terrenos férteis, além de forçar a marcha de parte da vizinhança.
A luita concitou grandes apoios e aginha foi tomada pola Galiza consciente como um assunto nacional. 27 plenos municipais pronunciárom-se contra a instalaçom, a Plataforma em Defesa da Ria de Arousa somou-se à luita, e a rede de colectivos ContraMINAacçom aproveitou a coordenaçom de passados anos e a muita experiência acumulada. Em 2018, umha multitude ateigou a Praça do Obradoiro para pôr um sério obstáculo à toleráncia da Junta com o projecto. Apesar da total adesom de grandes meios empresariais aos planos extractivos, nomeadamente da televisom e rádio públicas, a legitimaçom social nom foi doada. O esforço proselitista foi tal que se chegou a fazer promoçom da minaria no CEIP de Touro com visitas a instalaçons extractivas. A iniciativa, lançada por Leyre Aldasoro, política do PP que hoje trabalha assalariadamente para Cobre San Rafael, foi denunciada por todo o movimento ambientalista como umha tentativa de manipulaçom da opiniom desde as idades mais temperás.
Na passada semana, Ángeles Vázquez, Conselheira de Meio Ambiente reconhecia que o projecto mega-mineiro nom passava os mínimos requisitos de segurança ambiental, e por isso ficava desestimado. A notícia causou júbilo na zona, e um grande alívio para a vizinhança ameaçada. Com isso e contodo, o ecologismo chamou a ser cauto. Colectivos como ADEGA recordárom que Cobre San Rafael tem concessom dos terrenos apriori destinados à exploraçom até o ano 2068, polo que nom se descarta que a empresa projecte umha “redefiniçom do plano” no futuro.
Memória de Corcoesto
Seja como for, a batalha ganhada reforça umha autoestima popular que já medrara seis anos atrás, neste caso na comarca de Bergantinhos. Em outubro de 2013, a vizinhança de Corcoesto, Cereo e Valenza (nos concelhos de Cabana de Bergantinhos e Pontecesso) acordava com umha nova semelhante: a Junta paralisava o projecto da mina por “carecer de solvência técnica e financeira”. Já uns meses antes, a administraçom autonómica congelara temporariamente o plano, desde que a empresa Minera de Corcoesto nom reunira a tempo o 25% do orçamento total contemplado pola obra. A congelaçom do projecto cadrara também com um contexto internacional marcado pola queda do preço do ouro.
Naquele caso, o panorama ainda semelhava mais crítico que em Touro. Em 2012, a empresa canadiana Edgewater, através da sua filial, intensificara as perforaçons em procura de ouro, que se iniciaram já na década de 90. As cousas avançaram aginha para a companhia, e nuns meses a Declaraçom de Impacto Ambiental fora aprovada pola Junta. Edgewater contava neste caso com o apoio do concelho de Cabana, e a populaçom da zona, apriori sem soporte exterior, viu-se na obriga de alegar um informe de 1400 páginas em apenas trinta dias. De se consumar o plano, em Corcoesto aturariam umha mega-instalaçom mineira a 200 metros das suas moradas, instalaçom na que se derramariam aliás toneladas de cianuro.
Como na actualidade em Touro, a sensaçom que deixou a vitória nom estivo exenta dum regosto de desconfiança. A associaçom Salvemos Cabana manifestara na altura que a paralisaçom do projecto supugera “o triunfo da sociedade civil e da dignidade colectiva frente um plano irracional”; o colectivo Petom do Lobo, por seu turno, congratulou-se da vitória, e ainda assim recordou que nom era suficiente, desde que a Junta “nom se atreveu a declarar a total incompatibilidade da actividade mineira e as actividades económicas agro-florestais” que som o sustento de parte da populaçom.
Para além de ganharem o direito a umha vida digna, em Corcoesto aprendêrom umha importante liçom de camaradagem, movimentaçom popular e acçom directa. Como recolheu o jornal digital Adiante em conversa com as vizinhas da zona, essa pequena assembleia do colectivo Plataforma em Defesa de Corcoesto iniciada numha casa em Baralháns, abriu passo a umha dinámica de grande aprendizagem: “aprendim que há que luitar nesta vida para conservar o que um tem”, manifesta um dos vizinhos ao entrevistador. Para essas dinámicas de luita prosperarem “tem que ser a gente da zona que se organize”, diz um outro.
A ameaça que paira
Ainda, a ninguém se escapa que continua vigorante toda umha colecçom legislativa mui favorável aos interesses extractivistas. De facto, no parlamento autonómico galego vem de aprovar-se umha nova Lei de Ordenaçom do Território que facilita a rápida tramitaçom de qualquer iniciativa empresarial, dificultando a auto-defesa legal da vizinhança. O texto, segundo denuncia o ambientalismo, vem complementar a Lei de Fomento de Iniciativas Empresariais da Galiza, conhecida popularmente como “Lei de Depredaçom”, que em 2017 fora contestada numha grande manifestaçom em Compostela. Para culminar este desenho de total permissividade, nos meses de verao o PP conseguiu aprovar umha Lei de Património Natural e Biodiversidade que restringe mais e mais as possibilidades de declarar um espaço como protegido. Desta maneira, é possível que nom se aprove a extensom de novos parques naturais, e que se facilite a vulneraçom de zonas próximas a eles.