Quem estiver nestes dias na capital de Espanha, poderá ver muros e prédios decorados com as iconas mais conhecidas do capitalismo transnacional; a novidade, neste caso, é que junto os logótipos aparecem consignas ecologistas, em algum caso tiradas do movimento popular que, há cincuenta anos, começou a advertir sobre o beco sem saída do modelo produtivo dominante. Com o colapso climático às portas, as grandes empresas promovem novo ciclo de acumulaçom de capital baseado em reciclagem e energias renováveis. Movimentos sociais, porém, dim que tais medidas nom abordam o problema de raiz.
A organizaçom Ecologistas em Acçom, umha das entidades que promove um cúmio social polo clima paralelo ao dos poderes económico e político, está a aproveitar as suas redes sociais para desmascarar os interesses e as realidades empresariais que estám por trás dos blocos que se atribuem a responsabilidade de ‘transformar o mundo’.
Ainda que pareça brincadeira, umha das empresas que promociona o cúmio é CocaCola, historicamente denostada polas forças progressistas, por actuar como bandeira do imperialismo cultural e político. O ambientalismo recorda que, embora embarcada na campanha pola reciclagem, na realidade esta multinacional é a primeira poluinte com plásticos de todo o globo; a sua impopularidade, também devida aos planos reconversores que no Estado espanhol deixárom 800 pessoas na rua, está-se a combater com medidas de marketing como esta.
Mas quiçá o posto de destaque na propaganda do capitalismo verde é Endesa, companhia que nesta semana mercou, literalmente, as capas dos principais cabeçalhos de imprensa espanholas para apregoar as bondades do seu ‘novo capitalismo’. Endesa é, na realidade, a empresa que mais polui em todo o território espanhol, e na Galiza ameaça muitas famílias com a ruína polo anunciado encerramento da sua central térmica das Pontes. Trás estragar por décadas os bosques de parte da Europa causando chuva aceda, e trás emitir a atmosfera parte dos gases que causam o efeito estufa, agora a empresa está disposta a deixar sem alternativa produtiva a comarca que ocupara na década de 70.
Também Iberdrola ou Acciona estám presentes no reforço propagandístico do Cúmio de Madrid. Junto com outras companhias, como Fenosa ou Renovalia, estám alcançando grande notoriedade, quase sempre negativa, polos seus projectos de capitalismo verde na América Latina. Cientes do esgotamento definitivo do fossilismo, e empenhadas em disfarçar a sua procura de lucros como contribuiçom à salvaçom do mundo, tenhem batido frontalmente com centos de iniciativas populares e vizinhais americanas. Como nos recordava o jornal alternativo ‘El Salto’ em dias passados, um macro-projecto de capital espanhol está a ameaçar seriamente o Istmo de Tehuantepec, em Oaxaca, México. Iberdrola, Gas Natural, Fenosa, Acciona e Renovalia projectam 27 parques eólicos que maioritariamente estám blindados ao aproveitamento popular. Mais de duas terceiras partes destas infraestruturas operam baixo a figura do ‘auto-abastecimento’, isto é, fornecem directamente energia a grandes corporaçons. A oposiçom a projectos de tais dimensons adoita colocar cenários mui difíceis ao activismo. Sem ir mais longe, em 2013, um activista contrário ao complexo eólico Bii Hioxo, lançado por Gas Natural, caiu assassinado.
Umha cuidada preparaçom ideológica
O marketing empresarial e os novos macro-projectos do ‘new green deal’ tenhem umha vasta apoiatura ideológica, desenhada desde há mais dum lustro, e que na COP25 de Madrid volta evidenciar-se.
Há seis anos, a companhia imobiliária sueca Vasakronan desenhou a aliança empresarial ‘Vínculo Verde’, na que integrou companhias como Apple, Banco de Crédito Agrícola Francês ou Tesla Energy. O objectivo era estabelecer umha aliança empresarial para investir em projectos ‘climate friendly’ arredor do mundo.
Nom se trata dum projecto diferente ao enxergado polo Príncipe Carlos, futuro rei da Grande Bretanha, junto com o Banco de Inglaterra e sectores da City londinense. O milhonário británico Michael Bloomberg atendeu ao seu chamado fundando TCFD, aconselhando ‘investidores, emprestamistas e companhias de seguros sobre riscos relacionados com a mudança climática’. Assim, enquanto uns sectores desenham um modelo produtivo que faga habitável porçons do mundo ‘em verde’, sem assegurar que este for extensível a toda a populaçom, outros oferecem possibilidades de negócio para o risco que abre o quecimento global. Nom é nenhum segredo que o Banco da Inglaterra está a fazer um grande esforço em situar a City londinense como o centro das ‘Finanças Verdes’. O próprio ministro de Fazenda inglês, Philip Hammond publicou no verao passado o documento ‘Estratégia de Finanças Verdes: transformando as finanças para um futuro verde’.
Neste contexto político empresarial emergem novas figuras manufacturadas e decote propagandeadas pola mídia, caso da adolescente sueca Greta Thunberg, ou da menos conhecida na Europa Alexandria Ocasio-Cortez, política democrata estadounidense que virou vozeira do ‘new green deal’. Segundo as pesquisas levadas adiante polo activista canadiano Cory Morningstar, e publicadas na sua conta de twitter, Al Gore, dirigente do Grupo de Investimentos Geraçom, e um dos grandes profetas da reconversom ao verde, tem tecido umha mesta rede de marketing empresarial ao longo do mundo. Nela inclui-se a promoçom de Greta Thunberg, a moça que combate a mudança climática sem dizer nem palavra sobre o sistema que a provoca.
Como acertadamente sintetizou o colaborador do web de análise internacional ‘Global Research’, William Engdahl, ‘a agenda real é económica’. Na realidade, as ligaçons entre os sectores mais poderosos da política e das finanças a prol dumha estratégia de abandono das energias fósseis ‘em favor dumha vaga e inexplicada economia verde nom tem a ver com umha genuina preocupaçom por um ambiente saudável, senom que está ligada com o desenvolvimento negócios milhonários por parte de gigantes financeiros. (…) O quadro que emerge é a tentativa da reorganizaçom financeira do mundo utilizando o clima como pretexto para a gente do comum auto-sacrificar-se para ‘salvar o planeta’.
Movimento popular, nas ruas
No entanto, o movimento popular, composto por organizaçons do ecologismo nom institucional, e colectivos sociais virados à esquerda, ao feminismo e anticapitalismo, convocou em Madrid a dissidência para recordar que, de nom se produzir um questionamento radical do modo de produçom e consumo, a mudança climática de mais de 2 graus num século terá consequências catastróficas. A Cimeira Social, que também publicou o seu manifesto em galego-português, utiliza a palavra de orde ‘justiça climática’ para combinar distintas luitas emancipadoras com o pano de fundo das grandes dificuldades sociais e ambientais que se avizinham na vindoura década.
Na realidade, umha leitura polo miúdo das análises institucionais dá prova que além do papel molhado das declaraçons, e dos inconcretos programas de futuro, o poder nom tem interesse real em abordar este reto inédito. Apenas no quadro europeu, o informe SOER 2020, publicitado hoje e encarregado pola Comissom Europeia, diz que a fenda entre as intençons e a aplicaçom de políticas é evidente. ‘Nom se estám a lograr progressos abondo ante os desafios meio ambientais de escala e urgência sem precedentes.’ Os objectivos conservacionistas fixados para 2030 ‘nom serám possíveis sem umha viragem rápida no ritmo e orientaçom das propostas.’ Nesta viragem, o informe inclui o abandono deliberado ‘dos nossos hábitos de produçom e consumo.’