Há justo três anos, no Congresso Mundial do Móvel celebrado em Barcelona, transcendia que o modelo 5G começaria a ser massivamente utilizado em 2020, dando pé a umha fase de maior aceleraçom da revoluçom tecnológica. Com umha unanimidade mediática que apenas aparece quando se abordam aspectos essenciais do capitalismo, a imprensa começava o seu labor apologético.

O grande público começava a conhecer entom que milhons de “cousas” antes isoladas passarám a estar interconectadas numha rede imensa de inteligência artificial: de prédios a lares, passando por factorias, mesas de operaçom e carros. As distintas administraçons encarregárom-se desde entom em ir desenhado um entramado infraestrutural para pôr em andamento esta nova realidade tecnológica. Já em 2017, a Uniom Europeia comprometeu-se a liberar o espaço radioeléctrico para “permitir a introduçom a grande escala de serviços digitais.”

Proliferaçom de antenas tem afectado a saúde da populaçom. Imagem: poderpda.com

Saúde, sociedade, política

Com muita prudência, expertos promocionados pola mídia e grandes editoriais evitam afundar em hipotéticos efeitos para a sociedade dumha rede tam abrangente. Se há já duas décadas o ecologismo advertia dos danos nas pessoas das infraestruturas da telefonia, confirmados por distintos estudos, a chegada do 5G pode dar umha nova dimensom a esta problemática. Desde que o 5G vai utilizar quase sempre frequências mais altas que o 4G, o alcanço das actuais antenas reduze-se a um terzo ou menos. No Congresso Mundial do Móvel de 2017, expertos reconhecerám que a Europa vai precisar quanto menos 200000 novos pontos de antenas.

A exposiçom permanente às ondas nom é porém a única preocupaçom dos sectores críticos com o 5G, até o agora minoritários e mui silenciados. Umha das poucas celebridades que, no contexto do Reino de Espanha, tem formulado umha emenda contundente a esta nova tecnologia é a jornalista Marta Peirano, autora do livro “O inimigo conhece o sistema” (Debate, 2019). Além de formular umha crítica radical das grandes corporaçons tecnológicas (dedicadas “à compra de governantes para lhes deixarem explorar o planeta, explorar os trabalhadores e explorar os usuários para ganharem dinheiro”), Peirano chamou a atençom sobre as refinadas técnicas de controlo social que pujo em andamento a tecnologia móvel: “por que nos deixamos espiar assim, somos parvos, ou que nos acontece. Nom considero que sejamos de todo responsáveis do que nos acontece, porque a peleja contra o poder destas aplicaçons é muito desigual. Estas empresas contratam centos de génios para comporem um pedaço de código cuja funçom é manter-te colado ao telefone durante o maior tempo possível.”

Marta Peirano é das poucas intelectuais que tem posto em causa o 5G. Imagem: publico.es

Quanto à extensom do 5G, Peirano é talhante: “nom acho que o seu objectivo for servir o bem comum, senom ter um controlo absoluto e muito mais capilar de todo o que acontece no espaço em que opera. É umha rede de vigiláncia mais densa e rápida. (…) O que na verdade implica é que todas as nossas infraestruturas críticas vam estar geridas por um gigante dos USA ou a China que nem sequer paga impostos ou cumpre a legislaçom no lugar em que opera.”

O chamado dos astrónomos

Segundo estimaçons do grande capitalista Elon Musk, um dos grandes impulsionadores da tecnologia 5G, a posta em andamento da infraestrutura vai requerir pôr em órbita uns “50000 novos satélites”. A crítica contra essa invasom do espaço celeste poderia encaixar na imagem romántica dos cépticos antitecnológicos, mas na realidade, a oposiçom está a ser promovida por parte da comunidade científica: a astronomia.

No passado sábado celebrárom-se arredor do mundo mais de 200 actos em resposta ao chamado “Dia Global de Protesto contra 5G”. A iniciativa partiu dum astrónomo italiano, Stefano Gallozi, que lançou, com outras e outros colaboradores do sector, o manifesto “Salvaguardar o céu astronómico”. O processo de recolhida de assinaturas do mundo investigador e docente precedeu o seu envio aos principais meios de comunicaçom e instáncias políticas mundiais.

Começam mobilizaçons contra 5G. Imagem: thegreentimes.co.za

Se num primeiro momento se falou de 2000 satélites, agora tratará-se de 50000. Os mais deles, diz o texto, serám visíveis desde a terra e sem aparelhos tecnológicos, nomeadamente nas primeiras horas da noite e antes da alva. De se consumar este plano, “o céu nocturno ficará arruinado para toda a humanidade”. Os satélites vam superar em número as 9000 estrelas visíveis para o olho humano sem telescópio, e apenas vam ser superados em brilho por “172 estrelas em todo o firmamento.”

O primeiro chamado de urgência apareceu na revista científica “Scientific American” no passado dia 16 de janeiro. No texto, questiona-se mesmo a legalidade aprovaçom do envio de 12000 satélites norteamericanos por parte da Comissom Federal de Comunicaçons, que careceu de revisom ambiental. Se esta instituiçom for demandada em tribunais, possivelmente a justiça nom lhe dê a razom as planos empresariais.

A falta de cobertura mediática ampla a esta iniciativa, apesar do prestígio intelectual dos impulsores, e de nom estarema associados com ideias rupturistas, dá ideia do espaço que vam dar os poderes à dissidência contra a mega-estrutura tecnológica. A indústria do controlo total avança e fará-o com a ajuda incondicional da mídia.