As luitas em defesa da Terra tivérom sempre umha especial vitalidade na Galiza; nos últimos tempos, a resistência à mineraçom e a oposiçom aos parques eólicos indiscriminados levou a rua vizinhança de várias comarcas, apoiadas por dúzias de organizaçons ambientalistas. Hoje, com o planeta inteiro entrando em zona de incertidume polo caos climático, o Movimento Galego polo Clima relaciona as ameaças mais próximas com um anunciado, e possível, colapso global.

A populaçom começou a ter notícia do Movimento Galego polo Clima no passado setembro, quando umha nova estrutura -maiormente nutrida de mocidade – ocupou as ruas das principais cidades da Galiza, nalguns caso convocando vários milhares de pessoas. A iniciativa, pola sua amplitude, arrasta grandes ambiguidades: por umha parte secunda as teses de Greta Thunberg, moça promocionada pola mídia empresarial, como abandeirada dumha crítica ao produtivismo que nom pom em causa o sistema capitalista; por outra, reúne activistas com inquietudes mais profundas, que entendem que a causa última do aparente beco sem saída que caminhamos está no modo de produçom.

Seja como for, hoje o Movimento Galego polo Clima reúne quase 80 estruturas, desde o ecologismo institucional de Greenpeace, até o mais clássico ambientalismo galego de ADEGA ou Verdegaia, passando por redes internacionais como Extinction Rebellion, ou por centros sociais independentistas como A Revolta ou Faísca, ou colectivos anticapitalistas de base como o Grupo de Agitaçom Social.

No passado sábado, umha assembleia nacional do Movimento reuniu-se na Casa do Matadoiro de Compostela para planificar novas actuaçons. Dado o condicionamento do ano eleitoral em que entramos, com a possível queda do governo Feijoo no horizonte, a pretensom é elaborar um decálogo para o futuro executivo. O Movimento pretende também elaborar um novo manifesto, que substituirá o que se difundiu no passado ano, e convocar um encontro nacional, entre reivindicativo e formativo, para o verao vindouro. As chaves de funcionamento continuarám a ser as que regérom até agora esta rede de colectivos: assembleias abertas comarcais, e um plenário nacional que decidirá as linhas de actuaçom mais genéricas.

Perspectivas

Qual é realmente a magnitude do que enfrentamos? A resposta depende de valoraçons científicas, e do prisma ideológico do que parta a pessoa interessada. Um dos vozeiros do Movimento Galego polo Clima, o estudante Kai Lois Balstrusch, expunha-o com claridade nas páginas de Nós Diário: “a provabilidade dumha mudança global abrupta, isto é, de chegarmos a um cenário que pom em risco a continuidade da nossa civilizaçom, é dum 5%. Mas essa provabilidade está calculada na base dos gases de efeito estufa emitidos até agora. E isto vai indo a mais. A mudança nom é lineal, é um círculo vicioso. Semelha pouco o 5%, mas é como subir a um aviom que tem 1 possibilidade entre 20 de se espetar.”

Questom nacional

No plano ambiental, como no económico, idiomático ou político, tampouco se pode dissociar a problemática galega das especificidades nacionais. Os efeitos que pode ter um clima imprevisível num monte inçado de eucaliptos nom passa desapercebido a ninguém; tampouco o cámbio de temperatura do océano nas rias, que vai marcar o sector marisqueiro nas próximas décadas; cenários dramáticos, nom impossíveis, como a suba dos níveis do mar, poderiam ameaçar cidades costeiras como Vigo ou Corunha, e obviamente centos de vilas que vivem mirando para o océano. O manifesto de 2019 recolhia estas problemáticas específicas, que ao cabo apontam de raiz ao modelo produtivo que deve decidir o nosso país: costas súper-urbanizadas e turistizadas, montes dedicados ao monocultivo, ou, no interior, granxas agro-industriais de grande extensom, prometem lucro imediato para parte da populaçom, mas revelam-se irracionais num novo contexto ambiental.

Monocultivos eucaliptais numha Galiza de clima cada vez mais cálido, ameaça para todas.
Imagem: atlanticodiario

O grande debate

Numha perspectiva global, um debate ideológico e político profundo está em jogo. Abordava-o neste mesmo portal o activista Anjo Cortiço, assinalando a cesura, aparentemente insalvável, entre dous pontos de vista antagónicos: o reformismo capitalista, que pensa que a civilizaçom pode salvar-se com um ‘Green New Deal’ que imponha medidas draconianas contra a classe trabalhadora em nome do meio ambiente, e parte da esquerda anticapitalista, que pom em causa a magnitude da mudança climática, e chama a sacrificar o ecologismo em nome da luita de classes. Para Cortiço, “a nossa incapacidade para dar umha resposta ajeitada (ao dilema) deixa-nos mais perto dumha situaçom de caos incontrolável ou de soluçons autoritárias que permitiriam uns poucos roubar e acaparar recursos.” O encontro, e mesmo a fusom, entre ecologismo e anticapitalismo, parece ser a grande disciplina pendente dos tempos que aí venhem.