Os balanços climáticos fam-se rotineiros e perdem o seu poder de impacto: Agência Estatal de Meteorologia registou o 2019 como segundo ano mais cálido desde que se têm estudos estatísticos e anuncia que o Inverno que vimos de estrear vai mover-se também por cima das médias de temperatura históricas. As chuvas deste outono, que segundo os especialistas, por concentraçom e volume, batem registos, ponhem de novo o nosso país ante umha realidade incontestável: a mudança climática causada polo modelo de produçom e consumo capitalista. Quando umha climatologia endurecida começa a afectar as nossas vidas, cumpre perguntar-se se a Galiza se prepara para o novo cenário.
As previsons som sempre falíveis, mas toda estimaçom do nosso futuro cercano move-se em semelhantes coordenadas. Um informe do Observatório da Sostibilidade considera que a Galiza de 2050 terá 2º de temperatura média, e a metade das precipitaçons actuais. As consequências som incontornáveis para a produçom agrária, florestal e marisqueira, mas também para o comum dumha populaçom que pode enfrentar secas prolongadas, anegamentos e mesmo novos tipos de doenças.
Junta da Galiza também tomou nota do ecologismo superficial promovido por grandes corporaçons e grupos de pressom do ‘Green New Deal’ que analisávamos na passada semana. Seguindo um protocolo obrigatório para todas as instituiçons europeias, o governo autonómico enxergou um plano para a alegada ‘adaptaçom’ do país aos tempos que aí venhem. Começou a desenhar-se na passada primavera, e apresentou-se na Cidade da Cultura do Gaiás no passado novembro com todas as pompas dos actos oficiais. Num dos prédios da instalaçom, Núñez Feijoo compareceu diante de centos de concelheiros e concelheiras, directores gerais, representantes académicos e membros da oligarquia económica. Algumhas das empresas responsáveis pola desfeita ambiental do país, como Ence ou Sogama, estavam presentes na cerimónia.
O PP aprovou em solitário um chamado ‘Plano Operativo’, que se inclui na ‘Estratégia Galega do Cámbio Climático e Energia 2050’. Começará a aplicar-se em 2023 e compom-se de 170 medidas, adereçadas com a terminologia obrigada do capitalismo verde: ‘economia circular’, ‘sostibilidade’ e ‘eficiência’. Por palavras textuais do executivo da Junta, ‘procura-se a neutralidade climática da Galiza’ em 2050, isto é, a nom emissom de gases causantes do efeito estufa; o máximo dirigente da Junta nom se atreveu a mentar as grandes empresas poluintes que operam na Galiza -e que se situam no ranking de indústrias nocivas no conjunto da Europa ocidental- e preferiu falar da contribuiçom de ‘outras formas de energia’ e do ‘papel chave do sector florestal’, numha alusom directa a Ence e a sua aposta pola monocultura eucalipteira com fins energéticos.
A verdade do plano
Organizaçons ambientalistas galegas, caso de ADEGA, Verdegaia ou Galiza sem carvom, deslegitimárom ponto por ponto o plano, assinalado as suas lacunas deliveradas, e criticando a sua presença propagandística na COP25. Quiçá a primeira, e mais chamativa, e a falta de financiamento para um projecto tam ambicioso. 60% das medidas propostas carecem de qualquer orçamento asignado, o que possibilita o desenho ficar no limbo das intençons. Térmicas e Ence, grandes agentes poluintes, nom som postas em causa; e no que diz respeito às energias renováveis, vendidas como panaceia do acordar ambiental, carecem de qualquer mecanismo específico de financiamento. Ficarám em maos do que desejar a iniciativa privada, e poderia-se explorar hipoteticamente ‘algum tipo de acordo voluntário’ com a administraçom. Enquanto nom se desenha nenhuma proposta de transiçom energética global, anima-se na letra impressa à adaptaçom voluntária, e fogar por fogar, de fontes como ‘caldeiras de biomassa, solar térmica ou geotérmia’, pretendendo descarregar o peso da transformaçom nos indivíduos.
O ambientalismo chama a atençom, entre outros aspectos, sobre o nom questionamento de Sogama, cuja linha de incineraçom de plásticos continua a receber ainda mais financiamento que a reciclagem. Aliás, organizaçons como ADEGA sulinham que importantes recursos orçamentários si que irám destinados, porém, à chamada ‘silvicultura compensadora’. Desde que os bosques tenhem capacidade de absorçom de carbono, a Junta aproveita a ocasiom para dar mais um pulo à monocultura eucalipteira. Paradoxalmente, nom há nenhuma medida de apoio concreto àquelas zonas de bosque autóctone que tenhem grande potencial de absorçom de gases poluintes, e nom se fai mençom nenhuma à ampliaçom dos espaços da Rede Natura 2000 nem aos humidais Ramsar. Ecologismo tem assinalado que as zonas húmidas como turbeiras e branhas tenhem três vezes mais capacidade de fixaçom de carbono que os bosques, e ainda assi, apenas um 12% do seu espaço está protegido na Galiza.
Em qualquer caso, para darmo-nos de conta do alcanço das medidas que baralha a Junta, em maos dum partido que até nom há muito era representante do negacionismo climático, podemos levar em conta a recente amonestaçom da Comissom Europeia aos estados membros. A instituiçom considerou ‘insuficientes’ os planos de transiçom energética apresentados polos 28 membros, planos que o Acordo de Paris de 2015 virou obrigatórios. Os objectivos de reduzir um 40% as emisoes poluintes cara 2040, aumentando a produçom de renováveis até o 32%, ficam ainda na pura palavrada em todo o continente.
Passividade e acçom
Os estudiosos do fenómeno do ‘peak oil’, especialistas no esgotamento das energias fósseis, e críticos do crescimento afirmam, com fundamentos científicos, que tais planos de reduçom de poluiçom só seriam possíveis com umha queda abrupta da produçom capitalista, e no quadro dumha mudança radical de valores e formas de consumo do conjunto da populaçom. Desde que isso está longe de ser aceitado polas forças políticas maioritárias e partes importantes da cidadania, parece inquestionável que caminhamos a grande velocidade para um colapso -ou ambiental, ou económico, ou ambos a um tempo- que mudará muitas cousas que damos por inquestionáveis.
A reacçom maioritária está a ser a negaçom ou a ignoráncia deliberada, o que nom ajuda, tampouco na Galiza, a adoptar formas de resiliência para o que se achega; também o chamado fenómeno de ‘eco-anxiety’, malestar psicológico paralisante ante um futuro cheio de problemas, e que começa a ganhar certa entidade, abre portas a outro cenário. A mobilizaçom popular incondicional, baseada em princípios desapegados do consumismo, pode preparar-nos para o panorama que os governos minimizam.