O mundo labrego e a sua evoluiçom no tempo amiúde fôrom objecto de tópicos e interpretaçons sesgadas: pola sua heterogeneidade, polo seu difícil encaixe em categorias políticas e académicas. Por isso apela Lourenzo Fernández Prieto no livro Terra e progreso à necessidade de, perante o estudo da agricultura galega, reconciliar-se com um mundo labrego que, segundo ele, “tinha necessidades diferentes à de aumentar as macromagnitudes”. Agora que a emergência climática foi decretada, que o capitalismo se reforma e nos quer reformar, podem abrir-se momentos para a reflexom colectiva e o futuro desde umha perspetiva emancipadora.

Algumha chave interpretativa

Apoiadas nas mesmas análises de Fernández Prieto, pode-se lançar a ideia de que o rural galego e a vida labrega suportárom e suportam umha culpa que nom lhes corresponde. Alomenos do ponto de vista historiográfico, que é onde se inserem os estudos do professor de História Contemporánea da USC. Segundo estas análises, o discurso ideológico dominante sobre o nosso rural tivo a tendência a afondar em aspectos negativos sobre o sector. Conhecidas som as teses sobre o seu atraso ou o conservadorismo perene, que estabelece apenas como ponto de partida para as mudanças na estrutura produtiva galega os anos 60, deixando no anedótico todo o precedente. Fernández Prieto lembra-nos que som visons que apenas tenhem como referência o ámbito económico e assegura que a história agrária de preguerra dá mostras claras de alternativas ao progresso agrário e apresentam claros intentos de renovaçom.

Em qualquer caso, numerosos estudosos coincidem em assinalar a excepcional capacidade de resistência e reformulaçom que o nosso campo demonstrou ao longo dos séculos“.

Sobre estes dous eixos interpretativos imperantes nas visons académicas sobre o nosso rural ( atraso ou modernizaçom) Maria Xosé Rodríguez Galdo, também num estudo incluido no antedito livro, assevera que a heterogeneidade é tam grande que impide decantar-se por um ou outro extremo. E aponta como resumo interpretativo que a nossa agricultura desde umha visom de conjunto, nem se estancou nem se modernizou nos séculos XVIII, XIX e XX. Ela fala de um “crescimento sem modernizaçom”. Em qualquer caso, numerosos estudosos coincidem em assinalar a excepcional capacidade de resistência e reformulaçom que o nosso campo demonstrou ao longo dos séculos. Algo que nas entrevistas que realizou Julia Varela para o seu estudo A Ulfe, socioloxía de unha comunidade rural galega fica meridianamente explicado por boca de um dos labregos entrevistados: “ Chamavam-nos atrasados e sabiamos fazer de todo”.

De querermos debruçar no presente um bocado mais para traçar algumha hipótese de futuro, parece claro que o modelo que hoje herdamos conecta nos seus piores eixos com o modelo productivo tracejado e aplicado polo franquismo. É durante esta etapa final do dictador e na alegada democracia, anos 60-95, quando se consolida este modelo de aposta pola intensificaçom e a modernizaçom unida a umha mecanizaçom que Alberte Martínez López considera incluso “excesiva” no seu trabalho para Terra e progresso. Nom em balde é o momento em que o modelo colonial chega à sua máxima expressom. Fomos ( e somos) exportadores de energia de igual maneira que nos especializárom (especializamos) na producçom de leite e de carne e, por ende, em gado bovino ao tempo que nos adatamos ao marco europeu que tracejava a cada vez uns planos mais difíceis de seguir e contrários aos interesses do nosso sector. Este modelo, segundo Martínez López, entrou definitivamente em crise já na altura de 1973.

Fomos ( e somos) exportadores de energia de igual maneira que nos especializárom (especializamos) na producçom de leite e de carne e, por ende, em gado bovino ao tempo que nos adatamos ao marco europeu que tracejava a cada vez uns planos mais difíceis de seguir “.

O tractor é um símbolo de protesta no sector gadeiro, nomeadamente o do leite. As políticas coloniais espanholas primeiro promocionárom-no e desenvolvérom-no e depois sancionárom-no: paradoxos do desenvolvimentismo

E quiçá vaia sendo hora já de plantejar-se novos horizontes. Hai quem leva décadas já teimando neles.

