(Traduçom de Adriám Mosquera Paços “Senlheiro”) Nos últimos anos aconteceu amuúde nos movimentos sociais: umha mulher denuncia umha agressom machista dum companheiro. A pesar de que os coletivos som achegados ao feminismo, nom soe ser fácil gestionar estas denúncias e trabalhá-las em grupo.

No ano 2005, dúzias de entidades sociais e centenares de pesoas que sonhavam um mundo distinto reunírom-se em Porto Alegre (Brasil) no V Foro Social Mundial. Durante aqueles dias, as mulheres que participárom no Foro denunciárom 90 violaçons. Coa finalidade de rechaçar estas agresons e dar apoio às vítimas, as mulheres convocárom concentraçons e também umha grande manifestaçom. Sem embargo, o conjunto das entidades sociais nom as apoiou. Nom só isto, se nom que os homes organizárom outra marcha, à qual alguns deles acodírom espidos, baixo a consigna “Liberdade sexual”. As denúncias fôrom silenciadas, nom fôrom incluidas na documentaçom do Foro e tampouco tivérom nengumha resonáncia nos meios de comunicaçom.

Passárom 13 anos desde que, por primeira vez, saiu à luz a violência machista interna dos movimentos sociais, mas ainda se continuam invisibilizando as agressons que sofrem as mulheres no entorno de militáncia. E nom som nengumha anedota. Em setembro de 2018 tratou-se o tema durante a Acampada das Pequenas Revoluçons (Iraultza Txikien Akanpada) em Zubieta (Gipuzkoa), onde se pujo de manifesto umha realidade que durante muitos anos tinha sido silenciada: trata-se dum problema de grandes dimensons nos movimentos sociais.

“Houvo muitos casos nos últimos anos. Muitos“, confirmam Haizea Núñez, Miren Guillo e Saira Iraola. Falam em representaçom de Bilgune Feminista, umha organizaçom que nos últimos anos encarregou-se de gestionar muitas das agresons denunciadas. Sublinham que se trata de procesos “mui complexos” e que comportam um “grande cansanço emocional”. De feito, os obstáculos começam já no mesmo ponto de partida: há grandes dificultades, nom somentes para identificar as agresons, se nom também para reconhecer que existe violência machista dentro destes colectivos.

“As violências que tenhem lugar nos espaços activistas som as mesmas que tenhem lugar fora destes espaços. muda o cenário“, explica Tania Martínez Portugal, que está investigando esta temática. Atravês da voz das mulheres que participárom em ONG, partidos políticos de esquerdas, movimentos autogeridos ou colectivos antirracistas e antimilitaristas puidérom analisar a violência que tem lugar nos entornos da militáncia. O primeiro obstáculo para a identificaçom situa-se no imaginário: “Nestes colectivos luita-se por um ideal transformador comum, e tende-se a pensar que a violência machista fica fora destes espaços. Ademais, o discurso das comunidades activistas soe ser favorável ao feminismo. Trata-se dum cenário mais perverso”.

Pili Álvarez Moles investigou as relaçons de poder dentro dos gaztetxes (centros okupados por jovens) e, hoje em dia, aplica esta investigaçom aos movimentos populares em geral no marco da Fundaçom Joxemi Zumalabe. Mostra-se dacordo com o diagnóstico de Martínez: “Alguns grupos estám ameaçados -os gaztetxes, quase sempre-, o inimigo tenhem-no fora: desalojos, multas, confrontaçom contra as instituçons… Isto fai que houver umha forte coesom dentro do grupo, desenvolvem-se relaçons de confiança. Por isto as agressons provocam umha grande sorpresa: porque as cometem pessoas de plena confiança.”

Imagem: sermosgaliza

Assi mesmo, detectou que os prejuízos que há na sociedade em relaçom com a violência machista também tenhem peso dentro dos colectivos. Por exemplo os estereótipos com os quais se identifica a vítimas e agresores: “O militante perfecto, o activista comprometido, nom pode ser um agressor. É umha mulher activista nom pode sofrer umha agresom, menos ainda se é feminista. Estes mitos som mui perigosos.

“Hoje em dia, ser machista supom umha grande cárrega. Quem pode sentir-se identificado com o monstro que nos soem apresentar como agress or?” engade Jabi Arakana. É membro do grupo Gizonenea, do centro comunitário Auzoenea, de Iruñea, onde trabalhou com homes que cometérom agressons, atravês da reflexom em torno à masculinidade. “Nestes espaços (nos militantes, refere-se) historicamente, fomos contrários às opresons, porque nós eramos os oprimidos. É mui dificil identificar-se com o opresor e reconhecer que, na medida em que formamos parte desta sociedade, socializamo-nos igual nalgumhas actitudes”. Segundo Haizea Núñez, para as mulheres tamém supom umha grande ruptura: “Sentem que nestes colectivos tenhem um refúgio e, de súpeto dam-se conta de que nom é assi ficam sem um espaço de segurança, amiúde quebra-se-lhes a capacidade de estabelecer relaçons de confiança. Ao fim e ao cabo perigam os seus valores, reinventam as formas de criar cumplicidades, pensar quem som as verdadeiras amiçades…”

