A prática unanimidade da comunidade científica na hora de confirmar a mudança climática está a provocar umha mudança de atitude na populaçom. Existe ainda, bem é certo, umha continuidade do negacionismo: apenas no Reino de Espanha, 15% da cidadania nega que existir tal fenómeno, ou que tiver tal alcanço. Numha imensa maioria, porém, a constataçom de que algo muito grave está a acontecer está a provocar atitudes divergentes: confiança passiva em “soluçons tecnológicas” que inventarám os governantes; ignoráncia deliberada do problema, baseada na filosofia de “melhor viver o dia a dia”; derrotismo e passividade; ou, finalmente, reacçom com vontade de urgência. Na nossa Terra, o movimento polo clima e as iniciativas agro-ecológicas representam esta tomada de partido.

Umha mudança tam drástica na percepçom do presente e do futuro próximo tinha, por força, que impactar profundamente na psique das pessoas. Assim, segundo especialistas na psicologia, este novo panorama está a deixar pegada na saúde mental de algumhas das pessoas mais vinculadas ao enorme desafio. Mesmo cientistas consagradas tenhem confessado o impacto recebido por trabalhar em estimaçons sobre o efeito estufa. Entre vários exemplos, salienta o de Camille Parmesan, umha investigadora da Universidade de Plymouth que foi premiada, junto com Al Gore, com o Nobel da Paz, que confessou ter padecido um surto de depressom ao se mergulhar na problemática, sem receber a resposta social esperada: “sentim que existia um sinal enorme ao que ninguém punha atençom, e perguntei-me, por que estou a fazer isto?” Mas o impacto mental nom tem que ver apenas com reflexons mais ou menos especulativas sobre o futuro da civilizaçom, senom também e sobretodo com formas de vida ameaçadas polo clima extremo. Na América de do Norte popularizou-se o termo “dó ecológico” para se referir ao impacto da vaga de lumes de Califórnia ou Canadá, que podem fazer-se extensíveis ao que aconteceu nas passadas semanas na Austrália. Gabriela Romo, psicóloga que trabalha com a comunidade latina dos Estados Unidos, manifestou ter topado nestas áreas “maiores níveis de ansiedade, tristeza, enfado, trauma, sentimentos de perda e de dó.”

Climatóloga Camille Parmesan reconhecera impacto psicológico
que lhe produzira estudar o colapso ambiental. (Imagem: plymouth.ac.uk)

Paul Kingsnorth: assumir a derrota

Esta atitude tem também umha formulaçom intelectual. Representa-a, entre outros, o intelectual inglês Paul Kingsnorth, um ex-activista ecologista que está a promulgar nos últimos anos um chamado “à introspecçom e à inacçom”, umha vez que assumiu o carácter incontornável da mudança climática. Na sua última obra, “Confessions of a recovering ambientalist” (“Confissons dum ecologista em reabilitaçom”) colecta ensaios que vam na mesma direcçom: a crise climática é inevitável e há muito tempo que o ecologismo abandonou o seu verdadeiro objectivo em favor do utilitarismo e o capitalismo. “O poder acabou por masticar e cuspir os grupos ecologistas”, que assumiram implicitamente “a cosmovisom que existe por trás das sociedades baseadas no crescimento industrial: o progresso, o crescimento, o antropocentrismo e o individualismo.” Para Kingsnorth, nem a casta política, nem os grandes capitalistas, nem tampouco o grosso da populaçom, adita a bens de consumo dependentes da energia barata e, portanto, da poluiçom icontrolada. “Devemos fazer todo o que for necessário para se reduzirem as emissons o máximo possível, mas já há demasiado CO2 na atmosfera. (…) Cumpre fazer todo o que estiver na nossa mao para reduzir os impactos, mas nom podemos revertê-lo em evitá-lo. (…) Se alguém che dixer que evitará a crise climática reduzindo as emissons, nom che está a dizer a verdade.”

Além de escrever, Kingsnorth lançou, junto outros ex-activistas e intelectuais, o Projecto Dark Mountain Project, que apregoa aliás esta atitude resinada e contemplativa. Em entrevista, o británico mantinha que “as nossas sociedades precisam aprender a parar. Deixa de medrar, deixa de te expandir, deixa de consumir, deixa de criar. Vive, e fai-no de forma austera e simples, empresta atençom e tenta reduzir o teu impacto no mundo. Sabemos o que cumpre fazer, mas as estruturas de crescimento que existem nas nossas sociedades fam-no impossível.”

