(Imagem: elaniorapaz.blogspot.com) Companheira do ser humano desde tempo imemorial, o açor é umha das aves preferidas pola cetreria, umha arte de 4000 anos de antiguidade. Esta rapina, menos conhecida popularmente que os seus parentes, a águia ou o minhato, tem o seu lugar nas lendas. Diz-se que Gengis Khan adestrou umha ave desta espécie durante o seu desterro, e que a sua habilidade na caça ajudou-no a sobreviver. Cetreiros consideram-na historicamente, junto o falcom, umha ‘ave nobre’, desde que nunca ataca o homem. Na Galiza, resiste com relativa boa saúde no mais profundo dos nossos bosques.

O açor recebe o nome científico de Accipiter gentilis desde o século XVIII. A comunidade científica tem discutido aeito quantas subespécies existem, e entre a sua controvérsia ficou claro que a que vive entre nós pertence ao subtipo que habita o sul dos Pirineus e alcança o norte da África. Recebe o nome de Accipiter gentilis marginatus, e é um chisco mais pequena que os seus vizinhos do norte. Os seus parentes mais cercanos som a águia, o avutre, o minhato e o gaviám. A língua galego-portuguesa registou a existência desta ave desde momentos temperaos e, de feito, na variedade do sul existe umha ‘Serra do Açor’, na zona oeste da Serra da Estrela. O colonizador português Gonçalo Velho Cabral descobriu em 1432 umhas ilhas que decidiu baptizar como ‘Açores’ por razons que ainda hoje se discutem, pois lá nom habita esta espécie; seja como for, esta rapina estava presente na mentalidade dos conquistadores de além Minho. Esto escreve Diogo Gomes nas suas crónicas, dando prova da identificaçom confusa entre açores e outras aves:

Em certo tempo o Infante D. Henrique desejando descobrir logares desconhecidos no Oceano occidental com o intuito de reconhecer se existiam Ilhas ou Terras firmes além das descriptas por Ptolomeu, mandou caravellas em busca destas terras. Partiram e viram terra… e vendo que eram Ilhas entraram na primeira, acharam-n’a deshabitada, e andando por ella encontraram muitos milhafres ou açôres, e outras aves; e passando à segunda que hoje se chama Ilha de S. MIguel…, acharam muitas aves e milhafres… D’ali viram outra Ilha que ne actualidade se chama Ilha Terceira, a qual á similhança da ilha de S. Miguel, estava cheia de… muitos açôres.

Topa-se a vontade em latitudes variadas, de facto podemos vê-la de Escandinávia até o Irám. Vive muito a vontade nas coníferas da taiga, nos ambientes alpinos e nos bosques baixos do Mediterráneo, povoados de sobreiras e azinheiras; também gosta da fraga atlántica, e é hábitat o que escolhe prioritariamente na Galiza.

Desde o século XIX, o avanço da industrializaçom supujo umha séria mingua das suas populaçons, e mesmo desapareceu da Grande Bretanha. O recuar da floresta, a perda de presas por mor dos pesticidas, as linhas de alta tensom ou os parques eólicos fixérom-lhe um dano importante. Bem é certo que desde que as legislaçons proteccionistas abrírom o seu oco nos Estados europeus, a partir da década de 70 do século passado, o açor experimentou umha recuperaçom.

Como reconhecê-la

Adoitamos comentar nesta secçom que a olhada urbana, afeita aos ecrás e desorientada na natureza, tem dificuldades para distinguir espécies animais e vegetais. Aliás, as presas e a atençom dispersa dos dispositivos tecnológicos cadra muito mal com a observaçom da Terra. Para darmos algumha pista e evitar o total extravio, diremos que há algumhas chaves que permitem saber quando alviscamos um açor. É umha ave de tamanho mediano, que vira grande com as asas extendidas -a sua envergadura pode superar o 1,20. As ás som bastante curtas considerando que é umha ave de rapina, e a cauda, fundamental para a sua navegaçom aérea, é muito longa. A plumagem superior é gris lousa acastanhada, e no peito loze as conhecidas bandas branquinegras. Ante o risco de confundi-la com o cuco, as ornitólogas chamam-nos a estar atentos à forma da cabeça e das ás, que som mais afiadas no caso do usurpador de ninhos. Aliás, se repararmos em detalhe nos seus olhos, veremos cores intensas que vam do amarelo ao vermelho cereija.

No bosque da Galiza

Nas zonas atlánticas, o açor quer bosque, mas nom lhe serve qualquer massa arvorada. Pede florestas de, alo menos, 60 anos de idade, pois utiliza árvores muito grandes e mestas para aninhar. O seu ninho, grande e pesado, requer também umha forte ramalhadada. É também neste ecossistema onde topa abonda riqueza de presas para subsistir. Caça com gadoupas muito poderosas . O voo, normalmente baixo, nom é o mais impressionante de todas as aves de rapina, mas fai complicadas manobras entre árvores, e eis o sentido de as suas ás rematarem em formas redondeadas.

Das caducifólias às coníferas, o bosque é o hábitat preferido do açor. Imagem: docnatureblog.blogspot.com

Protecçom

Na década de 70, popularizou-se o costume horrendo de decorar a parte superior dos aparelhos do tevê com umha rapina dessecada, muitas vezes um açor; nos locais de hostelaria era frequente ver esta estampa. Por fortuna, tal prática esmoreceu, e nom temos constáncia de que o açor seja vítima favorita dos escopeteiros que matam por prazer; no século que andamos, nom está no Catálogo Galego de Espécies Ameaçadas. A finais da década de 70, o nascente voluntariado ambiental lançou iniciativas de protecçom do açor e outras rapinas, como o ‘Centro de Recuperaçom de Fauna Silvestre Aula do Rodício’, vinculado à Universidade Laboral de Ourense, ou o ‘Centro Coto Redondo’ de Ponte Vedra.

Como muitos outros animais, a triste notícia da quase desapariçom do agro e avanço da floresta pode supor, paradoxalmente, um respiro para o açor. Massas boscosas cada vez mais grandes permitem santuários naturais sem abafos humanos. Resta ainda por estabelecer um panorama sensato onde rapinas e pessoas poidam conviver nos agros com certo equilíbrio mútuo.