Mariola Mourelo. Revista Revirada
«Nom podes definir algo como de bem comum para uma cidade, país ou qualquer outra comunidade de pessoas, se nom contribui ao bem universal de todes”
Pode a economia feminista passar da teoria à prática?
A economia feminista e a ética dos cuidados som áreas de estudo e reflexom que nos têm servido para tomar consciência da desigual distribuiçom das tarefas necessárias para o funcionamento da sociedade, bem ilustrado polo já conhecido iceberg a representar o trabalho visível, produtivo e público realizado tradicionalmente por homens, e o invisível, reprodutivo e privado atribuído às mulheres.
Além do debate sobre a sua revalorizaçom no sistema, nos próprios grupos feministas têm recebido especial atençom levando-nos, nos últimos anos, a um trabalho de introspeçom em que identificamos a reproduçom do patriarcado nas nossas dinâmicas internas e públicas e procuramos entom um fazer diferente e feminista.
No caminho da teoria à prática temos encontrado grandes ganhos, mas também contradições e conflitos que é importante abordar e será neste e próximos números da Revirada que trataremos alguns deles com o objetivo de abrir o debate e expandir a aprendizagem.
O que som os cuidados no movimento feminista?
Assumimos os cuidados tal como os entendemos no sistema patriarcal, normalmente ligados à família e ao pessoal, abrindo o seu debate nas organizações com a parte afetivo-emocional — parte menos presente nas reivindicações públicas. Iniciamos assim um processo de autoaprendizagem e experimentaçom onde os sentimentos e experiências pessoais das integrantes do grupo adquiriram umha maior relevância. Espaços de escuta ativa, rondas de sentires, gestom emocional e de conflitos começárom a surgir, em maior ou menor medida, nos diferentes coletivos feministas. Muitas destas ferramentas partilhadas com outros movimentos sociais, mas no feminismo com umha clara intençom de dar coerência a umha ética dos cuidados inerente no próprio ideário.
Está o trabalho reprodutivo nas organizações invisibilizado?
No entanto, continuamos a invisibilizar umha grande parte dos trabalhos reprodutivos da organizaçom como som a planificaçom, execuçom e limpeza, comunicaçom interna, gestom emocional, financiamento ou avaliaçom das ações coletivas. Umhas tarefas que permitem a sustentaçom e vida da atividade grupal mas requerem dumha continuidade e compromisso que nem sempre é atraente. Gradualmente as mulheres que as assumem por consciência, responsabilidade e/ou “amor” vam ficando mais soas, com o consequente aumento de trabalho e frustraçom, ou vam abandonando-as, o que resulta na paralise ou desapariçom de projetos coletivos feministas.
Coidamos a liderança feminista?
Um outro âmbito a valorar é o do trabalho público e o poder reconhecido que implica, pois no feminismo, ao contrário do que acontece nos espaços masculinos, liderar, tomar a iniciativa ou representar o grupo é ainda um esforço. É verdade que era e é necessário questionar o poder patriarcal dentro do movimento, mas realmente nom fomos além dumha crítica a companheiras, às vezes extrema, que gerou um certo medo em assumir responsabilidades e lideranças vitais para a criaçom e manutençom do feminismo organizado.
Se nom é este o sistema organizativo que queremos, qual é?
Urge pois umha revisom interna e criaçom de alternativas a um modelo organizativo que claramente reproduz o iceberg do sistema patriarcal de desigualdade entre cuidadoras e cuidadas.
Com certeza a introduçom dos cuidados na nossa práxis ativista é o grande avanço do feminismo de base dos últimos tempos. Encontrar o equilíbrio entre cuidados pessoais, políticos e estruturais e a açom, fazê-lo fora da ordem simbólica dos homens, e beneficiando a todas, como diz Christine de Pizan, é o grande desafio.
E tu que pensas?
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Podes consultar sobre economia feminista: Amaia Pérez Orozco, Yayo Herrero, Carol Gilligan e Nuria Varela e sobre gestiom coletiva com perspetiva feminista no Manual “Eines per a la gestió col-lectiva” de Filalagulla