A semana passada soubo-se que em 2018 os níveis de CO2 na atmosfera marcárom um novo registro histórico ao alcançar-se a cifra de 407,8 ppm (partes por milhom), segundo dados publicados pola Organizaçom Meteorológica Mundial.
Ontem, os jornais espanhóis de maior tiragem saiam do prelo com a mesma portada, publicidade da companhia energética mais contaminante do estado: Endesa. Lavagem de cara que necessita a empresa que mais emissons de CO2 gerou durante o ano 2018: mais de 30 milhons de toneladas de dióxido de carbono que representam o 9,3 % das totais emitidas à atmosfera.
Pola sua vez, hoje está-se a celebrar em Madrid a COP25, Conferência das Partes, órgão das Naçons Unidas sobre a mudança climática, onde os lideres dos estados mais contaminantes só tenhem boas palavras para o ecologismo. Entre os discursos e promessas dos representantes políticos repetem-se a cada passo umha série de termos formosos, mas confusos: neutralidade climática, transiçom verde, crescimento sustentável,… Enquanto eles falam, está de caminho à cimeira climática a moça Greta Thunberg, símbolo e cara visível do movimento ecologista sistémico. Viagem que é todo um acontecimento, e que alguns médios empresariais chegárom a qualificar como umha gesta heroica.
Toda a atençom mediática que recebe hoje a cimeira celebrada em Madrid, que nom deixa de ser um ato de marketing, é um movimento estratégico mais do capitalismo para apropriar-se de um discurso que já é hegemónico. Deste jeito pretende dirigir o movimento ambientalista e reduzir o problema à mudança climática. A mudança climática é apenas a ponta do iceberg do colapso ambiental que se avizinha.
A humanidade está envolvida em umha crise ambiental que tem múltiplas dimensons, e nom se pode reduzir-se unicamente às emissons de gases de efeito estufa. Esta crise civilizatória abrange também o pico do petróleo, o esgotamento de recursos naturais, a contaminaçom das águas e dos solos, a soberania energética e alimentária dos povos ou as extinçons massivas da diversidade natural por expor só alguns aspectos. Nom tê-los em conta provoca que as medidas adotadas nom sejam as corretas. Como exemplo pode-se tomar a eletrificaçom do parque automobilístico mundial, onde umha medida para reduzir a emissom de gases de efeito estufa converteu-se rapidamente numha nova ameaça medio ambiental porquanto é necessário explorar novas minas de lítio. Com esta medida haverá um centro capitalisma mais limpo, livre de fumo de carro, mas a costa de umha maior degradaçom da periferia.
Além do mais, apropriando-se do discurso ecologista também se intenta silenciar e deixar fora de jogo o ecologismo popular, um movimento mais difícil de controlar que o atual movimento ecologista, mais mediático e que se orgulhece de carecer de ideologia.
Ecologista ou capitalista
Nom se pode ser ecologista e ao mesmo tempo defender o sistema económico atual, que precisa irremediavelmente crescer a qualquer preço, e por tanto consumir mais energia e mais matérias primas.
Segundo o capitalismo verde, as disjuntivas entre economia e natureza, entre crescimento económico e meio ambiente-natureza som solucionadas polo “crescimento sustentável”. Mas é apenas umha armadilha para realizar umha restruturaçom técnico-ecológica do capital, e estabelecer um novo modelo de progresso. É umha ilusom crer que a economia industrial renegará do seu próprio princípio e que a destruiçom da terra se poderá evitar através de umha expansom da lógica de mercado à ecologia, obrigando aos contaminadores a pagar o preço do CO2 que emitem à atmosfera. Como escrevia Kurz, “o lobo nom se faz vegetariano e o capitalismo nom se converte em umha associaçom para a protecçom da natureza e a filantropia”.