O processo de mudança de hábitos sociais do último médio século está a marcar a fisionomia das pessoas, também das crianças. Como mais umha mostra dos paradoxos do processo modernizador, enquanto aumenta a esperança de vida e a capacidade médica para intervir contra doenças, xurdem novos males associados ao sedentarismo e o consumo desbocado. Na infáncia, a obesidade extende-se de maneira preocupante, e o deterioramento físico golpea especialmente as classes populares.
Em 2013, a própria Junta da Galiza foi ciente da magnitude do problema, lançou um Plano de Prevençom da Obesidade Infantil nomeado ‘Germola’. E é que, segundo diversos estudos, entre eles o chamado ‘Galinut’, realizado pola USC e o SERGAS, os dados som inequívocos: na etapa que vai de 1979 a 2017, a obesidade infantil multiplicou-se por três na nossa terra. Nesta década que agora conclui, um 18% de crianças galegas som obesas, e de abrirmos esta categoria a menores com sobrepeso, a estatística alcança o 43%. Para darmo-nos conta da dimensom do problema com um alcanço internacional maior, pensemos que países como os Estados Unidos, paradigmáticos da má alimentaçom e o sedentarismo, apresentavam em 2012 um índice de 17% de nenas e nenos obesos. Se cruzarmos o rio Minho, e visitamos Portugal, um país com enormes semelhanças sócio-culturais e mesmo económicas, vemos que o índice de crianças obesas em 2017 nom chegava ao 13%.
Em apenas 40 anos, a média de neno ou nena galega ganhou mais de sete kilos de peso; se bem os dados de podem matizar polo aumento de talha média (devido à maior disponibilidade alimentar), o SERGAS adverte que os índices de gordura corporal medram bem mais rápido que a altura. Os problemas de aparência, a incomodidade e as dificuldades para o exercício físico aparelhadas ao sobrepeso acompanham-se de riscos para a saúde.
Os efeitos
Especialistas insistem: “nom estamos ante um problema estético.” Obesidade infantil antecipa umha vida adulta inçada de problemas, pois o excesso de peso está directamente relacionado com problemas cárdio-vasculares, desenvolvimento de cancros e diabetes. Algumhas doenças próprias da vida adulta, de facto, começam a desenvolver-se muito antes deste período, caso da hipertensom ou a diabetes II. Nos casos mais graves, os maus hábitos arreigam-se em idades mui temperás, até o ponto de afectarem aos primeiros meses de vida. Na jeira de lactáncia, 25% das crianças galegas recebem umha alimentaçom deficiente e demasiado baseada em açúcares.
Nom podemos desconsiderar os efeitos psicológicos, que por vezes superam em gravidade aos físicos. Numha sociedade obsessionada com a imagem e onde a censura contra corpos que se saem da norma é estrita, a obesidade infantil tem consequências muito lesivas para nenos e nenas que estám a construir a sua auto-estima e valores. Pais e maes de rapazes que sofriam este problema levárom de feito à fundaçom da associaçom Abagal, encarregada de fornecer ajuda psicológica às afectadas.
Hábitos nocivos
Há vários lustros, com o problema da obesidade infantil ainda incipiente, os serviços públicos de saúde apontavam aos efeitos profundos que iam criar hábitos sociais totalmente distintos aos que dominavam nas décadas de 70 e 80. A forma de vida motorizada e colada aos artefactos tecnológicos leva a um gasto calórico muito menor; segundo afirmava em entrevista o Serviço de Saúde Pública de Bilbo, isto devesse levar-nos a reduzir a nossa ingesta de calorias em 300 ou 600 por dia, quer em adultas, quer em crianças.
Os dados de obesidade infantil na Galiza indicam que o problema, se bem nom melhora, está estancado desde os anos 2011-2012. Resta por ver como afecta nas tendências a multiplicaçom do consumismo tecnológico. Neste Natal, o informe ‘Screen Pollution’, impulsionado pola empresa Multiópticas, patenteou que o tempo devotado polas crianças ao lazer online passa das duas horas diárias, e incrementa-se no fim de semana. Nas festas que vivemos nestes dias, o 54% de menores recebem já aos seis anos algum tipo de gadget tecnológico como presente; no caso das pre-adolescentes de 12 anos para diante, o 93% som agasalhados com artefactos electrónicos.
Classes populares, principais vítimas
O preço dos alimentos saudáveis fai-nos mais asequíveis para as classes possuídoras ou as famílias da pequena burguesia qualificada; no entanto, entre as classes populares, o acesso à alimentaçom precozinhada, com elevados índices calóricos e pobreza vitamínica, é a norma. Relaciona-se com o poder adquisitivo, mas nem só. O nível sócio-cultural, dependente do da renda, e as formas de vida, também condicionam a alimentaçom. As jornadas laborais extenuantes, que impedem umha atençom devida à cozinha, a falta de tempo para a atençom às crianças, ou mesmo a dificuldade para investir tempo em actividades desportivas, fai com que esta epidemia se cebe na classe trabalhadora. Segundo um estudo publicado pola imprensa empresarial, se o 60% das menores entre 6 e 18 anos praticam desporte, a percentagem desde ao 50% nas famílias com menor renda.