Nom acreditam nelas

Estas sensaçons podem ir a pior quando a agresom é qüestionada. E, segundo Martínez, isto acontece amiúde: “Nos casos que eu conhecim e investiguei, nom as crérom”.Alvarez engade que, nas denúncias por outos tipos de agresom, isto nom ocorre: “Quando um militante sofre torturas ou abusos policiais, crê-se-lhe, dá-se-lhe apoio, nom há nengum tipo de dúvida, de questionamento, de rexoubes… Sem embargo, com as agresons machistas, si”. Saioa Iraola revela um factor que influe na credibilidade das mulheres: “Depende de quem tenha sido o agresor, e quem tenha sido a agredida. De que estatus tenha cada um dentro do colectivo”.

Polo tanto, a resposta que se dá depois de denunciar a agresom dentro do grupo depende amiúde da actitude do agresor: se nega a agresom, é quando o problema se entúrbia. “Para pôr em andamento um processo colectivo, primeiro tem que haver um reconhecemento, se nom, é difícil trabalho”, afirma Miren Guillo. Irola explica que, nestas situaçons, os agresores soem atopar grupos de apoio: “As cumplicidades entre homes e o ambiente entre “pasillos” som mui importantes, e isto está mui ligado à nossa cultura política: aqui decidem-se muitas cousas fora das assembleias, e som decisons baseadas nestas cumplicidades”.

É entom quando começa a guerra entre duas versons, rumores, insistência em que a mulher repita umha vez tras doutra o relato dos feitos, a extrema importáncia que se dá aos detalhes… Da mesma forma que acontece noutras esferas sociais, julga-se a pessoa que denunciou. “A cotio também se responsabiliza às mulheres de ter roto a unidade do grupo. Nos nossos colectivos, o agresor estivo sempre fora, e nom desenvolvimos a cultura de fazer autocrítica. Isto provoca que estes tipos de denúncias se considerem um ataque à identidade colectiva”, explica Martinez. Para ela, despolitizar a violência é um mecanismo afectivo para tirar responsabilidade do grupo. “Se a violência sexista é algo que ocorre fora dos nossos espaços, é mais facil negar que tenha acontecido, ou bem minimizá-lo, ou tomá-lo como umha questom pessoal, como se fosse um conflito entre duas pessoas. A fim de contas, crêr a denúncia quer dizer que o colectivo deve actuar, e isto incomoda a muita gente.

Pintada feminista nas ruas galegas. Imagem: gaelia.wordpress.com

As conseqüencias podem ser graves. Existe o risco de que se fracture o colectivo, mas o impacto mais forte sofrem-no, sobre todo, as mulheres que denunciárom, até o ponto de abandonar o grupo. Como assinala Martínez: “As mulheres sintem-se atacadas polo grupo e decidem arredar-se dum espaço onde nom se sintem protegidas”. E engade Álvarez: “Quando se criam os bandos, quem tem menos paciência e força é quem remata marchando, que habitualmente som as mulheres: a maoiria nom continuam no grupo para nom sentir-se questionadas ,incómodas; para que nom se fale delas… Os homes ainda tenhem muita impunidade nos nossos colectivos”.

Tarefa de prevençom

Sem embargo, estes procesos nom sempre se torcem. Nalguns casos, os grupos dérom credibilidade à denúncia e o agressor também reconheceu ter actuado de forma inadequada. Álvarez vê claro que, nestes primeiros casos, é mui importante o trabalho que se tenha previamente. “Se antes nom se trabalhou o tema, quase seguro que a agressom será questionada, e mui poucas pessoas protegerám à mulher. O trabalho prévio nom garante que se salve o proceso, mas si comporta um mínimo de conscienciaçom: a militáncia conhecerá as lógicas da violência, saberá que as mulheres nom se inventam as agresons, e, ademais, terám umhas directrizes para tomar decisons, para nom rematar improvisando”.

Nestes casos, abre-se a oportunidade de abordar o problema em colectivo. Guillo sublinha que esta visom de grupo é mui importante: “O nosso ponto de partida som as necesidades que tem a pessoa que sofreu a agresom de cara a sua recuperaçom: sentir-se escuitada, sentir que a cremos… Sem embargo, na nossa opiniom, a base do proceso nom é trabalhar com a pessoa agredida e com o agressor, se nom pôr em andamento um proceso colectivo, comunitário”, expom. De feito, quanto há agresons deste tipo, produz-se umha fractura na comunidade: esta também tem umha certa responsabilidade no contexto que posibilitou a agressom, polo tanto, também se deve reconstitutir a própria comunidade”.

