Entre os jogos de azar destaca o conhecido como Gordo de Natal, que se celebrará o vindouro dia 22. É tal o seu sucesso que o vídeo comercial que anuncia o evento é um dos mais aguardados todos os anos, e o dia do sorteio é a própria televisom pública quem o emite em direto na íntegra.

O vídeo promocional deste ano fala de quatro histórias singelas mas emotivas. Entre estas histórias destaca a dumha moça que está ingressada no hospital: é umha enferma terminal que é levada em cadeira de rodas polo seu enfermeiro para fazer umhas provas. Durante o trajeto falam e o enfermeiro agasalha-lhe um décimo à moça enquanto lhe dize: “tu pensa só numha cousa, pensa que vás fazer com o prémio quando saias de aqui, porque vás sair de aqui”. A moça, que estava desacoroçoada, passa a estar emocionada e esperançada.

Este tipo de histórias tam emotivas convencem à gente e provoca que, por exemplo, no Natal do ano 2018, as galegas e galegos gastaram umha média por pessoa de mais de 66 euros na lotaria, o que suma um gasto total na Galiza de quase 180 milhons de euros. No conjunto do Estado arrecadárom-se 3.146 milhons de euros.

O azar como única esperança

Como se vê, a ideologia que invade as nossas mentes, para dirigir as nossas vidas e ditar as nossas necessidades nom cessa. Assim é como ambicionamos o sucesso económico. E num momento em que se esboroa o débil estado do bem-estar, onde o Estado já nom protege os trabalhadores e as trabalhadoras e quando a ausência de consciência de classe dificulta a auto-organizaçom, fica o caminho abonado para as saídas individuais e o ‘salve-se quem puder’.

Isto fica patente ano após ano, quando nos dias posteriores ao sorteio todos os canais de televisom relatam os casos especialmente dramáticos de algumhas das pessoas premiadas: a pessoa idosa que vive soa e nom tem quem a ajude, o imigrante ilegal que vivia na rua ou a família que vai ser despejada da sua morada. Estes casos reais, especialmente escolhidos polos médios, som episódios que nom aconteceriam numha sociedade justa.

Mas a classe trabalhadora sabe que nom vivimos numha sociedade justa e também sabe que os jogos de azar som a alternativa mais fácil para sair do circulo de exploraçom laboral que padece ou, quando menos, para sair da precariedade. A probabilidade de ser premiado na loteria é pequena, mas é mais provável que a ascensom social por outros médios. A classe trabalhadora sabe que o relato liberal do homem feito a si mesmo através do trabalho duro é um mito. A experiência vital ensinou-lhes que o sucesso na vida nom chega por trabalhar mais duro ou ter melhor educaçom, senom que chega por ter os contatos com as pessoas ajeitadas, por ser de determinada família, por ter dinheiro para iniciar os projetos próprios e também graças às trapaças.

Gráfico feito com dados extraídos de umha pesquisa feita polo Centro de Pesquisa de Opiniom Pública da Rússia.

Umha ferramenta ao serviço do sistema

Para que as pessoas premiadas com o Gordo cada ano possam receber o seu dinheiro é necessário previamente extrair-lho ao resto da populaçom que participa: no ano 2018 foi a cifra de 3.146 milhons de euros. É dizer, o resto da populaçom é um pouco mais pobre. Além disto, umha parte importante do arrecadado vai para as arcas do Estado, polo que constitui umha fonte de ingressos regressiva já que é aportada maioritariamente polas classes mais baixas. Em definitiva, o processo é o oposto ao promulgado tradicionalmente pola esquerda, onde através do pago de impostos, taxas e tributos, se transferiria riqueza desde as classes mais favorecidas cara as classes baixas.

Os jogos de azar, e nomeadamente a Lotaria de Natal, som outro mecanismo mais para aumentar as desigualdades entre a classe trabalhadora em favor de umha minoria privilegiada. Outro jeito mais de concentrar a riqueza e outro ressorte mais que reforça a ideologia da classe dominante.