(Imagem:thegrayzone.com) Há uns dias analisávamos neste portal como um novo modelo de desestabilizaçom, por vezes antessala do golpe de Estado, foi patrocinado polos USA através da entidade CANVAS, cuja mao aparece em lugares tam distantes como Sérvia ou Venezuela. Massas na rua, propostas eleitorais de mudança e actividade febril das redes sociais mascaram de “espontáneos” protestos cozinhados em altas esferas do poder. Porém, e como o recente exemplo boliviano nos demonstra, estes ensaios aparentemente democráticos nom eliminárom tampouco o golpe mais clássico: proclama militar e caçata ao dissidente. Vejamos algumha prova recente.
Williams Kaliman é um general boliviano que chegou a riscar as forças armadas do seu país de ‘anticolonialistas’ e declarou Morales o ‘irmao presidente’. Isso, justo um ano de negar o apoio ao líder esquerdista e virar um dos inspiradores do golpe, pedindo a renúncia de Evo. Kaliman foi logo relevado pola presidenta golpista da Bolívia, Jeanine Añez, em favor do considerado mais leal Carlos Orellana.
As vinculaçons de Kaliman com os interesses imperialistas do norte, umha constante nas estruturas militares latinoamericanas, aparecem claras a pouco que se pesquise. Durante anos, foi adjunto da Embaixada boliviana nos USA. Recebeu formaçom militar em Whinsec, a escola militar de Fort Benning, em Geórgia, que nos anos mais duros da guerra fria era conhecida como ‘Escola das Américas’, e funcionava como academia para a contra-insurgência em todo o continente. Golpes de Estado e processos contra-revolucionários tam duros como os de Haiti e Honduras fórom levados a diante por oficiais graduados na academia. Roy Bourgeois, um activista norteamericano que foi expulso de Bolívia na década de 70, pola sua denúncia do ditador Hugo Bánzer, definiu muito atinadamente esta instituiçom:
“Os mais dos cursos (da instituiçom) giram por volta do que chamam guerra contra-insurgente. Quem som os insurgentes? Cumpre fazermos essa pergunta. Som os pobres. Som as pessoas na América Latina a pedirem reformas. Som os labregos sem terra que tenhem fome. Som os trabalhadores da saúde, defensores dos direitos humanos, organizadores sindicais, som eles quem som convertidos em insurgentes, vistos como o inimigo. E som quem se convertem nos objectivos de quem aprendem as suas liçons na Escola das Américas.”
A Bolívia post-Banzer nom deixou estes vínculos. Ainda em datas relativamente recentes -ano 2003- Kaliman recebeu um curso intitulado ‘Comando e Estado Maior’ nesse mesmo centro.
Umha outra das figuras senlheiras do golpismo é o ex-alcalde de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, um outro dos bolivianos que recebeu liçons em Whinsec. Outros quadros conhecidos que, segundo a investigaçom do web de jornalismo alternativo greyzone.com, recebêrom formaçom na academia militar norteamericana fórom os oficiais Remberto Silas, Julio César Maldonado e Óscar Pacello. Um dos traços ideológicos que unem os golpistas bolivianos é umha certa concepçom da religiosidade, organizada por volta de crenças evangélicas. Esta versom do protestantismo tem um papel importante na ideologia das elites burguesas brancas bolivianas.
Segundo umha investigaçom publicada por Philip Agee, um ex-agente da CIA arrepentido, o papel das embaixadas e adjuntos estadounidenses é chave para os trabalhos de infiltraçom da CIA. Agee publicou o livro ‘Inside de Company. CIA diary’ motivado por umha consciência social católica, segundo ele dixo, que nom lhe podia permitir tolerar os abusos norteamericanos contra iniciativas democráticas.
O vencelho entre altos mandos bolivianos e quadros estadounidenses nom é apenas pessoal. A própria polícia do país fai parte do chamado ‘Programa APALA’, que dinamiza o intercámbio de agentes entre os USA e o conjunto da América Latina. APALA define-se como “força de segurança multidimensional“, foi fundada em 2012, e reconhece nas suas redes sociais que pretende ‘estreitsar laços de solidariedade e amizade, procurando a cooperaçom e o desenvolvimento integral.” No caso boliviano, a coordenaçom entre forças policiais e militares pareceu ser essencial no desenho do golpe, segundo áudios que filtrou parte da imprensa americana. Um dos dirigentes do golpe foi Yuri Calderón Mariscal, um tenente coronel que participou também desta coordenaçom internacional de polícias.
Liçons para o Velho Mundo
Como sabemos, o contexto Latinoamericano está muito arredado de nós em distáncia geográfica e coordenadas sócio-políticas. Porém, se algumha liçom podemos extrazer para o nosso contexto, e particularmente para o Reino de Espanha, é que as ideologias extremistas de direita tenhem um caldo de cultivo importante nos corpos policiais e militares, e por isso a ameaça de violência contra o dissidente, ainda que nom se efectivar, é sempre muito real. A relaçom entre fascismo e milícia fijo possível, entre outros feitos históricos, o golpe militar de 1936. O ‘boom’ extremista e fascistizador que estamos a viver na actualidade, protagonizado no ámbito institucional pola formaçom ‘Vox’, nom se poderia entender tampouco sem a decantaçom cara teses fascistas de parte importante de corpos como a polícia espanhola e a guarda civil.