Em nós próprios está a alternativa

É o que Xoán Carlos Carreira e Emílio Carral insistírom em deixar sentado no seu grande livro O pequeno é grande. Eles dous também ponhem em questom a tese do atraso que ligam com a realidade minifundista da Galiza, que remata por desbordar do agro a outras áreas. Comentam os autores que a temos profundamente inserida no nosso imaginário colectivo, até o ponto de fazê-la responsável de muitos dos problemas colectivos que temos: minifúndio mental, das organizaçons políticas… Os autores avisam-nos de que esta organizaçom tivo, tem e pode ter no futuro umha funcionalidade acaída com a conformaçom social e estructural do nosso sector. E, o melhor de todo, apoiados em fontes demonstram porquê este modelo é mais rendível ( e nom se referem só ao aspecto económico) do que o modelo de acumulaçom e monocultor.

Minifundismo está inserido profundamente no nosso imaginário colectivo como algo negativo.

O modelo familiar galego é policultor e integra o trabalho com o gado, a horta e as tarefas acesórias com a gestom do monte próximo. Este é o modelo que se viu em colisom com os diferentes planos de modernizaçom tracejados polas instituiçons. É o modelo que, contra vento e maré, foi subsistindo até a actualidade, permitindo que boa parte da populaçom galega, nom só rural, se alimentasse e obtivesse ganho que se invertiu nas próprias casas e também nos descendentes das casas.

O modelo familiar galego é policultor e integra o trabalho com o gado, a horta e as tarefas acesórias com a gestom do monte próximo. Este é o modelo que se viu em colisom com os diferentes planos de modernizaçom tracejados polas instituiçons“.

Com os excedentes e o trabalho dessas unidades familiares estudou muita gente nas cidades, contribuindo paradoxalmente também ao principal problema que hoje se vive no rural lucense e ourensao: a queda demográfica. A expulsom de pessoas do nosso rural estivo cimentada nessa ideia inserida a ferro e lume de atraso e impossibilidade de “ progresso pessoal” naquele meio e hoje pom em questom a viabilidade e o futuro de muitas aldeias da Galiza.

Os problemas e os desafios

Novamente Julia Varela e o seu imponhente trabalho sobre a Ulfe oferece-nos algumha chave interpretativa que pode ajudar a fazer algo de justiça. Varela é umha das pessoas que marchárom fora da sua aldeia e nom regressárom. Primeiro estudar ao núcleo povoacional mais próximo, Chantada. Depois a Madrid e França. A sua visom é interessante porque é à vez exterior e interior. No prólogo do seu livro comenta que entre os anos 2002-2003 a Universidade Complutense madrilena onde trabalhava lhe concedeu um ano sabático que dedicou à elaboraçom do estudo. Naquela altura manejou um texto de Michel Serres onde se advertia que a desapariçom do mundo labrego era um dos acontecimentos de maior transcedência do século XX. Segundo ele nom se lhe estava prestando a necessária atençom analítica e académica e esta desapariçom tem consequências incalculáveis.

“A desapariçom do mundo labrego era um dos acontecimentos de maior transcedência do século XX. Segundo ele nom se lhe estava prestando a necessária atençom analítica e académica e esta desapariçom tem consequências incalculáveis“.

Longe de visons románticas ou idealizadas, cumpre retrotraer-se a um campo galego muito mais povoado e capaz de levar avante todas as tarefas que exigiam a gestom de umha casa labrega. Por sermos cientes das cifras que se manejam traiamos aqui as palavras de Antonio Fernández, labrego das Nogais. Contabiliza a enorme perda de pessoas dos núcleos e das casas do interior lucense: “ antes em cada casa havia até 12 pessoas, que viviam todas juntas. Hoje se quedam dous velhos bem, se nom, cai a casa”. Algumhas aldeias da zona chegárom a contar nos anos 50-60 com umha média de 50-80 habitantes. Hoje nos casos mais duros a nível climatológico reduzírom-se até ficar com 3-4. É umha transformaçom muito difícil de digerir. Antonio assinala que “ dixérom que havia que modernizar-se, meter maquinária e demais e, quando o temos feito, encontramo-nos com que nom queda gente para andar nos tractores. Entendes algo?”.

Imagem de trabalho comunitário em aldeia galega de Ruth Matilda Anderson. Anos 20.

