Há um feito na vida de Manuel Murguia que o marca para sempre como ele reconheceu em várias ocasions. Três semanas antes de fazer os 13 anos, presenciou a entrada das tropas do general Concha em Compostela. Era 1846 e o pequeno Manuel abraiou coa resistência rua por rua dos revolucionários galegos. A diferença das medidas militares contra os característicos pronunciamentos do século XIX peninsular, as tropas espanholas que tomárom Compostela praticárom o saqueio como em qualquer domínio colonial rebelde. Quiçá Concha ensaiou ali as medidas que aplicaria depois contra os independentistas cubanos na sua guerra de liberaçom. O caso é que Murguia jurou aquele dia dedicar o resto da sua vida a luitar polo seu país derrotado. A morte dum revolucionário na sua própria casa marcou-no. Num artigo de La Voz de Galicia de 23 de Abril de 1885 lembrava-o assim:

“As cornetas tocavam passo de ataque e vimos que assomavam as tropas pola estreita rua de Sam Bieito a ocupar a praça e a desalojar das casas da Acibecharia os que desde elas figérom depois um fogo mortífero. Soárom daquela as primeiras descargas: as balas crivárom as paredes da minha casa e os que avançavam retrocedérom. Naquele ponto o céu, que se acabava de cobrir, descarregou com tal força e em tal quantidade a choiva, que tivo que cesar o fogo; e os que nom temiam as balas ou se calhar como prudentes lhes fugiam, tentárom-se abeirar ali onde lhes era possível. Pequena trégua e mísero descanso, porque choveu com tanta força e abundância como rapidez; e o sol, um sol de trovoada, um sol abrasador de combate como vim e sentim depois outros, volveu cintilar no céu permitindo anovar a luita interrompida… Desde as janelas dumha casa da praça da Quintá faziam fogo desesperadamente uns quantos soldados do Provincial de Xixom mandados por um cabo. Desembocam no ato por um dos seus ângulos, 50 soldados de caçadores de América, levando à sua frente um jovem tenente.

-À frente por eles!-exclama este.

-Duro e à testa!-responde o cabo revolucionário.

E no ato soa umha descarga e rola polo chao aquele pândego rapazolo, quem quiçá ao acatar a disciplina e pensando na glória, tentava conseguir umha recompensa daquela lutuosa jornada. A disciplina e a glória cortárom-lhe para sempre as suas naturais ilusons: foi um de tantos valente aos que a fortuna costuma virar as costas na maioria dos casos!.. Assemade uns quantos soldados petárom na nossa porta: baixou minha mae, baixamos meu irmao e mais eu, e abrimos e decontado entrárom no portal co morto os seus acompanhantes. Passárom contra os 40 anos e ainda o lembro… Quem era? De onde era?.. Todo isto me perguntava enquanto o assistente, de nom muita mais idade que o morto, apanhava silandeiro quanto valor levava canda si o seu pobre amo. As bágoas escorregavam polas suas façulas.”