Esta visom coincide cumha questom de base que preocupa a muitos movimentos sociais e feministas: a idoneidade dos mecanismos punitivos do sistema judicial. As mulheres tenhem a opçom de ir aos julgados, mas as entidades estám trabalhando num modelo diferente de justiça. Como indica Núñez: “existe umha grande falácia em torno ao sistema punitivo. As responsabilidades som individuais: o problema tem-no a pessoa que cometeu o delito, e a soluçom passa por banir esta pessoa a sociedade e fechá-la. Sem embargo, a prisom já demostrou umha e outra vez que nom soluciona nada”.

A partir desta premisa, pregunta-se: “Temos que seguir neste paradigma neoliberal, segundo o qual o agressor é um demonho e o Estado quem salve à vítima? Se adoptarmos umha focagem diferente, segundo o qual a comunidade sofreu umha ferida e hai umha mulher que merece umha reparaçom, cremos que o castigo solucionará isto?”

Na prática, em troca, os grupos soem adoptar soluçons punitivas: tendem a assinalar aos agressores. Jabi Arakama explica que há umha grande diferença entre as respostas das mulheres e as dos homes:

“As mulheres imeiatamente identificam a violência como um elemento estrutural, dim que cumpre dar resposta como grupo, e proponhem criar um grupo de mulheres para tratar o tema. Com os homes isto acontece mui poucas vezes: custa-lhes reconhecer que é umha questom estrutural, culpabilizam o agressor, demandam medidas estritas contra dele, mas nom soem estar dispostos a questionar as suas próprias actitudes sexistas”. Núñez vincula isto com o feito de que os homes nom queiram aceptar umha responsabilidade colectiva. “Esta tendência a deixar claro que o agressor é o outro é mui significativa, e também mui perigosa. Todos temos actitudes machistas, racistas, etcétera. Nom reconhecer que estamos dentro do sistema e que reproduzimos actitudes como esta semelha-me umha falsidade e umha excusa.”

O veto temporal

Em qualquer caso, incluso se rejeita, o sistema punitivo, os colectivos soem tomar umha série de medidas com os agressores. Geralmente imponhem-lhes vetos, é dizer, que lhe proibem participar de certos espaços, sobre todo para que nom coincidem com a mulher que sofreu a agresom. “É umha condiçom para garantizar a mulher poder seguir militando tranquila”, precisa Núñez. “Este veto nom soe ser indefinido, porque a intençom final é que se integre: aqui entram a vontade e ocompromiso do home”, engade Arakama. Mas a pesar das garantias, alerta o risco de sofrer umha “morte social”, Às vezes, as respostas que se dam desde os colectivos podem chegar a ser mais severas que as dum julgado: perder as amizades ou os espaços de socializaçom tem um grande impacto nas as dos agressores”.

E que trabalho fam os homes mentres dura o veto? Arakama, que soe estar ao seu lado, explica que a sua funçom nom é funçom nom é fazer terápia: como muito aconselha a quem quigerem atopar atençom psicológica. A sua funçom é mais política. “Dou-lhes formaçom sobre masculinidades. Centro-me na problemática de cada um, mas analisamos as características da masculinidade: a desvalorizaçom do feminismo, o modelo do amor romántico, a gestom das emoçons, a homofóbia, o uso do poder…

Afirma que é um trabalho complexo: “Realmente custa dar-se conta dos privilégios próprios.

Dam-se conta facilmente no caso de ausência de medo ou da ocupaçom do espaço público, mas mais alá disto, é dificil, incluso para quem tem boa vontade”.

Imagem: galiciaconfidencial

Deve-se fazer um trabalho profundo. “Um trabalho que nom remata nunca”, precisa. “Mas há que ponher umha data de finalizaçom: o feito de saber que haverá um termo é bom para todo o mundo. Quando? Quando tenhamos trabalho de forma positiva todos os elementos que temos na cabeça”. Aclara que soem ser procesos que duram em torno a dous anos. “Mas nom é o mesmo reunir-se semanalmente ou umha vez ao mês. Há que ter em conta que nom o fazemos como profissionais, se nom que forma parte da nossa militáncia”.

A membras de Bilgune Feminista também fam referência a esta última questom: “Ademais de intervençons concretas, também nos pidem asesoramento, mas demo-nos conta de que às vezes temos rematado fazendo tarefas de mediaçom sem ter a formaçom necessária para fazê-lo”. Guillo reconhece que, para elas, a gestom destes casos foi um processo de aprendizagem: “Temos ido provando, e, polo caminho, identificamos algumhas carências. Se o voltamos analisar depois das reflexons que temos feito, vemos que nom estamos satisfeitas com algumhas decisons que temos tomado e impulsado. Polo tanto o proceso de aprendizagem nom está fechado.”