Este mesmo home conta-nos que as casas funcionavam como umha unidade de gestom muito bem organizada que planificava os trabalhos a fazer semanalmente e as pessoas que os iriam realizar. Aqueles trabalhos de maior exigência contavam com a ajuda da vizinhança. Daqueles trabalhos colectivos como segar o trigo ou fazer paredes nas fincas quedam mui poucos. No caso das matanças, que cumpriam umha clara funçom de coesom social, começa a acontecer que a falta de gente obriga as pessoas das casas a contratar profissionais que vam a domicílio fazer as matanças ou atar chouriços. Muitas pessoas optam por levar os porcos ao matadoiro. A pergunta que está no ar é como fazer frente a tanto trabalho com tam poucas pessoas.

O futuro marcado por “reformas capitalistas” ou alternativas reais

Perante a queda demográfica e o avelhentamento da populaçom sempre hai quem tira rédito. Som as transnacionais da energia e florestais em primeiro termo. Assi o vém de denunciar persistentemente o SLG, que tem convocado para o mês de Fevereiro umha jornada em defesa da Terra. Este processo de acaparamento de terras fai com que Galiza vaia ser um dos territórios com menos superfície agrária da UE. Algo impensável, mas certo e perigoso para o nosso futuro como povo.

Perante a queda demográfica e o avelhentamento da populaçom sempre hai quem tira rédito. Som as transnacionais da energia e florestais em primeiro termo“.

Na intervençom da sua secretária geral no Foro Labrego de Agroecologia, advertiu de que nom se está pondo em questom o modelo de fertilizaçom nem se analisou o impacto dos grandes cebadeiros. As instituiçons continuam subvencionando este tipo de exploraçons. Ao tempo, insistiu na necessidade da agroecologia como saída de futuro perante as falsas soluçons do capitalismo verde que piorarám a situaçom.

Imagem de gadaria intensiva

Neste mesmo foro analisárom os futuros impactos que vai ter a mudança climática no nosso sector produtor. Folga dizer que vai ser um dos mais afectados. Os principais reptos aos que se enfrentam as labregas, segundo elas, é o uso do solo e da água, o impacto de umha climatologia mais extrema ou mudanças na distribuiçom de pragas e enfermidades. Assi mesmo, tivérom em conta o impacto ambiental da actividade agrária, que situárom no 2017 em 3 400 000 toneladas de GEI. Situaçom que nom mudou muito desde o ano 1990. O sector agrário de nosso produz a sexta parte das emisons totais da Galiza, cifradas em 30 milhons. Convém fixar e lembrar estas cifras quando apareçam corporaçons ambientais a culpar o nosso sector gadeiro da mudança climática de maneira interessada. Máximas como essa esquecem que o modelo produtivo de acumulaçom capitalista e as grandes corporaçons som as responsáveis da situaçom. Nom todas temos a mesma responsabilidade, nom toda a produçom agrária e de carne é intensiva e irresponsável.

Por onde incidir?

Campo Galego, portal de notícias do agro, entrevistou recentemente Jaime Izquierdo Vallina. O ensaísta e divulgador do mundo rural em Astúries, aponta também a que as soluçons estám na aldeia. Com teses semelhantes às de Xoán Carlos Carreira e Emílio Carral, parte da ideia de que a relaçom aldeia-cidade está rota e que é preciso recontrui-la. Propom a ideia de umha “ aldeia cosmopolita” que actue em dous sentidos: recuperar os princípios agroecológicos originais e abrir-se ao mundo através da tecnologia-comunicaçom. Segundo ele devemos conseguir um protótipo de aldeia, verificar que funciona e expandir o modelo. Os obstáculos? Os dous principais que assinalamos como centrais para o caso galego: a falta de comunidade e a falta de dignidade.

Imagem de Jaime Izquierdo, divulgador asturiano que incide na necessidade de procurar soluçons na própria aldeia

No mesmo Foro de Agroecologia do SLG antes citado, as pessoas convidadas a falar insistírom na necessidade de alternativas tais como o controlo das sementes ou a gadaria regenerativa. A autosuficiência parece ser umha necessidade fulcral para o futuro. Por outro lado, nesse ensaio de protótipos leva já um tempo trabalhando o sector de mocidade da antedita organizaçom sindical através das suas jornadas de Granxas abertas.

Essa autosuficiência era, finalmente, a realidade que melhor resumia e concentrava todos os saberes da sociedade labrega de outrora da que falamos. Porque nom era atrasada, sabia fazer de todo e é nela onde atoparemos as soluçons de futuro.