Na passada semana, abríamos o nosso espaço à controvérsia idiomática. César Caramês, redactor deste portal, punha o foco na deriva crescentemente institucional de parte da corrente reintegracionista. Zeloso dumha irreal ‘independência ideológica’ que nom existe, o lusismo mais cercano ao poder comparece com certa frequência acompanhado de figuras das elites políticas e culturais galego-espanholas, algumhas delas abertamente contrárias à hegemonia social do galego. Num processo paralelo, os dirigentes desta fracçom medem com cálculos medonhos qualquer aproximaçom ao independentismo e à esquerda. Para esclarecer possíveis confusons, mergulhamos na história.
Os detractores galeguistas do reintegracionismo acusam-no de elitista, filologista e alheio ao pulso das ruas. A acusaçom é só parcialmente certa. A inquietude ortográfico nasceu nas pequenas elites galegas, professorais e funcionariais, pois este sector social é o único que tem o acougo suficiente para se preocupar com tais assuntos. É de sobra conhecido que a conviçom genérica reintegracionista está presente em todos os galeguistas, quanto menos, desde tempos de Murguia. Até um antinacionalista confesso como Ramom Pinheiro confessava, em 1973: “estamos totalmente dacordo em que o galego e o português som radicalmente a mesma língua.”
O genocídio de 1936 rematou, como com tantas outras cousas, com o debate lingüístico. Quando se ventavam ares de mudança, a primeiros da década de 70, novos gromos de reintegracionismo intelectual vam-se conformando. O mais importante foi o chamado ‘Grupo de Roma’, também denominado como ‘Os Irmandinhos’. Galegos católicos, formados na Itália, que chegárom à conviçom lusista pola combinaçom de leituras e o seu convívio com religiosos brasileiros. Montero Santalha foi um dos seus principais representantes, um intelectual que reconheceu ser muito influenciado polo filólogo português Rodrigues Lapa, que nos anos 30 e 70 participou como mais um galego no nosso debate idiomático. Recorda Tiago Peres numha obra muito útil “Breve história do reintegracionismo”, Montero abriu os olhos à unidade lingüística trás ler um texto de Valentim Paz Andrade. O ex-militante galeguista, um dos poucos membros da burguesia autóctone que actuou como capitalista em chave nacional, foi ciente do enorme potencial do idioma nas relaçons económicas da Galiza com o Brasil.
Para fechar o círculo, cumpria ainda o contributo dum dos intelectuais galegos mais brilhantes, Carvalho Calero. Forjado no galeguismo de esquerdas da década de 30, evoluiu logo para um nacionalismo independente e apartidário. O seu choque intelectual com as elites autonómicas post-franquistas, e com os pensadores partidários de isolar o galego, fijo-o a grande autoridade das teses lusistas. A fundaçom de AGAL, entre outros colectivos académicos, deu-lhe solidez em 1981.
Rua, mocidade e classe obreira
A história das ideias nom segue linhas rectas. Na altura, o reintegracionismo pivotava por volta de círculos académicos, galeguistas cristaos, e figuras históricas da cultura e da empresa, caso de Guerra da Cal ou Paz Andrade. O futuro nacionalismo institucional, ainda que dizia simpatizar com a ideia, nunca a levou à prática. Nada fazia presagiar umha mudança de rumo e de classe.
A VIII Assembleia Nacional de Galiza Ceive (OLN) em 1985 inaugura um novo modelo de conceber o idioma na política galega. Sendo cientes ou nom, os arredistas recuperavam as teses do precursor pondaliano Ricardo Flores, que n’a Fouce dos anos 30 apostava polo galego-português sem maquilhagem. Pola vez primeira na Galiza, umha organizaçom dava o passo de socializar as suas teses e consignas em ‘galego histórico’. Dous anos mais tarde, os estrondos das bombas do EGPGC contra centrais bancárias som secundados por comunicados escritos em galego reintegrado. O movimento político-social socializa em galego-português os argumentos feministas (Mulheres Nacionalistas Galegas), anti-repressivos (Juntas Galegas pola Amnistia) e arredistas políticos (Assembleia do Povo Unido). Sem vínculo orgánico com o reintegracionismo académico, umha vaga mobilizadora e militante leva a unidade da língua a sectores da classe trabalhadora e da juventude estudantil.
Associativismo e língua
O movimento político e armado esmoreceu nos 90, mas nos seus arredores germolou todo um movimento associativo nutrido de independentistas que seguiu a inçar de ‘nh’ e ‘lh’ as paredes das cidades e vilas, as faixas das manifestaçons e os textos dos panfletos. Dous fitos som especialmente importantes neste momento histórico: a fundaçom do jornal ‘Gralha’, que inaugura umha linha de informaçom alternativa em grafia histórica, e achega umha nova geraçom às teses independentistas e reintegracionistas; e a abertura do centro social da Fundaçom Artábria em 1998, primeiro ensaio do que será o exitoso modelo de centros autogeridos em toda a nossa geografia. Em sintonia com estes projectos estavam dúzias de colectivos locais pola língua (ARO de Ordes, Marcial Valadares da Estrada, Bonaval de Compostela…), baseados em grande medida na juventude, as ediçons divulgativas (mesmo em banda desenhada) e o trabalho voluntário. Algumhas conquistas simbólicas do movimento galego que temos analisado neste portal, caso da popularizaçom do ‘GZ’, das figuras do Apalpador ou do Merdeiro, ou da reivindicaçom de selecçons nacionais, levarám maiormente o carimbo reintegracionista.
Com o começo deste século, o espaço reintegracionista amplia-se com as organizaçons políticas e sectoriais do independentismo: AMI, Estudantes Independentistas, Agir, NÓS-UP, Primeira Linha, Ceivar, Briga ou Causa Galiza continuam a apostar pola versom internacional do nosso idioma.
Na luita clandestina, a militáncia da sabotagem e o ataque violento também se exprime, como na década de 80, em galego-português, e nos dous ‘Manifestos pola resistência galega‘ que circulam na rede, a grafia reintegrada é a escolhida. Associando reintegracionismo a independentismo revolucionário -velha teima do Estado- a guarda civil baptiza como ‘Operaçom Lusista’ a última operaçom contra-insurgente que envia quatro galegas a prisom, no junho passado.
Também no campo comunicativo, do que este portal fai parte, a tradiçom inaugurada pola Gralha continua, reformulando-se no cabeçalho já veterano Novas da Galiza. Meios digitais como o nosso, ou como Diário Liberdade, mantenhem a mesma orientaçom idiomático-cultural.
E finalmente, num ámbito que ainda dá os seus primeiros passos, umha parte importante do contingente militante que alimentou o reintegracionismo de base levou esta filosofia ao ensino auto-gerido: a abertura de escolas Semente em várias das principais cidades do país pom em contacto as geraçons mais novas de galegas com a versom da língua que tantos dos nossos clássicos defenderam. O ensino é mais um território para um movimento social que pouco sabe de elites, e si muito de trabalho colectivo e anónimo.