Em 2010, a Uniom Europeia lançou o projecto ‘Life+Urogallo’, envolvendo as quatro administraçons autonómicas relacionadas com a subespécie cantábrica por excelência, a nossa pita do monte. O objectivo era trazer de novo o galo do bosque aos montes onde se ausentara, e protegê-lo nas áreas de perigo. Em 2013, e com a Junta mais preocupada com aplicar os severos curtes sociais exigidos polo mundo das finanças, os gestores do PP desmarcárom-se do projecto. A pita, um dos emblemas por excelência da Galiza, esmoreceu polos atropelos humanos nos finais dos 90, e sobrevive apenas nas nas estremas fronteiriças das nossas terras irredentas. Há menos dum ano, um exemplar foi avistado em Candim, nos Ancares bercianos. Ambientalismo e comunidade científica luitam por trazê-la de volta, ante a surdeira oficial.
Até há apenas vintecinco anos, nas serras orientais do país sobrevivia umha relíquia da Idade do Gelo, umha populaçom periférica e isolada que nos lembrava outros tempos da Europa, quando um manto de gelo cobria quase todo o território. A comunidade científica baptizou-na como Tetrao urogallus cantabricus. Foi descrita polo naturalista Linneo em 1758 e incluiu-se na família Phasianidae. O povo galego pujo-lhe distintos nomes: pita do monte, pita da fraga, galo do bosque, galo do monte. No conhecido livro de José María Castroviejo e Álvaro Cunqueiro, ‘Viaje por los montes y chimeneas de Galicia’, recolhe-se também o termo ‘pita montesa’, comum nos Ancares da década de 70.
A espécie extende-se desde Escandinávia à Península Ibérica, onde vive um tipo de menor tamanho, que se adaptou a um clima mais temperado que os seus devanceiros. Podem-se relacionar os hábitos vitais de alimentares da subespécie cantábrica com aqueles dos seus parentes dos Alpes ou o Jura.
Trata-se dum ave pouco migradora, que escolheu como hábitat favorável os bosques de caducifólias ou coníferas por cima dos 800 metros de altura, sentido-se à vontade até os 1400 metros. Apresenta um dismorfismo sexual muito claro. Os machos podem superar o metro de longitude, enquanto as fémeas alcançam apenas os 70 centímetros. Os primeiros som conhecidos pola sua plumagem preto-azulada, com vetas marrons, e por um forte peteiro, do que saem ‘barbas’; por cima dos olhos, sobressaem manchas vermelhas. As fémeas, em troca tenhem cor parda e clara, e um peteiro mais pequeno, sempre preto.
É, sem lugar a dúvidas, a árvore do bosque. Embora pode comer lagartos, serpes e insectos, precisa dos frutos arvóreos, nomeadamente dos acivros. Nos meses primaverais e estivais tira muito partido da folhagem de fragas e devesas. Além disso, aproveita as polas horizontais do arvorado para dormir, relativamente a salvo dos seus grandes depredadores. Gosta do chao, mas voa com habilidade, a média altura, nos bosques mais mestos. A sua reproduçom é lenta, desde que os ovos das ninhadas som presa apetecida por javarins ou azores.
Galiza: desfeita imparável
Em plena posguerra, a pita montesa gozava de boa saúde no Maciço de Trevinca, em Sam Mamede, no Invernadoiro, e obviamente nos Ancares, onde virou emblema. Desde a década de 60, o seu debalar foi acelerado. Idêntica decadência sofrêrom os seus parentes de Astúries ou Cantábria mas, como nos lembram os biólogos, as populaçons periféricas dumha espécie, de maneira ainda mais intensa quando estám isoladas, padecem com dureza extrema os ataques do ‘desarrolhismo’.
Já em pleno franquismo, um ambientalista tolerado polo Regime como Félix Rodríguez de la Fuente advertia dos efeitos nocivos do novo modelo produtivo sobre as populaçons de galo da fraga: a moda de importaçom de talar acivros para o Natal danava a sua fonte de alimentaçom; a caça com pura finalidade desportiva, a ánsia por consecuçom de trofeus, baniu muitos exemplares, sobretodo machos (eram considerados umha peça de caça maior). O resto do esquema produtivista profundizou a desfeita: plantaçons de monocultura arvórea, abertura de pistas de esquis, proliferaçom de pistas florestais, linhas de alta tensom…acurralárom mais e mais a pita de monte, que por riba, nos últimos trinta anos, tivo que padecer as temperaturas mais altas do quecimento global.
Que protecçom?
O ambientalismo mais institucional recorre amiúde à enumeraçom dos protocolos legais que estabelecem a protecçom de espécies, e desse modo pretende certificar o avanço da sensibilidade ecologista. Na realidade, grande parte do articulado oficial é puro papel molhado, e só em escassas ocasions dá resultados concluintes. Desde 1985, entra na Galiza no catálogo de aves protegidas; no ámbito internacional, a sua protecçom estava consagrada polo Convénio de Berna e a Directiva Europeia de Aves. Nada se conseguiu: na década de 80 conservavam-se por volta de 30 machos nos Ancares, que fórom massacrados de maneira imisericorde polos caçadores. Aproveitando covardemente a época de apareamento, que a pita do monte passa no chao, proferindo cantos muito chamativos, dúzias de exemplares morrêrom baleados. Os caçadores juntavam-se nos chamados ‘cantadeiros’, por cima dos 1200 metros de altitude. Trata-se de zonas claras, onde os machos saem a cortejar fémeas na alvorada, onde as pitas eram presa fácil.
Dependendo da fonte, estima-se que a pita montesa desapareceu do território da CAG entre 1995 e 2003. A Junta nom reconheceu de maneira demasiado explícita o seu fim até que foi evidente; na trajectória dos sucessivos conselheiros de Meio Ambiente do PP pesavam as palavras do seu fundador, Manuel Fraga. Numha entrevista na revista Trofeo em 1972, manifestava que ‘o tiro mais prestigioso, o que justifica todos os deslocamentos, é o que vai destinado à pita do monte’. Um exemplar disecado, executado polo líder fascista, conserva-se ainda hoje em Campa de Fieiró.
O futuro
O exemplar de fémea avistado em Candim no passado maio leva-nos a ser optimistas. Para Romero e Munilla, biólogos preocupados com a defesa e recuperaçom da pita em toda a cornixa cantábrica, a soluçom nom seria difícil. Segundo manifestárom em 2017 ao web GaliciaCiencia, os Ancares seriam umha boa reserva genética da espécie, e o fenómeno da despopulaçom, daninho socialmente, poderia porém animar a volta do galo das fragas. Um corredor ecológico cara o Berzo norte, onde sobrevivem com maior fortaleza, poderia devolver a pita a zonas mais occidentais.