Paul Kinsnorth é um dos ex-activistas ecologistas que apregoa que
“nada substancial pode ser feito” para evitar o colapso.
Imagem: aeon.com

Acçom, protesto e soberania

Em coordenadas bem diferentes, por confiarem nos frutos da acçom, está a rede de associaçons que na nossa Terra deu lugar ao ‘Manifesto Galego polo Clima’. A entidade, no seu primeiro manifesto, publicado em 2019, chama a populaçom e a casta política a “nom dar por perdida a batalha”, e assume que som possíveis medidas de mitigaçom dos efeitos do processo, mesmo se temperatura sobe por cima do temido limiar dos 1,5º. No ronsel de movimentos como “Extinction Rebellion”, a plataforma chama os governos a dizerem “toda a verdade” sobre o panorama que vivemos, e a tomar essas medidas concluintes que nem o Acordo de Paris nem a recente COP25 adoptárom. As greves estudantis convocadas a nível planetário, os curtes de tránsito e as performances nas grandes capitais occidentais, estám a ser o repertório de acçom escolhido.

Ainda, há um outro sector da populaçom que tem que afrontar decididamente a conjuntura, independentemente da gravidade que esta tomar: o campesinado. No passado mês de Novembro, o Sindicato Labrego Galego convocava o IV Foro de Agroecologia em Herbom com a legenda: “Emergência climática, soberania alimentar.” Especialistas em economia, sector energético, agricultura regenerativa e produçom labrega coincidírom em assinalar que nada vai ser igual no agro galego do futuro: entre um 5% e um 15% menos de precipitaçons, reduçom de cultivos como o milho ou o castinheiro, perda de fertilidade dos solos por menor nível de humidade, maior frequência de meteorologia extrema…de se concretizarem os planos do Estado para ceder mais e mais solo produtivo a empresas do sector florestal e produçom de biomassa, a ameaça à soberania alimentar alcançará umha nova dimensom.

Foros Galegos de Agroecologia som umha resposta prática ao colapso ambiental
Imagem: SLG

Isabel Vilalva, secretária geral do SLG, defendeu no encontro que a perspectiva agro-ecológica é precisa dum ponto de vista social e meio ambiental. “A produçom agrária ecológica emite um 50% menos de gases de efeito estufa à atmosfera”, ao nom depender de grandes infraestruturas de transporte e recursos tecnológicos. Membros do SLG apontárom, porém, que o Estado espanhol segue a subvencionar iniciativas insostíveis, como os grandes cebadeiros industriais ou as mega-instalaçons de depósito de zurros; ficam marginalizadas assi iniciativas como as da pequena exploraçom baseada na agricutura regenerativa, ou a opçom da tracçom animal. De facto, representantes da Associaçom Galega de Tracçom Animal, presentes também no encontro, vincárom no grande interesse deste modelo produtivo numha agricultura minifundista como a galega, aliás da sua escassa dependência de inputs tecnológicos externos.

Futuro aberto

De se cumprirem os objectivos teóricos que marcou o Acordo de Paris, mas que na realidade nom foram vinculantes, teríamos um 50-60% de possibilidades de manter o aumento de temperatura em 1,5º, segundo o professor de Educaçom Ambiental Pablo Neira, da USC. Desde que ninguém garante que decisons firmes forem tomadas, o cenário que aguarda é imprevisível e mui possivelmente caótico. Dacordo com as estimaçons que realizara o estudioso ecologista Ramón Fernández Durán (“La quiebra del capitalismo global. 2010-2030”), a primeira metade do século que andamos vai ser decisiva na intensificaçom dos colapsos sociais e ambientais em pontos diversos do globo, e acabarám por ter efeito acumulativo no mesmo centro do sistema.

Apesar das enormes correntes de passividade e cinismo que trazem os grandes retos, o protesto juvenil de rua e as iniciativas agroecológicas estám dispostas a plantar batalha. É previsível que a medida que as nulas decisons políticas se evidenciem, e os fenómenos meteorológicos extremos se fagam mais presentes, estes movimentos populares multipliquem as suas iniciativas.